A nomeação do ex-jogador Dunga como técnico da Seleção Brasileira, de novo, deixou parte dos 200 milhões de brasileiros surpresa. Muitos questionavam se a volta do treinador ia ao encontro da tão propalada renovação no futebol brasileiro, como se especulava após a derrota da Seleção na Copa. Torcedores e comentaristas esportivos ora torciam o nariz, ora hesitavam. Na cobertura objetiva, em que deveria manter o equilíbrio e prezar pela informação, O POVO foi pessimista. O caráter negativo do retorno do técnico tem sido predominante na cobertura.
Na edição de 22/7, terça passada, a capa de Esportes teve como manchete “De volta para o futuro”. Na matéria, relato da primeira Era Dunga e perspectivas para a segunda. Em destaque, o quadro “Raio-X: Primeira Era Dunga (2006 a 2010)”, dividido em quatro itens: Teimosia, Cartões, Em campo e Fora de Campo. Na seção, havia as informações sobre a não convocação de Neymar e Ganso em 2010, o alto número de cartões que a Seleção tomou, a deficiência em marcação e contra-ataque e o tratamento ríspido à imprensa. Ou seja, só fatos negativos.
Deixamos de dar destaque à conquista da Copa América de 2007, da Copa das Confederações de 2009 e do bronze nas Olimpíadas de Pequim, em 2008, por exemplo – fatos citados no texto. O jornal teria mostrado muito mais equilíbrio ao enfatizar os prós e os contras em um mesmo espaço.
No dia seguinte, 23/7, na seção “Bola na rede” (página 2), o caderno de Esportes publicou comentários de leitores postados no Facebook. Foram cinco depoimentos – todos criticando a volta de Dunga. “Coitada da seleção brasileira, agora afunda de vez” (sic) e “Acho o Dunga muito devagar, sem garra e motivação” (sic) são dois exemplos. Ora, não precisa ler muito para achar, dentre os comentários de leitores na internet, quem seja contrário à volta do treinador e quem apoie o retorno. Mais uma vez, faltou equilíbrio.
O que diz a Redação
Responsável pelo caderno de Esportes, a editora Ana Flávia Gomes avalia: “Temos feito uma cobertura que procura ser isenta, baseada em dados e histórico do técnico, sem juízo acerca de um trabalho que Dunga ainda vai começar.”
Opinião
É sabido, no entanto, que o jornal dispõe de espaços opinativos para que os jornalistas analisem, sob seu ponto de vista, determinado fato. O POVO faz uso frequente da seção “Ponto de vista” e lá os jornalistas podem descarregar todo o seu descontentamento. A opinião contrária ou favorável a determinado fato não pode determinar o fio condutor da pauta. A análise pode estar presente na cobertura, mas de uma maneira equilibrada, com a exposição dos vários lados de uma mesma história a fim de que o leitor tenha argumentos suficientes para tomar sua decisão.
80 anos de morte do Padre Cícero
Domingo passado, 20/7, a cidade de Juazeiro do Norte, na Região do Cariri cearense, lembrou os 80 anos de morte do Padre Cícero, figura bem conhecida, cultural e politicamente, em todo o País. Oito décadas de morte do maior santo popular do Nordeste só mereceram uma matéria de quase meia página, intitulada “Juazeiro. Missa de 80 anos da morte do padre Cícero é celebrada”, na editoria de Cotidiano, um dia depois (21/7, página 6). O texto apenas descrevia a cerimônia religiosa e relatava alguns depoimentos de romeiros.
O POVO, sempre atento às manifestações populares regionais, ficou devendo na cobertura da efeméride. Além disso, é válido lembrar que a regionalidade é um dos itens da Carta de Princípios que norteia o jornal. Não aproveitamos a data nem para atualizar os leitores quanto ao processo do Padre Cícero em Roma, ouvindo estudiosos e religiosos envolvidos no caso.
O que diz a Redação
A editora-executiva do Núcleo de Cotidiano, Tânia Alves, comenta: “O POVO esteve presente na cobertura da missa dos 80 anos da morte de Padre Cícero, em Juazeiro do Norte. Foi um dos destaques da edição da última segunda-feira. Talvez você tenha sentido falta de uma cobertura especial, que realmente não foi pensada.”
Justificativa
Não apenas o alcance religioso da figura do Padre Cícero justificaria uma cobertura mais completa, mas também o seu caráter cultural e relevante para a região. Falhamos.
Oito décadas de morte do maior santo popular do Nordeste (Padre Cícero)só mereceram uma matéria de quase meia página… na editoria de Cotidiano.
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Daniela Nogueira é ombudsman do jornalO Povo