A Fifa reagiu com inaudito rigor ao lance mais bizarro desta Copa do Mundo até aqui: a mordida do atacante uruguaio Luis Suárez no ombro do italiano Giorgio Chiellini.
Pela dentada, o jogador foi suspenso dos próximos nove jogos de sua seleção – o que o exclui deste Mundial – e, além disso, terá de ficar quatro meses afastado de qualquer atividade ligada ao futebol.
Trata-se da mais dura punição já aplicada pela Fifa a atletas envolvidos em agressões durante Copas. Em outro front, que envolve falta de fair play nas atividades burocráticas, a entidade hesita em reagir com a mesma firmeza.
Desde que a organização anunciou que o Qatar sediaria o Mundial de 2022, acumulam-se suspeitas e denúncias sobre a falta de lisura dessa escolha.
Recentemente, reportagem do jornal britânico The Sunday Times afirmou que um ex-dirigente de futebol do Qatar pagou o equivalente a R$ 11,1 milhões em propinas para assegurar o sucesso da candidatura do país.
Graves denúncias
A persistente névoa de corrupção não é a única mancha na imagem do Qatar como anfitrião do evento. Também no campo dos direitos humanos verificam-se condutas inaceitáveis no pequeno emirado do Oriente Médio.
Entidades internacionais já contabilizam, nas obras de infraestrutura e na construção de estádios, mais de 1.200 mortes de trabalhadores, quase todos imigrantes em condições precárias – muitas vezes em situação análoga à escravidão.
Para além desses sérios problemas, o próprio presidente da Fifa, Joseph Blatter, avaliou que foi um erro programar a disputa da Copa para o verão local, quando as temperaturas se aproximam de desumanos 50 graus Celsius.
Tudo isso colabora para que dirigentes e patrocinadores com os quais a Fifa mantém polpudos contratos aumentem a pressão contra a realização do Mundial no Qatar.
Explica-se, assim, por que Blatter tem manifestado, em conversas reservadas, sua intenção de mudar a sede da Copa de 2022 tão logo receba o relatório do comitê de ética da entidade sobre o suposto suborno ligado à candidatura do Qatar, como revelou esta Folha.
A notícia dos bastidores contrasta com o entusiasmo no proscênio, onde as seleções disputam partidas de alto nível técnico. Jogos emocionantes e com elevada média de gols são as principais marcas da recém-encerrada primeira fase da Copa no Brasil.
Se a satisfação proporcionada pelo torneio basta para deixar em segundo plano os pequenos erros de organização registrados no país, ela é insuficiente para ocultar as graves denúncias que envolvem a Fifa e o Mundial de 2022.