A politicagem da imprensa nacional mostra bem que ainda não conseguimos discernir o que é útil e inútil na área da comunicação. A invasão da vida privada do pai da candidata à Presidência da República Marina Silva (PSB) é um golpe baixo que nada acrescenta na discussão por um Brasil melhor. Não interessa a ninguém saber que o senhor Pedro Augusto mora há 30 anos em uma casa de madeira em um dos bairros mais pobres de Rio Branco, capital do Acre. Ao nos dar essa informação, a mídia brasileira faz com que deva existir a métrica de que todo parente de candidato ao cargo chefe do executivo deva morar em mansão.
A intenção com esse tipo de informação – já que a mídia não encontrou irregularidades na vida política de Marina – é desmoralizar a candidata através de uma fofoca maldosa e desnecessária para o momento eleitoral. O que muitos veículos de comunicação não publicaram é que uma escolha de Pedro Augusto morar naquele local e que ele acompanha a filha sempre que pode. Também é importante dizer que Marina Silva não abandou o pai. De qualquer forma, isso pouco nos interessa, é irrelevante para o eleitorado saber da vida particular dos parentes dos candidatos.
Se formos caminhar por esse lado, devemos também fazer um levantamento a respeito dos familiares dos concorrentes Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). Esse tipo de invasão, sem justa causa, faz com que muitos jornalistas se envergonhem por colegas de profissão agirem com tamanha baixeza e com um mau caráter que não se compara nem ao pior dos políticos desse país.
“Liberdade de imprensa”
É inadmissível que muitos de nós ainda ajam com base em fofocas e exponham de forma desnecessária a vida das pessoas de uma forma tão cruel. Os jornalistas responsáveis por essa informação deveriam fazer uma reflexão sobre o impacto negativo que uma notícia como essa causa na era da tecnologia. Também devemos levar em consideração a incapacidade de muitos buscarem a informação exata sobre um tema e dispararem comentários maldosos do tipo: “Se é assim com o pai, o que não fará com o Brasil”.
Mesmo não apoiando a campanha de Marina Silva, não é possível concordar com tamanha falta de caráter dos responsáveis por essa invasão de privacidade que sofreu o senhor Pedro Augusto e no reflexo que tudo isso causou a candidata do PSB. Todos nós temos direito a uma vida particular, a privacidade é inviolável e aqueles que violam esse direito fundamental das pessoas deveriam ser punidos.
Mas como não estamos em um país sério, os profissionais responsáveis por essa barbárie se colocam atrás do “direito democrático” da liberdade de imprensa e fazem o que bem entenderem com a vida alheia.
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Vanderson Freizer é jornalista