Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Os sete gols e a branca de neve Oscar

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete. Calma, eu não estou contando o número dos sete anões, nem escrevendo meu número favorito. Estes foram os gols da Alemanha – que fase! E a pergunta que não quer calar: cadê o Fred? Sim, muitos de nós estamos nos questionando sobre isso neste exato momento. Tenho certeza que quando leu o um até o sete pensou nos gols. Mas vamos ao que interessa: o pavê não foi pra ver, foi pra provar – e que gosto ruim! O Brasil teve sua pior atuação, todos sabem disso. E daí? Do que adianta torcer pelo Brasil, vestir a camisa e chorar e chorar e chorar por um jogo? Que patriotismo mais falso é esse? Tão falso quanto nota de três reais.

Vejo os brasileiros de quatro em quatro anos vestindo a camisa da seleção e batendo no peito, dizendo: #somostodosumsó. Será? Será mesmo que somos todos um só? Creio eu que não! Muitos dos que estão agora no Brasil voltarão para suas mansões e casas riquíssimas na Europa e daqui a um mês postarão coisas do tipo nas redes sociais: “Brasil, o país da violência!” Quanta baboseira infiltrada num só galão!

As pessoas estão ofendendo os jogadores sem dó nem piedade, há mais de milhões de twittes espalhados pelas redes sociais falando sobre o jogo. “A falta do Neymar”, “O Fred Cone”, “Felipão que não muda”. Cadê aquelas pessoas que “gritavam” e “lutavam” por melhorias no Brasil? Que fizeram algazarra pelo movimento dos R$ 0,20 centavos e que diziam: “Não vai ter Copa”? Sim, aqui as coisas são tão passageiras quanto ter o nosso salário um dia após tê-lo recebido. É degradante ver todo esse alvoroço por causa de um jogo.

O dinheiro que foi depositado para a Fifa

Muitos agora começaram a dizer: “Viu? Não deveria ter feito Copa, precisamos de hospitais, escolas e creches.” Isto tudo só porque o Brasil perdeu. E se o Brasil tivesse ganhado? Será que haveria estas reclamações? Vamos para a hipótese, bem hipotética, de que o Brasil venceria a Alemanha e fosse campeão do mundo. O que aconteceria logo depois do dia 13? Nada! Todos estariam felizes e contentes pulando pela rua, feito gazelas no cio, colocando som alto na praça e se embebedando até altas horas. O que falta: é falta de esportividade? Ou falta de caráter no povo brasileiro? Ontem lojas foram saqueadas, houve brigas e a bandeira nacional foi queimada.

Mas quem se deu bem mesmo foi a Casas Bahia! Que profeta é este? Sabia que o Brasil perderia e aí fez a grande promoção: se o Brasil for campeão, você leva por apenas mais um real uma televisão. Não foram só as Casas Bahia, mas muitas outras. Algumas se deram mal porque a promoção condizia com os números de gols da Alemanha; ontem teve loja quase fechando no Brasil inteiro.

E estas são as medidas feitas por nós brasileiros. Damos um extremo valor ao futebol e nos esquecemos de outros aspectos relevantes da sociedade; não é que não podemos dar valor para o futebol, mas que o valor não seja mais alto de que os princípios do bem-estar geral da população. Que nós um dia pudéssemos entupir as redes sociais, as ruas e até queimar a bandeira do Brasil em frente ao Planalto por melhorias contínuas em nosso país. Não basta ficar uma semana, duas ou um mês. É vigilância total. Não podemos nos perder nenhum segundo porque senão a coisa piora ainda mais.

Agora chega de escrever, temos que todos nós voltar a trabalhar para conquistar o dinheiro que foi depositado para a Fifa na Copa do Mundo. E pagar com nossos salários mínimos os bilhões investidos numa coisa chamada ignorância.

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Pedro Henrique Lorena é professor de inglês