Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Empresas separam impressos de digitais para evitar prejuízos

É fato que a queda na publicidade e na circulação atingiu praticamente todas as publicações impressas dos EUA e que a nova geração de leitores não está acostumada – ou disposta – a pagar para receber notícias na internet. Em busca de soluções para salvar o mercado, muitas empresas de mídia estão aderindo à separação de seus negócios, desagregando seus canais televisivos e digitais das publicações impressas.

Um dos pioneiros nesse tipo de jogada foi o Belo, grupo com sede em Dallas, que em 2007 anunciou os primeiros planos de segmentação de seus jornais e suas 20 estações de televisão. O Journal Communications, que publica títulos regionais como o Milwaukee Journal Sentinel, também anunciou planos de fundir seus jornais aos do grupo EW Scripps, bem como mesclar as respectivas emissoras de TV de cada empresa – a EW controla canais como Food Network e ABC Action News.

O Tribune Publishing, dono do Los Angeles Times e do Chicago Tribune, também separou seus negócios da Tribune’s TV. O Gannett, que publica o USA Today, foi outro a anunciar um projeto de divisão, desmembrando seu braço editorial do segmento de transmissão e das operações digitais.

Nem mesmo os gigantes fugiram da fórmula: em 2012, a News Corp aderiu e, no ano seguinte, a Time Warner chegou a cogitar planos de separar seus ativos de impressão.

Lucro por corte de custos

Tal tendência é uma tentativa de evitar que a TV, ainda altamente lucrativa, não seja contaminada pela baixa nos impressos, mantendo assim a atração dos investidores, que teriam opção de segmentar a aplicação de seus ativos.

Em análise no Financial Times, o editor Matthew Garrahan vê esta tendência como algo negativo para os amantes das mídias impressas, pois as publicações que caminham de maneira independente passam a contar com menos capital para crescimento num ambiente já insalubre (e muitas vezes os impressos já confrontam quantidades consideráveis de dívidas, como é o caso das publicações da Time Inc e do grupo Tribune).

Garrahan diz que a geração de lucros tem dependido basicamente dos cortes de custos – os quais envolvem desde redução de pessoal, acúmulo de funções de profissionais e até cortes na paginação das publicações. O editor aponta, no entanto, que este tipo de medida tem limites. “O crescimento da receita é essencial e, sem ele, em algum momento os jornais vão ficar sem custos para cortar”, afirma. Embora todos os setores tenham experimentado novos modelos de negócios (como paywalls, mesclagem com elementos digitais e similares), ninguém encontrou ainda a fórmula que vai salvar os jornais.

Dependência de altruísmo

Segundo Garrahan, a salvação pode estar nos empresários endinheirados. John Henry, dono do time de beisebol Boston Red Sox e do time de futebol Liverpool, adquiriu o Boston Globe. Um consórcio liderado por Austin Beutner, ex-sócio da multinacional Blackstone, e que conta com o apoio de nomes de peso como o bilionário do ramo imobiliário Eli Broad, manifestou interesse pelo Los Angeles Times. Jeff Bezos, fundador da Amazon, adquiriu o Washington Post em 2013.

Estes investidores têm condições de sustentar os jornais sem se concentrar tanto na questão do lucro, já que seus ativos vêm de outros segmentos. No entanto, tais iniciativas dependem de uma boa dose de altruísmo. O próprio Bezos declarou que seu investimento no Washington Post foi baseado na crença de que o jornalismo precisa sobreviver por ser de interesse público.

Na ausência de um modelo de negócios ideal, resta saber até quando haverá empresários dispostos a fazer tal “caridade”.