Aprendi por aí que não se deve chutar cachorro atropelado. Não vou chutar a seleção, Felipão e outros, apenas lamentar que não deram certo e alguma coisa precisa ser feita para não repetirmos o vexame. Oscar Wilde, quando foi preso por sodomia, escreveu alguns de seus melhores poemas, não apenas a célebre Balada do Cárcere de Reading, mas o De profundis, apoiado no salmo 120 incluído entre as preces penitenciais de todos os pecadores, incluindo a Comissão Técnica.
No mesmo salmo, há a pergunta crucial: “Se observares nossas iniquidades, Senhor, quem se salvará?” Nem aquele facínora que quebrou a terceira vértebra do Neymar, nem mesmo eu, que torci por Fred só porque ele joga no Fluminense e foi o artilheiro da Copa das Confederações.
Como acontece com todos os otimistas, estávamos mal informados. Acompanhei os jogos da Itália, França e Alemanha, e sei que o Brasil está defasado não só na técnica, mas, também, na presença de craques. Uma semana antes da Copa, Pelé disse em entrevista que faltavam craques na seleção. Não excetuou nem mesmo Neymar. O pessoal da mídia, interessado em fazer média com as “fontes”, botou lenha no ufanismo generalizado que prevaleceu até os 7 a 1 da Alemanha. Houve um entendido que, na TV, chegou a lembrar o holocausto dos nazistas contra os judeus. Não houve 6 milhões de vítimas, apenas 7 gols.
Voltando a Felipão e Fred, foram transformados não em cachorros atropelados, mas em bodes expiatórios. Ano passado, Fred foi artilheiro porque recebia excelentes passes de Neymar. Cumprindo ordens do Felipão, ele não saía da área esperando passes que não vieram. No primeiro tempo do holocausto, pegava apenas sobras, mesmo assim, poucas.
Volto ao salmo 120. “Se observares nossas iniquidades, Senhor, quem se salvará?”
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Carlos Heitor Cony é colunista da Folha de S.Paulo