O Rio de Janeiro vem sendo nos últimos dias palco de um infame esquema de manipulação da informação que envolve o jornal O Globo, a ABI e um grupo de jornalistas capitaneados por um segmento sindical derrotado numa eleição. O alvo é a diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ).
A história começa com uma entrevista coletiva na sede do SJPMRJ convocada pelo Grupo Tortura Nunca Mais, antes das covardes agressões a jornalistas praticadas por pseudomanifestantes, por ocasião da saída do Presídio de Gericinó, em Bangu, de cinco manifestantes presos, acusados de promoverem violências em protestos, mas num processo absolutamente irregular. Os cinco, entre as quais a tal de Sininho, foram soltos graças a um habeas corpus do desembargador Siro Darlan.
A entrevista coletiva ocorreu dois dias depois da libertação dos manifestantes.
É importante assinalar a qualidade de pseudo, porque o que foi feito contra jornalistas que cobriam a saída dos presos não é de responsabilidade de manifestantes na verdadeira acepção da palavra. Estão mais para agentes provocadores do que outra coisa. Deram munição para forças interessadas em práticas desestabilizadoras, aliás, como é comum no caso dos agentes provocadores.
Pois bem, na coletiva realizada no Sindicato, o jornal O Globo manipulou grosseiramente a informação ao afirmar, entre outras coisas, que “os profissionais de imprensa foram xingados e ameaçados”. Queria o jornal dar a entender que o que aconteceu teve o apoio da diretoria do Sindicato.
Na sequência, um grupo de jornalistas, capitaneado por ex-dirigentes sindicais derrotados na última eleição, decidiu, apoiados na divulgação pelo mais vendido jornal do Rio de Janeiro, elaborar um abaixo assinado defendendo a renúncia da atual diretoria.
Chegaram até a criar um grupo no Facebook com a denominação “Este Sindicato não me representa”. E fizeram tudo baseado em “informações” (entre aspas) sem fundamento.
No caso do jornal, ainda pior, porque quando da divulgação da “informação” (entre aspas mesmo) sobre a coletiva, nem ouviram o outro lado, ou seja, pelo menos a presidenta do sindicato, Paula Mairán, que está sendo linchada por manipuladores da informação.
O Globo procurou demonstrar que os jornalistas foram desrespeitados com o apoio da presidenta Mairán. Uma mentira deslavada.
Familiares de manifestantes e alguns manifestantes apareceram no sindicato. Não foram barrados, pois esta não é a prática adotada pela direção sindical. Mas daí o jornal carioca induzir os leitores a se voltarem contra a diretoria sindical vai uma distância muito grande. Faz parte do grosseiro esquema de manipulação da informação e da velha tática do periódico de criminalizar movimentos sociais. Tem sido assim ao longo da história. Foi assim também no golpe de abril de 1964.
Atenção redobrada
Não é de hoje que a diretoria do sindicato, presidida pela jornalista Paula Mairán, vem sendo objeto de duras críticas patronais e também pelegas.
Aproveitaram a ocasião para induzir leitores e um grupo de jornalistas para demonizar o sindicato dando a entender, vale repetir, que a diretoria sindical teria apoiado ativistas contra repórteres, fotógrafos e cinegrafistas na própria sede.
Nunca houve isso. A diretoria do SJPMRJ sempre denunciou a violência contra jornalistas durante manifestações, seja a violência institucional, da Polícia Militar, ou a pratica deplorável, como já foi dito, por prováveis agentes provocadores travestidos de manifestantes.
E onde entra nesta lamentável história a atual diretoria da Associação Brasileira de Imprensa, diretoria que ocupou a entidade por decisão judicial?
Com base na informação manipulada de O Globo e pelo grupo de jornalistas capitaneados por derrotados no último pleito do SJPMRJ, o presidente provisório da ABI, Tarcísio Holanda, como se pode ler no site da entidade, deu “total apoio ao movimento de jornalistas que reivindicam a renúncia imediata da atual diretoria do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro”. Ou seja, apoiou o golpe antes de mais nada.
E tem mais: Holanda ainda por cima justifica o apoio afirmando absurdamente, ou seja, com base na manipulação da informação, que a diretoria “desrespeitou às normas do Estatuto e do Código de Ética da entidade”. Outra mentira deslavada.
O presidente imposto pela justiça também ofereceu a sede da ABI para a realização de uma assembleia para “debater a questão”. Debater a questão é sofisma, porque o objetivo é derrubar uma diretoria, portanto, promover um golpe contra a direção sindical que tem desagradado o patronato, até porque, além de defender os interesses da categoria, permite a realização em sua sede de debates, entre os quais, sobre a questão da democratização dos meios de comunicação.
Recentemente, na mesma sede sindical ocorreu outro importante debate sobre os lamentáveis acontecimentos na Faixa de Gaza. Na ocasião foi lembrado, por exemplo, o tipo de cobertura midiática que vem sendo feita pela Rede Globo sobre o genocídio, ou se preferirem, massacre, de palestinos em Gaza por forças israelenses de ocupação.
Nas gestões anteriores, dificilmente ocorriam debates dessa natureza, porque predominava preferencialmente a despolitização.
Como o patronato midiático sente-se incomodado com debates sobre os temas mencionados, agem deturpando um fato para criminalizar uma entidade sindical.
Lamentável também que a direção de outra entidade, no caso a ABI, fortaleça o movimento impulsionado pelo jornal mais vendido do Rio de Janeiro. Ou seja, tomou posição, sem ouvir o outro lado, apenas baseado na manipulação da informação.
É importante divulgar tais fatos para os leitores deste democrático espaço, porque o assunto deve ser conhecido ao máximo, até para se posicionar com base no que o jornal mais vendido do Rio de Janeiro não divulga.
E também estar atento com a forma que veículos da mídia hegemônica estão tratando entidades sindicais que não defendem os mesmos interesses que defende o patronato.
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Mário Augusto Jakobskind é jornalista