Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O futebol pode fazer a diferença

A intenção não era ofender, mas ofendeu. O problema não era do Grêmio, mas foi. Era tudo encenação, mas não, não era. Desde a noite de quinta-feira (28/9), o racismo virou o tópico da vez no futebol e, por extensão, em todo o país. O problema que a cada dia se mostra mais crônico, se é que assim é possível, chega a ofuscar uma noite de quarta (27) que relembrou ao torcedor brasileiro o porquê de sua paixão pelo futebol. As viradas históricas de Botafogo e Flamengo ficaram em segundo plano, se comparadas à exclusão do tricolor gaúcho da Copa do Brasil. Entenda o caso aqui e veja as imagens aqui.

O papel da mídia e o papel do futebol nesta discussão devem ser avaliados. Após a resolução de exclusão do tricolor da competição, Fábio Koff, presidente do Grêmio, afirmou que estaria feliz com a pena se, e somente se, isso fosse acabar com o racismo no Brasil. “Mas não vai”, acrescentou. É aí que ele pode estar enganado. Assim como no jogo, não se pode fazer o segundo sem antes fazer o primeiro; um preconceito não pode começar a ser exterminado sem que a primeira punição seja sentenciada. Não entenda mal; o futebol não tem a missão de acabar com o racismo. Mas tem, pelo tamanho da sua importância, a obrigação de inibi-lo.

No centro de tudo está o goleiro Aranha, personagem principal do caso e “delegado” de si mesmo. Sabendo das implicações do que ouvia e nitidamente sentia (ver aqui), o jogador pediu aos cinegrafistas da ESPN que filmassem a torcida rival. O vice-presidente do tricolor dito imortal se expressou através de seu Twitter dizendo: “Sabem por que o árbitro não ouviu nem presenciou? Porque não houve. Foi tudo uma grande encenação do goleiro para fazer cera”. Neste ponto, a câmera serviu não só para fornecer as imagens necessárias para o julgamento, mas também como instrumento para o exercício de uma das mais importantes (e essenciais) funções do jornalismo: usar da visibilidade para dar visibilidade.

“Sem torcedor não existe Grêmio”

“A decisão do STJD pode parecer dura demais. Porém, duro mesmo é gritar em coro que um negro é macaco. Ou tentar diminuir um jogador por causa da cor da pele. O Grêmio paga o pato pelos seus torcedores. Da mesma forma que cansou de lucrar com eles. As entidades se fundem”, o jornalista Bruno Formiga comenta.

Também através de seu Twitter, Joseph Blatter, presidente da Fifa, aprovou a exclusão do tricolor gaúcho: “Eu já disse que o futebol deve ser mais forte no combate ao racismo. O Brasil mandou a mensagem correta banindo um time da Copa devido ao abuso de torcedores.”

O argumento de que “o Grêmio não deveria pagar pelo erro de seu torcedor” cai por terra em dois pontos. O primeiro é o explicitado acima. O outro parte da jurisdição. A torcedora “cara do racismo” no momento é sócia do clube. A partir daí, ela não faz parte, não compõe a “empresa Grêmio”? Quantas vezes não ouvimos o presidente Fábio Koff dizer que “o Grêmio é seu torcedor e sem ele não existe Grêmio”? Pois bem. Que seja assim na vitória e na derrota, dentro e fora de campo.

A decisão foi “padrão Fifa”.

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André Heimlich é estudante de Comunicação Social na UFF