Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Vazamentos são mais graves do
que espetacularização das prisões

O prato forte da imprensa neste fim de semana foi o vazamento pela Polícia Federal de partes do relatório sigiloso sobre a Operação Satiagraha que prendeu o banqueiro Daniel Dantas. Este vazamento é grave, mais grave do que a discussão sobre a espetacularização das prisões ou o confronto entre o presidente do Supremo Tribunal Federal e um juiz de primeira instância.


O Estado de S.Paulo foi privilegiado pela Polícia Federal e publicou, na sexta-feira, uma página inteira com reproduções em fac-símile do relatório secreto sobre o caso. A Polícia Federal cometeu duas infrações simultaneamente: violou o segredo de justiça e favoreceu um único veículo de informação.


Mais grave ainda é que um dos trechos vazados consistia na transcrição de um grampo telefônico onde conversavam o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado pelo PT, e o Chefe de Gabinete da Presidência da República, Gilberto de Carvalho. Ficou evidente que Greenhalgh foi ao palácio do Planalto a serviço do seu cliente, Daniel Dantas, e que Gilberto de Carvalho, ingenuamente, prestou-se a passar-lhe informações confidenciais que, em última análise, prejudicam os interesses do governo.


É incrível e inadmissível. As conversas de um dos mais altos funcionários do governo não podem ser gravadas, e se o foram por engano, sob hipótese alguma podem ser divulgadas antes da conclusão do inquérito.


Os federais merecem o apoio e o respeito da sociedade. Apoiados pelo Ministério Público e pelo Judiciário têm desenvolvido um esplêndido trabalho no combate à corrupção e ao crime organizado. Esses vazamentos, porém, são rigorosamente ilegais, porque comprometem a isenção e a probidade das autoridades.


A PF parece sem controle, presa de conflitos internos, e o ministério da Justiça dá a impressão de estar sendo atropelado pelo voluntarismo e a truculência de uma de suas alas. Estes vazamentos maculam o vazador, maculam o beneficiário e maculam a imagem da imprensa.


É preciso não esquecer que recentemente a Polícia Federal tentou prender uma repórter da Folha de S. Paulo porque teria antecipado detalhes da Operação Satiagraha. Agora, a mesma PF beneficia o seu concorrente revelando um grampo na presidência da República. Estamos próximos do vale-tudo.