Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Daniela Nogueira

Fortaleza sediou, na semana passada, a VI Cúpula dos Brics. O POVO investiu na cobertura do evento, com um projeto gráfico específico, além de conteúdos diversos acerca da reunião e desdobramentos. Na quarta (16/7), a manchete do jornal gerou crítica de alguns membros do Conselho de Leitores. “Brics. Brasil fica sem a sede e a presidência do novo banco” era o texto na primeira página. Na editoria de Economia, a manchete era “Banco. Sede com a China e presidência com a Índia” (página 19).

Alguns conselheiros criticaram o jornal por imprimir uma suposta derrota do Governo brasileiro, ao valorizar o local da sede e a presidência do Banco, em detrimento da criação da instituição. A parceria que surge daí seria um aspecto bem mais relevante para o futuro econômico das nações. Diante das queixas, o também conselheiro Jamil Marques questionou se “tais expectativas (para a escolha do local e da presidência do Banco) não foram geradas a partir do desdobramento das negociações” e listou alguns exemplos de manchetes da mídia.

De fato, jornais e sites anunciaram, dias antes, a probabilidade de o Brasil ficar com o cargo e a sede. Foi o caso do portal Terra (“Brasil quer ter a primeira presidência do banco do Brics”), do O Globo (“Brasil pode assumir a presidência do banco do Brics”) e do Valor Econômico (“Brasil busca presidência do banco dos Brics, que será criado durante reunião de cúpula”).

Editor-executivo do Núcleo de Negócios, Jocélio Leal comenta a repercussão: “Discordo do julgamento médio de que houve erro na angulação de nossa manchete. A definição da sede do Banco é um fato relevante, sobretudo, por conta da expectativa do Brasil. Isto bancou nosso foco. O POVO é feito de decisões editoriais refinadas, difíceis. Por vezes, erramos. Não foi o caso. Buscamos sintonia com os interesses do País. Isto nem sempre vai ao encontro dos interesses dos Governos”.

Em suma: houve uma expectativa (se gerada pelo Governo, mas propalada pela imprensa) de a sede e a presidência do Banco pertencerem ao Brasil. Essa expectativa fora frustrada, como mostram os fatos. Assim, o jornal seguiu a linha dos acontecimentos, enfatizando o fracasso nas negociações. Na matéria interna, aborda-se a decepção e minimiza-se a escolha. Entretanto, não esclarecemos a ansiedade inicial gerada pela indicação do Brasil às funções, o que gerou o estranhamento dos leitores. A análise, tão presente em outros textos, era essencial neste caso.

Lições do ENEM

O jornal concorrente Diário do Nordeste lançou, na segunda-feira passada, uma série de fascículos de preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Intitulada “Diário do Nordeste no Enem”, a edição faz parte de uma parceria com uma escola da rede privada e se constitui em um material de apoio aos estudos para os candidatos ao Exame. No ano passado, o Diário do Nordeste publicou material similar. O POVO não o fez em 2013 e, até agora, não havia sinalizado publicamente de que terá um projeto do tipo.

Sabe-se que uma iniciativa como essa não faz parte da linha editorial do veículo. Está dentro da esfera comercial, muitas vezes. No entanto, o estímulo à educação e a valorização do binômio jornalismo-educação sempre foram bandeiras levantadas pelo O POVO.

Há um projeto engatilhado, anuncia Marcos Tardin, diretor-geral da Fundação Demócrito Rocha, responsável pela iniciativa. Além do conteúdo específico para as provas do Enem, segundo ele, contemplará temas voltados à cidadania e à solidariedade, por exemplo. A previsão é de que comece a circular em agosto e será distribuído também aos alunos da rede pública de ensino. “Vamos lançar um projeto grande, o Enem.com. Tem um conteúdo bem vasto e independe da data da prova. O aluno pode continuar usando depois da prova, porque aborda questões de cidadania, de formação cidadã, que não tem ligação direta com o Enem. Poderia ter sido antes, sim, mas não foi possível”, afirmou Marcos Tardin.

As provas do Enem serão realizadas nos dias 8 e 9 de novembro. Até mês que vem, pelo menos, o candidato leitor deste jornal precisará recorrer ao veículo concorrente se quiser mais material de apoio. Porque, depois de um ano sem editar a publicação voltada para o teste, O POVO começou a executar o projeto muito tardiamente.

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Daniela Nogueira é ombudsman do jornalO Povo