Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Os mesmos de sempre
e a culpa da imprensa

Os mesmos de sempre: parecem personagens de um interminável seriado. Mudam os montantes dos assaltos, mudam os ambientes e os truques, mas a história é a mesma: lucros fabulosos com operações altamente sofisticadas, sempre ilegais.


Os trambiques de Naji Nahas já têm quase duas décadas, Daniel Dantas protagoniza o noticiário dos escândalos há três lustros e o novato Celso Pitta enrosca-se em negócios escusos há quase oito anos.


Chamá-los de incorrigíveis e reduzir esta persistência a uma compulsão pela imoralidade é uma forma de minimizar o fenômeno e retirar dele o aspecto sistêmico e institucional.


A culpa pela impunidade não é da imprensa, mesmo se quisesse não poderia acompanhar todos os escândalos simultaneamente, há tanto tempo. As sucessivas reprises e repetecos têm causas bem definidas: a lentidão da Justiça, que leva uma eternidade para dizer quem é inocente e quem é culpado, e a fascinação de grupos próximos ao poder pelos ‘gênios’ políticos e financeiros que se infiltram nos gabinetes com idéias mirabolantes.


É preciso não esquecer que o mensalão, onde começou o novo capítulo da biografia de Daniel Dantas, foi criado por outro gênio, o lobista Marcos Valério, por sua vez estimulado pelos gênios que pretendiam criar num passe de mágica uma maioria no Congresso.


O escândalo da Varig resultou da preguiça das autoridades em encontrar uma solução rigorosa e honesta para salvar a companhia aérea.


Zuleido Veras, o dono da Gautama, inventou um nome místico para uma fabulosa engenharia sem obras.


Atrás de cada escândalo há um fraudador brilhante, criativo e um séquito de advogados, executivos e políticos fascinados pela facilidade em embolsar indevidamente grandes quantias.


A imprensa só tem uma culpa: a de não conseguir levar a todos os recantos e grotões a bandeira da decência e da probidade.