Estamos a uma semana do início do horário eleitoral gratuito. A principal passarela onde desfilam os candidatos tem funcionado como um autêntico mercado onde se trocam alguns segundos de exposição na mídia eletrônica por vantagens na distribuição de cargos e verbas. É neste mercado que se constroem projetos políticos e coligações partidárias.
Mas é possível que o horário eleitoral gratuito venha a ser substituído por palanques com visibilidade e dimensões ainda maiores: as redes sociais no Brasil têm um poder de penetração que só perde para a Índia e os Estados Unidos.
Nas ondas do Facebook navegam 87 milhões de brasileiros, pelo menos uma vez por mês. E destes, 63 milhões acessam o Facebook através do celular onde imperam mensagens curtas, impactantes e nem sempre legítimas.
Na selva da internet joga-se pesado. No ciberespaço constroem-se ou destroem-se imagens e reputações em questão de segundos. Virais são incontroláveis e mais letais do que os vírus propriamente ditos.
A nova legislação, em vigor desde o ano passado, tenta acelerar o mecanismo que viabiliza o direito de resposta de candidatos que se sintam prejudicados por informações postadas na rede. A lei procura expandir o direito de remoção de matérias consideradas ofensivas. Mas o que é ofensivo para um juiz pode não ser para outro. O complicador não é apenas subjetivo, também é concreto: o volume das reclamações pode esbarrar na limitação de recursos da Justiça Eleitoral.
As novas tecnologias produzem sempre avanços notáveis – mas, nestas eleições, ficaremos sabendo se estes avanços não serão esmagados por retrocessos. (Alberto Dines)
A mídia na semana
>> Biografias voltaram à berlinda e desta vez quem está mais indignada é a presidente da República, Dilma Rousseff. Não se trata de censura, mas de adulteração dos perfis biográficos de jornalistas de altíssimo gabarito na Wikipédia, a enciclopédia digital da internet. Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg colaboram com destaque nos principais órgãos do Grupo Globo, tratam principalmente da esfera econômica e, como não poderia deixar de acontecer, suas avaliações nem sempre coincidem com as dos agentes oficiais. O pior é que as adulterações são claramente difamatórias e foram feitas a partir de computadores do Palácio do Planalto. A Presidência da República considerou o episódio abominável, prometeu investigar e punir os responsáveis. O fato de ter ocorrido em maio do ano passado pode dificultar mas não impedir a identificação dos culpados. A repercussão está sendo enorme.
>> O Conselho de Comunicação Social, órgão do Congresso Nacional, embora auxiliar e sem qualquer poder efetivo, incomoda os diferentes atores da mídia, principalmente as empresas privadas. Finalmente reativado em 2012, o Conselho deu o ar de sua graça no início de agosto ao aprovar o relatório do conselheiro Celso Augusto Schroder recomendando o retorno da exigência do diploma para o exercício do jornalismo, cassada pela Suprema Corte em 2009. Como a cassação deu-se por intermédio de ação patrocinada pelas entidades empresariais do setor e como estas mesmas entidades estiveram por trás da escolha dos membros do Conselho de Comunicação, é possível prever surpresas – inclusive a desativação do órgão, como já ocorreu uma vez.
>> O Judiciário, ao menos em teoria, deve garantir o Estado de Direito, mas a cada dia torna-se mais nítido o aumento de ações de censura promovidas por juízes singulares ou tribunais. Um destes arbítrios foi revertido graças ao voto da ministra Rosa Weber, do STF, que garantiu o site Século Diário de continuar noticiando as atividades de um promotor de justiça em Vitória (ES), Marcelo Barbosa de Castro Zenker, que embargara o noticiário a seu respeito.
>> Mas a Folha de S.Paulo não teve a mesma sorte e foi obrigada a publicar, por ordem do ministro Antonio Dias Toffoli, no momento presidente do TSE, a resposta do candidato ao governo de Pernambuco, Paulo Câmara, do PSB, que se sentiu prejudicado por denúncia publicada dias antes. A matéria em questão continha o ponto de vista do denunciado sendo injustificada a exigência da resposta com chamada na capa. O jornal acatou, vai recorrer.