Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Preto no branco?

Casos de racismo não são raridade em coberturas midiáticas. Ocasionalmente, uma notícia sobre uma mulher que não quiser atendida por um médico negro, um jogador de futebol que, só por atuar pelo time visitante, sofre ofensas racistas por torcedores da casa, entre outros casos, aparecem na capa de jornal ou de portais na internet e, por acumular grande apelo público, acabam virando séries e movimentos incitados pela própria cobertura jornalística. Por um lado, há o objetivo de conscientizar sobre as questões raciais; por outro, há a necessidade de pegar esses eventos e transformá-los em grandes dramas que podem ser comparadas a sagas de novelas. Assim, vimos um bom exemplo de como as questões raciais entram em um processo sensacionalista gerando muitas vezes consequências desagradáveis e desnecessárias.

“Sensacionalismo é um tipo de viés editorial na mídia em massa em que os eventos e temas em notícias e partes são mais exageradas para aumentar os números de audiência ou de leitores” (fonte: Wikipedia). Em questões midiáticas o jornalismo possui um papel informativo e difusivo. No entanto, a necessidade empresarial capitalista das grandes mídias tendeu, em um espaço de tempo, a focar em assuntos teoricamente simples e os abordar de maneira exagerada e um tanto quanto ingênua (assim como foi citado pela frase retirada da Wikipedia). Nesses casos o objetivo se dá pela necessidade de aumentar o número de leitores e, consequentemente, de assinantes de tal jornal impresso ou de web.

Na medida em que esclarecemos essas questões, o sensacionalismo racial na mídia pode-se dizer que é a nova “galinha dos ovos de ouro” das grandes empresas jornalísticas. Pois como? Tirando proveito da simpatia do público atualmente com as questões raciais, as coberturas tendem a dar um foco único a fim de tornar o leitor a ser mais suscetível a ler e manter-se antenado das diversas novidades e suítes que aparecem.

A mobilização do sensacionalismo

No final de abril deste ano, o jogador Daniel Alves sofreu um ato de racismo em um jogo válido pelo campeonato espanhol, no caso o lateral brasileiro foi atingido por uma banana vinda de um torcedor do time adversário e, surpreendentemente, acabou comendo a fruta em tom de “deboche”. A inovação de atitude decorrente deste evento rodou o mundo em capas de jornal do mundo inteiro. Parece óbvio que isso aconteceria, certo? Certo, porém em questões de jornalismo o quanto isso foi explorado e divulgado por sua vez pareceu um tanto quanto exagerado, forçando movimentos sociais pela internet (“Somos todos macacos”) e semanas de aproveitamento da mídia de um assunto que, isolado, se tornou a “moda da vez”.

Outro caso mais recente, e talvez um tanto mais trágico, foi o caso de insultos racistas ao goleiro do Santos, Aranha, em uma partida contra o Grêmio no Rio Grande do Sul. Nesse caso, parte da torcida tricolor gaúcha proferiu gritos de “macaco”, “negro fedido”, entre outras ofensas ignorantes. Vendo assim, é unânime e correto pensar que os “racistas” deviam ser punidos da maneira que melhor lhes é cabido, no entanto, viu-se a mídia repetindo o então caso “Daniel Alves” e assim, esperando resultados semelhantes. Não foi o que aconteceu, as coberturas “novelísticas” resultaram em medidas drásticas do sistema penal e esportivo. Os ativos no ato racista foram atuados a depor na justiça, correndo risco de cadeia, e opróprio clube foi excluído de uma competição nacional pelo ocorrido.

Foi justo? Talvez, mas é exatamente neste ponto que se vê como, por influencia de uma cobertura exagerada, outros instrumentos da sociedade se mostraram a mercê da pressão midiática. Talvez os “racistas” não sejam necessariamente racistas, talvez o clube não deva se responsabilizar pelo ato de meia dúzia, talvez a menina filmada gritando “macaco” apenas tivesse cometido um erro justificado pelo “calor do momento”. Não se sabe ao certo, porém a mobilização midiática gerada pelo sensacionalismo da cobertura mostrou que a insistência noticiosa influencia no pensamento alheio.

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Caio Evangelista Moreira é estudante