O secretário de Imprensa da Casa Branca, Scott McClellan, anunciou sua saída do cargo na quarta-feira (19/4), em meio a uma semana de mudanças na sede do governo federal americano. A ‘sacudida’ nos cargos era esperada após a efetivação do novo chefe de Gabinete do presidente George Bush, Joshua Bolten – no lugar de Andrew Card, que pediu demissão em 14/4. O objetivo da reforma interna é tentar reverter a queda de popularidade do presidente e de seu governo – prejudicada pela Guerra do Iraque e por escândalos como o vazamento da identidade da agente da CIA Valerie Plame e a denúncia dos grampos ilegais em território americano.
Responsável pelos comunicados diários da Presidência à imprensa, McClellan ocupava um dos cargos de maior destaque da administração Bush. O trabalho é complicado, principalmente quando é feito em um governo discreto e reservado. Em mais de dois anos e meio no posto, o porta-voz sofria pressão diária dos jornalistas por respostas e chegou a se envolver em discussões acaloradas com alguns correspondentes.
Sinal interno
Entrevistados pela Editor & Publisher [19/4/06], repórteres que cobrem a Casa Branca afirmaram que a saída de McClellan não é surpresa, completando que é mais provável que ele tenha deixado o cargo por vontade própria. Segundo eles, Bush teria poucos motivos concretos para pedir pela saída do secretário, já que ele conseguia – para desespero da imprensa – cumprir os desejos do governo.
Ainda assim, alguns jornalistas disseram que o porta-voz teria sido obrigado a deixar o posto, como parte da ‘dança das cadeiras’ na Casa Branca – que atingiu até o principal estrategista político de Bush, Karl Rove. ‘McClellan não queria sair. Mesmo que tenha dito a colegas sobre deixar o cargo há pelo menos um ano, ele planejava ficar até as eleições parlamentares. Amigos dizem que ele recebeu um sinal interno’, escreveu Michael Allen no sítio da revista Time.
Transição
‘Mudanças podem ajudar [o governo]’, afirmou McClellan no anúncio de sua demissão. A Bush, diante de um grupo de repórteres, o secretário disse que havia dado tudo de si no cargo. Ele deverá permanecer no posto por mais algumas semanas, para ajudar no processo de transição de seu sucessor.
O nome do novo secretário de Imprensa ainda não foi anunciado, mas especula-se que possa vir a ser o comentarista Tony Snow, do canal conservador Fox News, Rob Nichols, ex-porta-voz do Departamento do Tesouro, ou Victoria Clarke, ex-porta-voz do Pentágono.
McClellan assumiu o posto em junho de 2003, substituindo Ari Fleisher. Sua atuação era bastante criticada pelos correspondentes da Casa Branca. ‘Eu sempre vi Scott como alguém que fazia exatamente o que o governo queria que ele fizesse’, diz o repórter do Chicago Tribune Mark Silva. ‘Isso enfurecia os jornalistas, que sentiam que nunca tinham suas questões respondidas’. Peter Baker, do Washington Post, completa a idéia. Pessoalmente, afirma ele, ‘tenho muito respeito por Scott. Ele tinha um trabalho muito duro e cumpria o que queriam que ele fizesse’. Em um nível profissional, entretanto, Baker diz esperar que ‘seu substituto possa trabalhar conosco’. Segundo o jornalista, a mudança no posto de secretário de Imprensa não fará muita diferença se a próxima pessoa operar da mesma maneira de McClellan, ‘como um rosto público de uma Casa Branca que não gosta de se comunicar com a imprensa’.
Após o anúncio, Bush elogiou McClellan. ‘Eu não sei se os profissionais de imprensa percebem, mas a tarefa dele, de lidar com vocês regularmente, é um desafio. E eu acho que ele lidou com esta tarefa com classe e integridade’, afirmou o presidente. ‘Será difícil substituir Scott, mas ele tomou a decisão, e eu a aceito’, concluiu. Com informações da Reuters [19/4/06].