Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A televisão do chavismo se lança à conquista dos EUA

A emissora venezuelana Telesur decidiu seguir o mesmo caminho de canais de televisão como Al Jazeera ou Russia Today, ambas com programação informativa com alcance global e recursos estatais. Nesta quarta-feira, em sua sede de Caracas, foi apresentada a programação em inglês da emissora, com a qual espera conquistar o público dos Estados Unidos.

A Telesur foi fundada em 2005, por iniciativa do ex-presidente Hugo Chávez e graças à participação de Argentina, Cuba e outros quatro Governos progressistas da região. A emissora, com programação regular em espanhol, pode ser definida como a CNN da Alba (a aliança econômica e política do chavismo no hemisfério). Os executivos do canal afirmam que o objetivo é oferecer uma visão distinta daquela proporcionada pelos meios de comunicação do chamado mainstream, como a própria emissora norte-americana.

A nova versão em inglês estará disponível em sua página web a partir desta quinta-feira. A diretora da Telesur, a colombiana Patricia Villegas, afirma que não é una versão traduzida da rede em espanhol, mas uma plataforma multimídia criada por anglófonos nativos. A partir de agora, seu principal centro de produção será em Quito, a capital equatoriana.

Está previsto que em um ano o canal conte com sinal ao vivo e por satélite. A estratégia, segundo explicou Villegas, é aproveitar os hábitos de consumo, de entretenimento e de informação do público jovem norte-americano relacionados com a Internet.

“Vimos como outros canais tiveram de mudar suas linhas editoriais para poder estar nas telas dos Estados Unidos, algo que a Telesur obviamente não fará”, adverte a diretora. “Mas também queremos evitar as dificuldades que tivemos até agora para entrar nos pacotes das operadoras de televisão paga. Complicações de origem política”, assinala. A ideia é que o público, tendo degustado a programação por meio da Internet, exija a incorporação do canal a seus provedores de televisão por assinatura.

“Alto nível”

O menu posto à disposição dos usuários inclui colunas semanais de personagens como Noam Chomsky e Steve Early. O prato forte, entretanto, são as produções em vídeo, acessíveis ao vivo ou à la carte. Haverá espaços informativos e de entrevistas com correspondentes em nove cidades de toda a América, além de programas como O show de Laura Flanders, gravado em Nova York.

Tariq Ali, o escritor britânico de origem paquistanesa, também terá um programa semanal no qual explicará o funcionamento do “único império global da história: o norte-americano”. Também fará uma análise crítica dos meios de comunicação internacionais.

Ali forma parte do conselho assessor da emissora há nove anos. Foi roteirista de Ao sul da fronteira, a peça laudatória do diretor Oliver Stone sobre as “revoluções latino-americanas de princípios do século XXI”. Esteve presente em Caracas no lançamento do programa e já havia defendido o canal na Inglaterra.

“Nos últimos dias, em Londres e Manchesterm houve protestos contra a cobertura que a BBC fez ao assalto israelense em Gaza”, afirma este escritor como exemplo da oportunidade que a Telesur tem para vender um jornalismo “alternativo e crítico”. “Nós não vamos dizer aos telespectadores que aceitem como verdade única o que mostramos, mas é una visão alternativa para que formem suas próprias opiniões e que reforça a pluralidade e a democracia”, sentencia.

Ali esclareceu que este projeto conservará sua independência e que não concorda com o provérbio que afirma que “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. “Há muitos anos sou crítico dos regimes árabes”, alguns dos quais se comportam como aliados em escala global do chavismo. “Mas isso não quer dizer que apoie as intervenções estrangeiras nos países árabes, cujas situações têm de avançar de maneira orgânica”, afirma.

O escritor garantiu que não está preocupado com as críticas que a Telesur possa receber de outros meios jornalísticos: “Já sabemos que seremos criticados e por quê. O importante será manter um alto nível de produção e informação confiável”.

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Ewald Scharfenberg, do El País