O jornalista Andy Coulson, editor-chefe do tabloide News of the World de 2003 a 2007, foi sentenciado na sexta-feira [4/7] a 18 meses de prisão pela participação no escândalo dos grampos telefônicos. Após um julgamento de oito meses, Coulson, que também atuou como diretor de comunicação do primeiro-ministro David Cameron, foi condenado por conspirar para interceptar mensagens telefônicas em busca de furos jornalísticos.
A investigação do caso, que veio à tona em 2011, concluiu que, em pelo menos 1.900 ocasiões, celebridades, políticos e cidadãos desconhecidos tiveram seus celulares hackeados por um investigador particular que prestava serviços para o jornal. O escândalo levou ao fechamento do tabloide, que pertencia ao grupo do magnata Rupert Murdoch, e provocou a criação de um inquérito para se avaliar os padrões éticos e de qualidade da imprensa britânica.
Outros ex-funcionários do News of the World que, no início do julgamento, haviam se declarado culpados também receberam suas sentenças: o ex-editor Greg Miskiw, que em 2001 contratou o detetive particular Glenn Mulcaire para trabalhar para o jornal, foi condenado a seis meses de prisão. O ex-chefe de reportagem Neville Thurlbeck, que conspirou para grampear o telefone do então Ministro do Interior David Blunkett, também foi sentenciado a seis meses. Já o ex-editor James Weatherup, que admitiu ter solicitado os serviços de Mulcaire para grampear telefones, recebeu uma sentença suspensa de quatro meses. Cinco pessoas que, como Coulson, negavam as acusações, foram inocentadas no julgamento – entre elas está a ex-executiva Rebekah Brooks, que editou o tabloide de 2000 a 2003, além de seu marido e sua secretária, acusados de ocultar evidências da polícia durante a investigação dos grampos.
Julgamento por suborno
Além desta condenação, Coulson enfrentará – junto com o ex-editor Clive Goodman –um novo julgamento depois que o júri não atingiu um veredicto sobre a acusação de pagamento ilegal a policiais em troca de duas listas telefônicas de funcionários da família real britânica. Coulson deixou o jornal em 2007 depois que Goodman, que cobria a família real, foi condenado a quatro meses de prisão por grampos ilegais de assessores dos príncipes Charles, William e Harry. Na ocasião, o editor-chefe afirmou não saber dos grampos, mas entregou o cargo para se responsabilizar pelo erro de seu subordinado.
Apesar da condenação de Goodman em 2007 – junto com o detetive particular Glenn Mulcaire –, o verdadeiro escândalo envolvendo a invasão de caixas postais só ocorreu quatro anos depois, com a revelação de que, em 2002, o News of the World havia grampeado o telefone de Milly Dowler, uma menina de 13 anos desaparecida. O tabloide buscava seu paradeiro, pois havia a desconfiança de que ela poderia ter fugido de casa. A adolescente, no entanto, foi encontrada morta meses depois.
“Ninguém está acima da lei”
O juiz John Saunders afirmou ao tribunal que, ainda que não haja evidências de que Coulson tenha iniciado a prática dos grampos, as provas apresentadas durante o julgamento deixavam claro que o ex-editor acreditava que ela era necessária para manter a vantagem competitiva do News of the World. Segundo Saunders, a demora do jornal para contar à polícia sobre a invasão à caixa de mensagens da adolescente desaparecida em 2002 sugeria que a motivação era “receber o crédito por encontrá-la” e vender o máximo possível de exemplares. Para ele, essa demora é “imperdoável”.
Ao informar a sentença, o juiz afirmou ainda que Coulson sabia dos grampos e encorajou a prática, quando deveria tê-la interrompido. Diante do argumento do advogado do ex-editor, que alegou que, na ocasião dos grampos, ninguém na indústria jornalística tinha consciência de que a invasão a mensagens em telefones alheios era ilegal, Saunders declarou: “Eu não concordo que a ignorância da lei sirva de consolo. As leis de proteção valem tanto para os ricos, famosos e poderosos como para todos nós”. O primeiro-ministro David Cameron, criticado pela oposição por conta de sua ligação com Coulson, declarou que a sentença recebida por seu ex-assessor mostra que “ninguém está acima da lei”.
O detetive Glenn Mulcaire, que já havia sido preso em 2007 e, no ano passado, declarou-se culpado da acusação de ter hackeado o telefone da menina Milly Dowler, recebeu sentença suspensa de seis meses. O juiz rejeitou o argumento dos advogados de Mulcaire de que ele achou que ajudaria a polícia ao grampear o telefone da adolescente, mas permitiu que ele fosse liberado porque seria “errado” enviá-lo novamente para a cadeia pelo mesmo motivo da condenação anterior. Segundo Saunders, o detetive não é culpado pelas autoridades não terem conduzido uma investigação mais ampla e descoberto a total extensão dos grampos à época de sua prisão.