Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Internet, entre a dádiva e a opressão

“A internet é uma dádiva de Deus”, afirmou a jornalista e autora Auma Obama, na terça-feira (02/07), último dia do Global Media Forum (GMF), promovido pela Deutsche Welle em Bonn. E ressalvou imediatamente: “Mas precisamos utilizá-la.” Ela lembrou que grande parte da humanidade está excluída da comunicação digital, quando, justamente na política de desenvolvimento, a comunicação de igual para igual é extremamente importante.

“Não nos dê peixe, nem nos ensine a pescar. Primeiro pergunte se nós comemos peixe”, instou a meia-irmã do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. A jornalista americana Amy Goodman também acusou os meios de comunicação de não assumirem o papel que deveriam, perante os numerosos conflitos e crises no mundo.

“A mídia poderia ser a força mais potente para a paz. Ao invés disso, ela é tantas vezes utilizada como arma na guerra.” E reforçou: durante o governo Obama, foram perseguidos mais whistleblowersnos Estados Unidos do que em toda a história do país.

A jornalista britânica Sarah Harrison, que trabalhou com o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, e com o ex-analista da Agência de Segurança Nacional (NSA) americana Eduard Snowden também condenou severamente os governos. Os EUA e seus aliados do Ocidente possuem “uma gigantesca rede de serviços secretos, diplomacia e militares, que procura saber de tudo, dominar e decidir sobre tudo. Ela invade todas as áreas, sem ter que responder por isso.”

A jornalista participou da divulgação de inúmeros vídeos secretos militares do Afeganistão e do Iraque, nos quais é possível ver pilotos de helicópteros americanos durante voos, atirando e matando civis. “A única reação do governo americano foi: ‘Assim é a guerra’.” Em contrapartida, muitos políticos exigiram que o WikiLeaks fosse classificado como organização terrorista, criticou Harrison.

Temas complexos, dados abundantes

Por sua vez, o ministro do Exterior da Alemanha, Frank Walter Steinmeier, censurou os jornalistas que simplificam excessivamente a realidade para obter mais cliques.

“Temos um mundo que vai se tornando cada vez mais complexo, conflitos cada vez mais difíceis de avaliar. E a tendência do outro lado, principalmente nas mídias online, vai justo na direção contrária: para um excesso de redução, de polarização, com a necessidade crescente de simplesmente compartimentar em preto e branco este mundo complexo. E isso simplesmente não funciona.”

Em contrapartida, o jornalista, docente, autor e blogueiro Jeff Jarvis alertou contra o perigo de restringir excessivamente a internet. “A pior coisa que podemos fazer é tentar ‘tirar o gás’ das possibilidades que a rede nos oferece, só porque temos medo do desconhecido. Mas o desconhecido é o local onde a inovação acontece. E isso nós precisamos voltar a fortalecer”, comentou em entrevista à DW.

Jarvis discutiu acirradamente com o presidente da empresa de comunicação Axel Springer, Mathias Döpfner, sobre a transformação dinâmica do papel da mídia. O jornalista saúda a vasta coleção de dados do Google. “Eu fico feliz porque o Google sabe onde eu moro e trabalho. Pois assim ele pode me passar informações que são relevantes para mim. Meu jornal não pode.”

Já Döpfner expressou verdadeiro temor do gigante devorador de dados. No futuro, ele crê, uma das principais questões políticas será: a quem esses dados pertencem. “O Google não é, absolutamente, de graça. Nós pagamos com os nossos dados”, argumentou o executivo.

O próximo Global Media Forum acontece entre 22 e 24 de junho de 2015. O diretor-geral da Deutsche Welle, Peter Limbourg, já revelou o tema da próxima edição: Mídia e política externa na era digital. [Edição Augusto Valente]

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Martin Muno, da Deutsche Welle