“Estamos vivendo uma redefinição de tudo. Vivemos um momento completamente novo na humanidade. Há novos conceitos de saúde, de longevidade, de interação social, de absorção de mídia, de consumo, de informação. Quem entender bem esse momento estará muito mais preparado para vivenciar o que vem pela frente”, diz Sergio Valente, diretor da Central de Comunicação da Rede Globo. Essa agenda contemporânea, com uma busca constante da sociedade por informação, com o consumidor interagindo de forma intensa e atento à qualidade de vida, tem destaque na estratégia de comunicação da maior rede de televisão do país.
Há um entendimento dos acionistas, a família Marinho, e do diretor-geral, Carlos Henrique Schroder, de dar à comunicação um papel mais amplo dentro da Globo. “Faz parte do compromisso como empresa, como marca, ser melhor como produto e sua relação com a sociedade”, afirma Valente.
“A relação que temos de ‘conversar’ com o nosso público é o eixo da transformação. E produzir conteúdo para todos é uma forma de se relacionar com o público. Schroder diz que o entendimento multiplataforma é produzir para além da grade [da programação da televisão]. É importante compreender a ótica do consumidor em mutação e interagir de forma mais intensa”, diz.
Baiano, 50 anos, com formação em engenharia e administração de empresas, Valente migrou muito cedo para a publicidade. Comandava a agência DM9DDB quando foi convidado há cerca de um ano e meio para dirigir a área de comunicação da Rede Globo. Foi seduzido pela proposta de “tratar da comunicação dentro de uma empresa de comunicação” indo “além do suporte aos produtos e entendendo a comunicação como um diferencial na construção de valor na empresa”. E em um movimento aliado ao foco no social. “É tudo que pode atrair um publicitário.”
A agenda social já está e estará cada vez mais na tela da Globo – seja a da televisão como as novas plataformas. Uma das novidades é o programa “O Que Será?” Apresentado por Sandra Annenberg, a atração nasceu de uma parceria das áreas de jornalismo e de responsabilidade social da Globo, com apoio da Fundação Roberto Marinho.
O programa é exibido às 6 horas dos sábados, ingredientes que poderiam prejudicar o sucesso. No ar desde o dia 8, no entanto, já conquistou audiência das mais diferentes idades e classes sociais espalhadas por todo o país. A proposta é de compartilhar com o público, de forma interativa, experiências transformadoras, exemplos de cidadania.
Trata de maneira simples e didática temas como educação, ecologia, mobilização social, trabalho e inovação. Une em nova roupagem “Globo Ciência”, “Globo Ecologia”, “Globo Educação”, “Globo Universidade”. “O Que Será?” traz a série “Meu Professor É o Cara”, que mostra docentes inovadores que garantem a presença dos alunos nas salas de aula, uma contribuição para um país com alta evasão escolar. Na área de ciência, “O Que Será?” já mostrou como funcionam os chips, o pagamento eletrônico acessível a pequenos negócios, grandes cientistas. Um deles foi Humphry Davy, descobridor de propriedades anestésicas.
Compromisso social
O foco social, entretanto, não é novidade na programação da Globo. O “Criança Esperança” é realizado há 29 anos. A partida foi dada no dia 16 e termina neste domingo, embora as doações continuem pelo site e loterias. A proposta foi dedicar um mês de programação para divulgar a causa dos direitos humanos e do voluntariado. Já foram doados, até o fechamento desta edição, mais de R$ 12 milhões.
Neste domingo, cerca de 30 atletas e atores voltam à tela da Globo no “Mesão da Esperança” para fechar o atendimento, ao vivo, de ligações de doadores. Serão seis entradas na programação – na transmissão do Brasileirão 2014, no “Domingão do Faustão” e no “Fantástico” – que serão ancoradas por atores.
O programa pioneiro na área de educação na Globo é o “Telecurso”. No ar há 36 anos, é um projeto de videoaulas “revolucionário”, observa Valente: “Além do compromisso social, entendeu que as pessoas bem instruídas geram um país melhor. Continua sendo a proposta. Não é melhor estar numa grande empresa, num país melhor e maior?”
Para ele, responsabilidade social deveria ser chamada de investimento social, além de uma visão filantrópica. “Ao se buscar uma sociedade mais justa, temos uma sociedade mais inteligente que consome mais e melhor. Por que não pensar também em investimento social? Investimento pressupõe resultado e, para isso, basta olhar a Bolsa de Valores de Nova York. Lá, empresas que têm compromisso social são as mais valorizadas proporcionalmente ao seu universo de atuação. E são as mais bem avaliadas. É um investimento social que está dando retorno”, completa Valente.
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Heloisa Magalhães, do Valor Econômico