‘Mais vale uma polêmica equivocada que polêmica nenhuma. Na semana passada, jornais, rádios e blogs discutiram a ‘proposta’ deste ombudsman de extinção do jornalismo na TV Cultura. O Estadão não deixou por menos e, na página J7 do caderno Aliás de domingo, dia 9, divulgou o resultado de enquete sobre a seguinte questão: ‘O jornalismo da TV Cultura deve acabar, como propôs seu ombudsman?’ Tal proposta, sem a ressalva que limita o debate ao conteúdo dos telejornais, não houve, como se pode comprovar pela leitura (atenta, por favor) do meu comentário postado em 23 de março. Mas que a discussão foi boa, isso foi.
O saldo positivo do debate é a confirmação de algo conhecido: a TV Cultura pode não ter altos índices de audiência, mas é a mais querida do público. Qualquer assunto que diga respeito à emissora mobiliza multidões. O fato de a Cultura receber recursos do Tesouro do Estado desperta no público um (justificado) sentimento de posse. Todos os brasileiros que vivem em São Paulo, e aqui pagam impostos, sentem-se donos da emissora, razão pela qual sempre chamei o conjunto de telespectadores da Cultura de assembléia de acionistas.
Confirmaram-se, também, ao longo da semana, várias outras suspeitas, a saber: alguns pauteiros da imprensa têm enorme dificuldade para entender o que lêem e há anos só conhecem dois especialistas em TV pública; os títulos de matérias de jornais têm índice de leitura superior ao dos textos; o endereço eletrônico do ombudsman, que a TV Cultura não divulga e por isso era quase secreto, agora tornou-se um pouco conhecido; os quase duzentos telespectadores que me escreveram sabem muito bem o que gostariam de ver no jornalismo da sua TV pública – informação qualificada.
Todos (eu incluído) conhecem as limitações orçamentárias da TV Cultura. Já escrevi neste espaço que uma boa TV pública brasileira deveria dispor de recursos pelo menos cinco vezes maiores que o atual. Mesmo assim, a Cultura fez recentemente avanços positivos em sua grade de programação, com novidades bem recebidas pelo público e pelo mercado. Faltava (não falta mais) mexer no jornalismo, uma área há dez anos entregue à letargia de dois emes: mesmice e marasmo.
A partir de hoje a direção de jornalismo da Cultura está sob novo comando. Não conheço pessoalmente o profissional contratado para liderar essa nova etapa mas sei tratar-se de jornalista experiente, exigente e trabalhador. Desejo-lhe sorte e sucesso.’