Pesquisa recente feita pelo Facebook com seus usuários causou controvérsia.
O site determinou que posts negativos geram mais posts negativos, e o mesmo ocorre com posts positivos. Uma onda de fúria surgiu contra a pesquisa. O que gerou o primeiro grande debate público sobre a chamada “ciência dos dados”. E isso é positivo.
A ciência dos dados (“big data”) veio para ficar. Ela é uma das atividades de pesquisa mais poderosas dos nossos tempos. Hoje, acontece mais fora da academia do que dentro. Afinal, os grandes dados estão em empresas como o próprio Facebook.
A questão é que o “big data” é também um rompimento das fronteiras tradicionais da academia. No Brasil, as normas éticas que tratam da realização de pesquisas com seres humanos estão na Resolução 466 do Conselho Nacional de Saúde (íntegra embit.ly/resolu466). Estabelecem princípios como consentimento informado e a “beneficência” (a pesquisa deve ser benéfica, nunca maléfica).
No entanto, são normas que não têm força de lei. Um projeto no Senado tentou transformá-las em lei, mas após várias audiências públicas, recebeu pareceres desfavoráveis. A razão é que isso poderia burocratizar a pesquisa no país e nos deixar para trás em tema fundamental.
Assim, em vez de só demonizar o Facebook, esse caso pode ajudar a pensar novas instituições que tratem da complexidade ética do “big data”. O Facebook poderia criar um Conselho de Ética, formado por usuários, acadêmicos e representantes da empresa. Seria um primeiro passo para fazer deste limão uma limonada. E é claro, evitar tantos posts negativos.
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Ronaldo Lemos é colunista da Folha de S.Paulo; @lemos_ronaldo