Um peixeiro na feira de Itajubá (sul de Minas Gerais) falou outro dia que fez uma pesquisa com trinta pessoas para saber qual é o time mais popular do Brasil. Vinte e cinco responderam Corinthians; três, Flamengo; e duas, Fluminense. Claro que o peixeiro é corintiano, mas isto não desqualifica a pesquisa, como as do Datafolha sobre intenções de voto no segundo turno ou logo depois da morte de Eduardo Campos, apesar das últimas serem feitas exclusivamente em São Paulo (capital) e sabe-se lá com quantas pessoas.
Nos meus 55 anos de vida e depois de ter morado em várias cidades e capitais do país, nunca fui consultado numa destas pesquisas – ou melhor, pelo que me lembro, apenas numa, sobre marcas, uma vez em São Paulo.
O fato de da noite para o dia a candidata Marina aparecer à frente em um segundo turno, como na pesquisa do Datafolha, é muito significativo, assim como aquela pesquisa depois desmentida do Ipea que apontou a maioria dos brasileiros como estupradores em potencial.
Mas sempre é bom ponderar, como dizia Millôr Fernandes, pois pesquisas são que nem biquíni: mostram tudo menos o essencial. O certo é que as pesquisas, por mais apressadas e incertas que sejam, influenciam terrivelmente todo mundo e são manchetes instantâneas ainda que venham a ser desmentidas. O Ibope, por exemplo, reina absoluto no Brasil, junto com a Globo, há dezenas de anos, e agora está apavorado com a possibilidade de uma segunda empresa alemã passar a pesquisar audiência televisiva no país. Outros institutos, como o Vox Populi, que surgiu com o furacão Collor, estão aí soberanos e bilionários com suas pesquisas políticas e nisto tudo o eleitor indeciso brasileiro virou uma permanente Marina, quer dizer, Maria vai com as outras.
No campo econômico, o uso indiscriminado de estatísticas e pesquisas serve hoje, por exemplo, para dizer que o país vive uma etagflação, palavrão economês que significa um país em crise. E vive se falando de um PIB ridículo, sem mencionar que a maioria dos países desenvolvidos, incluindo Alemanha e Estados Unidos, mal escapa de taxas negativas. Outro exemplo é o estouro da inflação de 7% ao ano, quando Keynes escreveu que muito mais prejudicial do que uma inflação alta é uma deflação porque este atinge diretamente a indústria. Sem falar do exemplo clássico de que se eu como um frango e você nenhum, a pesquisa registra que nós dois comemos meio frango. Pena, sem trocadilho, que isto tudo não impeça que grandes jornais e TVs não parem de fazer e explorar pesquisas como se quisessem prever e até determinas o futuro mais do que a Mãe Diná.
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Zulcy Borges de Souza é jornalista