Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Homossexualidade nas novelas

Gosto de Nathalia Timberg. Gostei da crítica que a atriz fez, em recente entrevista, acerca da homossexualidade na televisão. Não apenas gostei. Concordei. O que não deixa de ser a mesma coisa. “Está havendo uma espécie de preconceito ao contrário que não gosto. A maneira como se fala sobre a homossexualidade é uma forma de preconceito. Há uma excitação em volta disso.” Timberg, que viverá um ser humano (que por acaso é homossexual) na próxima novela das 21h, Babilônia, é uma atriz diferenciada. Tem as duas características que todo ator/telespectador brasileiro deveria possuir: pensamento crítico e visão.

O Brasil é um país atrasado. Não dá pra dizer outra coisa. Chega a ser pueril o modo como abordam o assunto por aqui. Acho tão careta quanto o próprio preconceito contra gays e lésbicas. É como se estivessem o tempo todo nos ensinando o que é ser gay, o que é ter preconceito, o que é ter tesão… Extremamente didático. Os Estados Unidos, que tanta gente critica por vender uma felicidade plástica, falsa, sempre foi mais inteligente – na forma de abordar o desejo por pessoas do mesmo sexo. O cinema e as séries americanas sempre retrataram a homossexualidade criando personagens com problemas reais. A homossexualidade não é um problema real. Com exceção do filme Brokeback mountain, de Ang Lee, ser gay nunca foi uma questão para os vampiros de True Blood. Nem para o advogado Kevin, de Brothers and sisters. As cenas dos seriados citados mostravam pessoas dando risada, falando sobre o tempo, dores de cabeça, ambições, sonhos frustrados… Nada além disso.

Questão central

A aceitação da família, tão importante de ser sublinhada no Brasil, estava implícita. É como se todos já tivessem ultrapassado essa barreira. Alguns personagens, não todos, nem faziam questão de imitar o casamento religioso de um casal heterossexual. Não desdenhavam, mas também não queriam comprar. Pena que ainda não fomos tão longe. Nossas cenas são repletas de clichês.

O filme Flores raras, de Bruno Barreto, é um dos poucos que não mostrou personagens homossexuais problemáticos e angustiados. Quer dizer, eram angustiadas. Mas por outras razões. Em Amor à vida, antiga novela das 21h, Walcyr Carrasco conseguiu alguns avanços. O personagem Félix, muito bem interpretado pelo ator Mateus Solano, não poderia ser mais rico. Ele era um ser humano – no verdadeiro sentido da palavra. Complexo, cheio de nuances. Mais afetado do que os gays que conheço, mas, ainda assim, um ser humano.

A Globo ainda não criou um gay absolutamente comum. A emissora ainda não conseguiu criar um gay que chame atenção pelas qualidades e virtudes. As últimas novelas sugerem que, de uma forma ou de outra, todos os personagens homossexuais são estereotipados: afetados, bombadinhos (galãs) ou machões enrustidos. As lésbicas, interpretadas por Giovanna Antonelli e Tainá Müller, foram mais discretas nesse sentido. Talvez por isso, passaram mais despercebidas do que Félix – mesmo trocando carinhos antes do fim da história.

No dia em que a principal questão dos personagens homossexuais das histórias no Brasil não for a homossexualidade, mas sim, outras coisas, aí sim não haverá preconceito. Por enquanto, não dá para dizer que progredimos. O preconceito ainda existe. Ele é real. Está apenas descansando. Está apenas parado para pensar.

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Caio Escorel é psicólogo e escritor