Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

A ascensão do ideal do ‘eu’

Selfies e check-ins, duas palavras que estão associadas à autoafirmação dos povos. Defino como autoafirmação, pois todos querem de alguma forma ter status, poder, aparecer em meio à multidão, através do compartilhamento do que se está fazendo ou da localização. Essa é a forma que encontraram para maximizar o eu. Contudo, as pessoas não atentam para o que realmente podem publicar na rede, sem saber muitas vezes a dimensão com que aquilo poderá se propagar. Será o espetáculo midiático? Na sociedade líquida, os povos se moldam ao momento que, aliado à internet, promove os instantâneos voláteis (SANTAELLA, 2007). Registros únicos em momentos efêmeros.

Recentemente a moda selfie tomou conta das redes sociais. São autorretratos sozinho(a) ou em grupo, em casa ou lugares “famosos”, ou mesmo ao lado de celebridades. O importante é registrar aquele momento único e mostrar a todos que “eu estive ali”. Durante o velório do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, vítima de acidente aéreo na última semana, pessoas foram criticadas nas redes por publicarem selfies ao lado do caixão e com pessoas próximas do ex-presidenciável.

Diante de tal situação, nos perguntamos: até que ponto vai nosso lado humano, sensível, respeitador? As críticas sobre a postura desses registros eram o esperado, já que nunca se viu alguém exibir a presença num velório e compartilhar com amigos. Aliás, a fotografia ultimamente, devido à facilidade dos dispositivos móveis, ganhou significância para qualquer ato. Nas palavras de Lúcia Santaella, qualquer coisa por mais insignificante que possa parecer se tornou fotografável.

É de se esperar também, que algum dia, se não já, os internautas registrem presença em bancos, motéis, UTI. Parece engraçado, mas a realidade é que a noção do privado está se esgotando. Esses espaços estão cada vez mais sem limites e sua consistência vai se tornando cada vez mais tênue e frágil (SANTAELLA, 2007). O mais importante é se exibir e ampliar suas conexões. Percebe-se, assim, a ascensão do ideal de “eu”, implicando no (re)conhecimento das formas contemporâneas do subjetivo que geram processos de satisfação imediata dos tipos ideais do eu. Subjacente aos selfies e check-in, o eu é prioritário e a situação na qual estou intensificará o meu pertencimento social.

>> Texto baseado nos estudos do livro de SANTAELLA, Lucia. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007.

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Mariana Pimentel é jornalista e professora