Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Longa vida para Carlos Lemos, 85

Não fuma charutos, é magro, elegante, bebe moderadamente (como todas as pessoas de bom gosto), explosivo e romântico: no resto, igual à imagem clássica do chefe de reportagem, secretário ou chefe de Redação nos bons tempos em que havia redações, as redações ferviam, os jornalistas ferviam e a imprensa sempre em ebulição.

Carlos Lemos nasceu esbravejando (a voz tonitruante ajuda), se entusiasma com a maior facilidade, goza implacavelmente os ímpios, louva os esforçados, desperta os sonolentos, seus palavrões fluem maviosos como numa ária de Rossini, berros e trepidação inseparáveis.

Não se fazem mais Carlos Lemos como este Leite da Luz, exemplar único, fora de série. Conheci-o na redação de Manchete, meados dos anos 1950; depois, em janeiro de 1962, nos encontramos no velho Jornal do Brasil onde estava há alguns anos participando do pequeno grupo orquestrado por Odylo Costa, filho, que fez a mais importante e mais duradoura reforma visual da nossa imprensa.

“Anti-selfie”

Convidei Wilson Figueiredo, o Figueró, para secretário da Redação (hoje na casa dos 90, recém-casado, lépido, fagueiro, uma cambaxirra serenada) e o Lemos para assumir a chefia da reportagem. Fiz questão de colocar em dois cargos-chave a prata da casa – essa coisa de chegar a uma Redação com uma trupe uniformizada nunca deu certo.

Lemos era até então editor de Esportes, um craque, mas, como grande repórter, seria um fabuloso comandante de repórteres. Não deu outra. Depois foi secretário de Redação e chefe da Redação. Ao longo de onze anos e onze meses este observador trabalhou ao lado de Carlos Lemos, “ao lado” é mais do que contíguo, quer dizer integrado – discordando, brigando, entendendo-se, completando-se, tabelando e tão entrosados que na abrupta demissão do editor-chefe, Lemos (seu substituto natural) foi tirado da Redação e mandado para estudar na BBC, em Londres.

Os detalhes dos quase sessenta anos de carreira deste inaciano-fluminense-missionário-bagunceiro-perfeccionista-rabugento-eufórico estão descritos abaixo. O que se pretende é um “anti-selfie”, portrait (alguém ainda sabe o que é isso?): figura sui generis, de uma profissão sui generis, num tempo e numa cidade sui generis.

Carlos Lemos é uma singularidade querida.

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Traços de uma trajetória

Carlos Lemos Leite da Luz, nasceu e 28 de agosto de 1929, no Rio de Janeiro, filho de Maria José Lemos Leite da Luz e de José Leite da Luz. Estudou no Colégio Santo Inácio, Jornalismo (incompleto) e Direito (incompleto) na UFRJ. Começou no jornalismo na Tribuna da Imprensa, em 1967. De lá foi para o Jornal do Brasil, onde iniciou como repórter, editor de Esporte, chefe de reportagem e chefe de Redação. Fez curso de televisão em Londres, quando o JB queria fazer uma televisão, fez curso de edição na Universidade Columbia, em Nova York. Como o Jornal do Brasil desistiu de fazer a televisão, foi dirigir o sistema de rádio da empresa. Criou a Rádio Cidade, um dos maiores sucessos da comunicação brasileira.

Este sucesso fez com que Roberto Marinho quisesse que ele fosse dirigir o Sistema Globo de Rádio. Depois de muitas negociações, foi. Após três anos, foi para o jornal O Globo, onde ficou um mês como subchefe da Redação. Em seguida foi enviado a Brasília para dirigir a sucursal e cobrir a posse de Tancredo Neves. Ficou cinco anos como diretor da sucursal do Globo em Brasília. Voltou ao Rio e dirigiu a Agência Globo de Comunicação.

Convidado, foi ser diretor de comunicações da CBF. Trabalhou com os técnicos Wanderley Luxemburgo, Leão e Luiz Felipe Scolari.

Durante algum tempo, deu aula no curso de extensão da UniverCidade. Ganhou, entre outros, o Prêmio Esso de Reportagem.

Nesse tempo todo, fez diversas outras atividades, todas ligadas à Comunicação, incluindo cinco anos como assessor da presidência na TV Brasil.