Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sem atualização da infraestrutura, rede pode sofrer ‘apagões’

Especialistastêm alertado para o risco de mais apagões na internet após o recente acidente que desativou o eBaay no norte da Europa, num sinal de que velhos sistemas utilizado há décadas ??para organizar a “world wide web” estão entrando em colapso diante do enorme ‘peso’ de novos dispositivos e websites.

Aweb ultrapassou dias atrás um marco em seu implacável crescimento: o tráfego através de um elemento-chave da internet atingiu níveis sem precedentes e causou o colapso de algumas das peças mais antigas do equipamento que mantém o fluxo de informações.

Enquanto engenheirosde todo o mundo apressaram-se a corrigir o problema, um monitor de tráfego de internet informou que o número de rotas que sofreram interrupções no acidente dobrou para 12.600, quando, em um dia típico de falhas, normalmente são afetadas 6.000 rotas.

As queixascomeçaram a inundar os fóruns online e o Twitter, enquanto os leilões no eBay pararam e trabalhadores ficaram sem acesso ao serviço de nuvem da Microsoft, o Office 360, ou ficaram incapazes de usar o serviço de proteção de senha LastPass. “A internet quebrou sob seu próprio peso”, disse o site de tecnologia The Register.

No cerne do problema ocorrido em 12 de agosto estava um sistema conhecido como Border Gateway Protocol (BGP) – essencialmente um mapa da internet que lista centenas de milhares de rotas ou percursos, conectando notebooks, tablets e smartphones entre si e com sites e servidores de empresas em todo o mundo.

O BGP lista rotas para a web externa, conectando redes pertencentes a provedores de banda larga, como a BT (British Telecom)ouVirgin, ligando-as entre si, bem como a fornecedroes de banda larga em países estrangeiros e a destinos como os centros de dados da Apple ou do Google.

Na semana do acidente, onúmero de rotas mapeadas pelo BGP passou de 512.000. O número é significativo, pois alguns roteadores mais antigos – as máquinas que formam a espinha dorsal da internet, selecionando os caminhos tomados por pacotes de informação – não são capazes de lembrar mais do que 512.000 rotas. Ultrapassadoesse número, os roteadores começam a perder velocidadeou simplesmente esquecer rotas, causando interrupções.

Algunsobservadores da web estão responsabilizando a gigante americana de banda larga Verizon pelo aumento do tráfego. Um aparente erro cometido pela empresa – um problema que durou apenas cinco minutos – foi grande o suficiente para derrubar grandes áreas da internet.

“Ponto de ruptura”

Com sede emVancouver, a empresa BGPMon disse que a maioria das grandes companhias de internet apresentou uma marca em torno de 500.000 rotas – cada provedor tem uma lista ligeiramente diferente das rotas. A companhia Level 3, que faz parte das empresas nacionais de internet, apresentou 498 mil.

“Agora que estamos tão perto (do limite de tráfego), cada pequeno erro pode nos derrubar”, disse Andree Toonk da BGPMon. “Em poucas semanas, vamos naturalmente superar esse limite de 512.000 rotas e, provavelmente, vai ocorrer uma situação parecida novamente. Haverá paralisações e determinados destinos se tornarão inacessíveis. Para muita gente na indústria, esse foi um sinal de alerta para acordar.”

Toonkdiz que o problema começou no dia 12 de agosto, às 8h48, horário do Reino Unido, quando uma enxurrada de 15.000 novas rotas foi introduzida no tráfego. Ele descobriu que quase todas as novas rotas vieram da gigante Verizon, que conecta milhões de residências e empresas americanas à banda larga.

Cada rotaé uma porta de entrada que dá acesso a milhares de endereços de IP individuais. Mas, ao invés de anunciar algumas novas rotas agregando pacotes de milhares de endereços, Toonk disse que a Verizon anunciou lotes de novas rotas agregando pequenos blocos de apenas algumas centenas de endereços, o que foi, provavelmente, um vazamento de seu sistema interno.

Tratou-se de um “hardware antigo, com capacidade esgotada há pelo menos cinco anos, porque ficou sem memória”, explicou James Blessing, presidente da Associação de Provedores de Serviços de Internet, que tem cerca de 300 membros em todo o Reino Unido.

Agigante de tecnologia norte-americana Cisco vem alertando desde maio que alguns de seus roteadores mais antigos entrariam em colapso sob a pressão da sobrecarga, a menos que eles recebessem uma atualização de software. Porém, atualizá-los ou substituí-los pode ser complicado. “Você pode simplesmente mudar alguns valores nos dispositivos e então reiniciar a máquina inteira”, disse Blessing. “Infelizmente, esses dispositivostêm centenas de clientes ligados a eles e obter a permissão de todos para fazer isso requer muito trabalho.”

Sem a atualização, no entanto, um outro pico de tráfego irá transformar esses roteadores da Cisco em “peso morto e muito caro”, advertiu um especialista em TI.

Em paralelo,um problema maior se aproxima – o mundo está ficando sem endereços de internet. Os fornecedores nacionais de banda larga têm demorado a abandonar o sistema atual que atribui um endereço de internet para cada dispositivo, bem como números de telefone. Conhecido como IPv4, o sistema tem 4,3 bilhões de combinações possíveis, sendo que a próxima geração, o IPv6, que utiliza mais dígitos, e combinados a letras, terá um potencial de 340 trilhões de trilhões de trilhões de combinações – mais do que o planeta provavelmente precisará (ou pelo menos por um tempo).

Algumasregiões da América já adotaram o novo sistema de endereço, mas o Reino Unido ainda está se esforçando. Sky, Virgin e BT já liberaram alguns aparelhos de wi-fi para seus clientes residenciais capazes de usar o IPv6. A Virgin está rodando dois sistemas em paralelo, mas nenhuma das empresas realizou completamente a troca.

“Estamos atingindo um ponto de ruptura nesta área de manuseio de endereços de internet”, disse James Gill, diretor executivo da GoSquared, um grupo de medição de tráfego na internet. “Essas interrupções continuarão acontecendo por causa do número crescente de dispositivos na web.”

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Juliette Garside e Samuel Gibbs, do The Guardian