Os alemães são vencedores em muitos setores e agora mostram sua contundente superioridade também nos gramados. Com resultados econômicos invejáveis, estabilidade política e um modelo social que funciona, a força da Alemanha está na simplicidade de seus atos. Os tempos de nacionalismo que levaram o nazismo a causar repúdio mundial claramente serviram para que esta geração aprendesse com a história. O realismo com que resolvem seus problemas é uma das armas do triunfo da sociedade moderna e multicultural em que se transformou.
O trabalho realizado no futebol evidencia a gestão vitoriosa do país. Uma organização que nos últimos dez anos fez o exercício de identificar os seus erros, investir a partir da base e fazer o que os italianos chamam de sistema. Quando uma potência desse tamanho se dedica à vitória parece não existir muro capaz de frear um verdadeiro time. A competência com que se aplicaram e a preocupação em deixar as melhores impressões na terra que os hospedou nos últimos 40 dias foram premiadas.
Não é demais recordar que, a seis meses da competição, a seleção alemã comprou um terreno em Santa Cruz Cabrália, próximo a Porto Seguro, no estado da Bahia, e construiu, com 250 operários locais, um hotel exclusivo para seus atletas. Construiu também um centro de saúde, um campo de futebol e uma estrada para interligar o centro de treinamento. Depois doou uma ambulância e todo o complexo para que seja transformado em escola com um programa em tempo integral. Quando chegaram, os jogadores não se isolaram, mas sim, interagiram com a cidade, mostraram humildade para o mundo ao dançar com os índios pataxós e ao vestir a camisa do clube Bahia. Com a empresa Adidas, criaram uma estratégia de marketing colocando em campo uma homenagem ao time mais popular do Brasil e, quando venceram a seleção canarinho por implacáveis 7×1, ainda se desculparam.
A estratégia foi pensada e executada com mérito irretocável. A Alemanha deu uma grande lição de gestão ao mundo. E, como se não bastasse, com cautela para não mostrar qualquer arrogância em nenhum momento, pois parece ter absorvido as palavras de um de seus intelectuais, o escritor Hans Magnus Enzensberger, que, diante dos que falam mal de seu país, afirma que “também o sucesso pode ser inconveniente porque não satisfaz aos outros”.
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Pietro Petraglia é presidente da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria