Você, leitor, considera relevante conhecer a declaração de bens dos candidatos? Se a resposta for sim, sugiro que vá direto à fonte oficial, o site do Tribunal Superior Eleitoral, onde todos os que vão disputar cargos eletivos são obrigados a registrar o que possuem.
Por motivos óbvios, não espere que a declaração renda (sem trocadilho) algo muito confiável: quem amealhou patrimônio de forma irregular ou ilegal não costuma registrar a gatunagem na Receita Federal nem na Justiça Eleitoral.
A vantagem é que o TSE traz, além do total, a lista integral dos bens declarados e seus valores, e permite acessar informações de eleições anteriores. Ainda que duvidoso, o pacote é igual para todos.
O mesmo não se pode dizer das reportagens sobre o assunto. Desde 5 de julho, quando começou oficialmente a campanha eleitoral, "Poder" produziu três matérias sobre a variação patrimonial de candidatos. Cada uma adotou um critério.
No caso de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), pegou-se a soma total dos bens que ambos declararam em 2014 e subtraiu-se o valor de 2010, corrigido por um índice de 31%. A correção foi aplicada sobre investimentos e imóveis.
Na quarta (9), quando o foco foram os candidatos a governos estaduais, não houve correção do valor anterior, mas foi dado o contexto de que a inflação acumulada desde 2010 era de 29%, segundo o IPCA, aferido pelo IBGE.
Em que pese a diferença nos percentuais, provavelmente resultante do uso de períodos diferentes, havia um critério mínimo, que foi ignorado no caso de Geraldo Alckmin. Embora o tucano tenha sido candidato em 2010, seu cálculo foi feito sobre o período de 2002-2014. Não houve correção do valor inicial nem informação sobre a inflação em 12 anos _116% pelo IPCA.
Em 2002, Alckmin listou bens no valor de R$ 554.458,48. Se corrigida, como no caso de Dilma/Aécio, essa quantia chegaria a R$ 1.197.630 –superior ao valor declarado neste ano (R$ 1.069,498,27). Ou seja, ele teria empobrecido, tese que o PSDB defendeu em carta no "Painel do Leitor". Improvável, já que o tucano manteve todos os bens anteriores e aumentou investimentos.
Pelos informes apresentados à Justiça Eleitoral, a variação patrimonial declarada de Alckmin e Dilma não foge ao padrão de classe média alta. (A de Aécio, que recebeu herança do pai, cresceu mais.)
Uma reportagem bem-feita sobre o tema teria de se debruçar em item por item e avaliar a variação de cada um segundo suas especificidades, demandando informações que os dados do TSE não oferecem.
Sem esse cuidado, afirmações como a de que Dilma ficou mais rica ou Geraldo Alckmin teve o patrimônio dobrado só têm utilidade como instrumento de desinformação na campanha eleitoral. Melhor não dar.
O FIM DO 'TEC'
As três décadas de vida do caderno de tecnologia acabam nesta segunda (14). A Secretaria de Redação anunciou na sexta (11) que, a partir de 21 de julho, "Tec" deixará de existir como suplemento.
O conteúdo mais alentado e reflexivo, que circulava às segundas, será acomodado em duas páginas encartadas em "Mercado", que já abrigava a cobertura factual diária do setor de tecnologia.
À exceção de Ronaldo Lemos, que segue no impresso, os demais colunistas e a seção de quadrinhos serão publicados só no site de "Tec". Os cadernos especiais temáticos serão produzidos quando se revelarem comercialmente viáveis.
A decisão, segundo a Secretaria de Redação, se deve ao baixo retorno publicitário. Os anunciantes foram minguando nos últimos tempos e praticamente sumiram –na contramão do noticiário, da audiência digital e da importância econômica do setor de tecnologia, que dispararam em curva oposta.
No site, "Tec" é o suplemento com maior volume de leitores médios por mês e tem pico de audiência de editoria diária às segundas. Para comparação, é a metade da média de leitores de "Mundo", que produz quase três vezes mais.
Espero que sua mudança para o condomínio de "Mercado", onde também não falta assunto, não asfixie a cobertura no impresso, deixando órfãos os leitores do papel.
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Vera Guimarães Martinsé ombudsman daFolha de S. Paulo