As cataratas do Iguaçu até aparecem bem no filme, durante 2 minutos e 30 segundos, mas ao lado da Amazônia. A estréia de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (Estados Unidos, 2008) deu um banho de água fria em muita gente de Foz do Iguaçu. A cidade aguardava com ansiedade as cenas das cataratas do Iguaçu no filme mas, para tristeza de muitos espectadores, o diretor Steven Spielberg provou que é mesmo um mago das câmeras.
Os iguaçuenses já sabiam que Harrison Ford não estivera no município para as filmagens no Parque Nacional do Iguaçu, em 2007. A expectativa era saber como a computação gráfica iria colocar os personagens no longa-metragem.
Assinado por David Koepp, George Lucas e Jeff Nathanson, o roteiro mostrou as cataratas de forma tão rápida que deixou muita gente confusa. Num trecho da trama, os personagens saem da Amazônia com a caveira de cristal e caem com o carro na Garganta do Diabo.
Estrutura do narcotráfico
O que chamou a atenção do público da região foi a ausência de qualquer menção ou crédito às cataratas do Iguaçu. Outra peculiaridade levantada pelos críticos foi a proximidade da Amazônia e das cataratas do Iguaçu como se fossem a mesma coisa.
Os personagens, após caírem da maior queda das cataratas, de uma altura média de 80 metros, e saírem ilesos, vão abrigar-se em baixo de uma caverna. Lá são postos para correr por homens selvagens.
No mundo da ficção pode tudo? O longa é mais um dos enlatados norte-americanos? O filme usa o roteiro para sedimentar estereótipos? Guardadas as proporções, a película transmite uma visão errônea da região, como ocorreu em Miami Vice (Estados Unidos, 2006)?
Para ajudar a entender essas questões, o H2FOZ entrevistou dois cinéfilos iguaçuenses, a advogada Ana Augusta e o jornalista Andersom Calil. Eles analisam Indiana Jones e Miami Vice, que teve imagens encenadas na região. Dirigido por Michael Mann, o filme demonstra uma estrutura do narcotráfico na América do Sul. Entre as cidades inclusas no roteiro estão Ciudad del Este e Foz do Iguaçu.
15 segundos de fama
Sobre o Reino da Caveira de Cristal, Ana dispara: ‘Foi incoerente. É improvável que eles não tenham acesso às informações corretas. Não sei por que fazem isso. Até parece que a caverna de onde saem os homens selvagens fica aqui. É aquela coisa batida deles, o Brasil é a Amazônia. E tem só selvagens.’
Segundo Calil, a trama é mais um produto do discurso político norte-americano de superioridade em relação a outras nações. ‘A Amazônia ao lado das cataratas? É uma demonstração que eles não conhecem nosso país, ou se fazem de desentendidos. Eles pensam que aqui só tem índios. É uma demonstração do etnocentrismo’, declarou.
Outros títulos da telona cometeram gafes ao retratar a região. Esse é o caso dos filmes Mr. Magoo (1997) e 007 Contra o Foguete da Morte (1979). Nessas obras, os diretores utilizaram as cataratas fazendo ligações com outras localidades, que em determinados casos ficam bem distantes da tríplice fronteira.
Em Mr. Magoo, o personagem Mr. Quincy Magoo passeia em questão de minutos pela floresta amazônica, praia de Copacabana e as cataratas do Iguaçu. Já em 007, o filme mostra Bond numa fuga de lancha pelo Amazonas em direção às cataratas. Seria o caso de analisar se a região precisa aparecer na telona a qualquer custo. O que sobra desses malfadados 15 segundos de fama?
Filmes na tríplice fronteira
Um dos melhores filmes a explorar a região foi A Missão. Lançado em 1986, ele trouxe no enredo a saga dos jesuítas na fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, ocorrida no século 17. A produção foi dirigida por Rolland Joffé e venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1986, na categoria melhor filme.
Produções nas três fronteiras:
2008 – OSS117 (Operação Rio) em estúdio
2006 – Miami Vice
2005 – Gaijin 2 – Ama-me Como Sou
2003 – A Saga
1997 – Mr. Magoo
1986 – A Missão
1979 – 007 Contra o Foguete da Morte
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Jornalista, especialista em Linguagem, Cultura e Ensino, Foz do Iguaçu, PR