Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Vale do Silício (não) é aqui

Estamos prestes a adentrar o período eleitoral e uma boa leitura para os nossos presidenciáveis é a pesquisa “Medindo a Sociedade da Informação”, publicada pela ITU (União Internacional de Telecomunicações), órgão ligado à ONU, em parceria com o Georgiatech (Instituto de Tecnologia da Geórgia), nos Estados Unidos. O texto é um verdadeiro antídoto para quem está cansado de ler notícias negativas sobre o país. Ao menos com relação a juventude e tecnologia, o Brasil está batendo uma boa bola.

A pesquisa mediu a quantidade de “nativos digitais” espalhados pelo mundo, definidos como jovens entre 15 e 24 anos que acessam a internet há pelo menos cinco anos. Eles representam um dos recursos mais importantes do planeta. Recurso escasso e mal distribuído.

Para se ter ideia, existem apenas 363 milhões de nativos digitais no mundo hoje (5% da população mundial). Em números absolutos, o Brasil ocupa a quarta posição global (atrás de EUA, China e Índia). São 22 milhões deles no país.

Custo zero

Nas palavras do professor da Georgiatech Michael Best, diretor do Laboratório de Tecnologias e Desenvolvimento Internacional e coautor da pesquisa: “O futuro dos países será definido pelos jovens de hoje e pela tecnologia”. Países com grande número de nativos digitais têm vantagens competitivas.

Com isso, impressiona como o tema da juventude e da tecnologia não esteja sendo discutido como um dos elementos centrais do debate eleitoral. O país tem uma responsabilidade histórica de aproveitar essa janela de oportunidade. Como incentivar esses jovens? Os sintomas positivos do grande número de jovens conectados podem ser vistos em toda parte. Apesar do baixo crescimento econômico, há uma onda de empreendedorismo tecnológico visível nas capitais e no interior.

É até engraçado ver na internet a disputa entre várias regiões para ver que é o “verdadeiro” Vale do Silício brasileiro. Os candidatos são muitos e a briga é boa: Campinas, Araraquara e São Carlos –todas em São Paulo–, o Porto Digital no Recife, o Vale do Sapucaí e o San Pedro Valley em Belo Horizonte, Florianópolis, Campina Grande e por aí vai.

O duro é ver como muitos desses jovens que têm o Vale do Silício na cabeça se decepcionam quando se deparam com o ambiente inóspito ao empreendedorismo. No Brasil, o tempo médio para se abrir uma empresa é de 119 dias (o dado é do Banco Mundial). Já o tempo para fechar uma empresa, nem o Banco Mundial ousou medir. E esse é outro grande problema. O custo de falhar também precisa ser baixo.

No Chile é possível abrir uma empresa em um dia, pela internet e a custo zero. Se o Chile conseguiu fazer essa reforma, o Brasil pode também. Enquanto as condições adversas continuarem, podemos ter certeza de que o novo Vale do Silício não será aqui.

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Ronaldo Lemos é diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro e do Creative Commons no Brasil