O Brasil faturou US$ 53,5 bilhões de janeiro a agosto com a exportação de manufaturados, 7% menos que um ano antes. Ineficiência é a explicação principal – um problema tanto da indústria quando das condições gerais da economia. A excessiva dependência do mercado argentino apenas confirma essa avaliação, sustentada também pelas comparações internacionais. A balança comercial tem sido salva principalmente pelas vendas do agronegócio.
Em todas as classificações internacionais o Brasil tem aparecido muito mal. A mais recente foi divulgada há poucos dias. Em dois anos o país perdeu nove posições no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial. Passou da 48ª posição no relatório de 2012 para a 57ª, na deste ano. As duas notícias saíram, isoladamente, no começo da primeira semana de setembro.
No fim da semana o governo divulgou os números de uma nova pesquisa sobre a educação nacional. O ensino básico melhorou um pouco, mas sem atingir as metas para os anos finais do ensino fundamental (da 5ª à 9ª séries). Além disso, o ensino médio piorou em 15 estados. Todos os jornais deram destaque ao assunto. O Globo deu manchete: “Ensino médio piora em 16 estados e fica abaixo da meta”.
Editores dos grandes jornais têm dado importância a assuntos de educação. Ninguém pode acusá-los de desprezar o assunto. Mas a maior parte do noticiário continua saindo fragmentada, como se raramente alguém se dispusesse a juntar as pontas para mostrar a relação entre os fatos. Reuniões de pauta, quando os editores se encontram para discutir o jornal do dia, poderiam servir para a articulação das várias coberturas. Pelo resultado, têm passado longe dessa preocupação.
Oportunidade perdida
As três notícias são obviamente vinculadas. O enfraquecimento comercial da indústria, a perda de posições no ranking de competitividade e a baixa qualidade do ensino são capítulos da mesma história.
No ranking do Fórum Econômico, o Brasil até melhorou no quesito educação fundamental, mas o avanço foi do 88º para o 77º lugar, num conjunto de 144 países. Ou seja: educação está abaixo da média dos quesitos, quando se avalia o poder de competição do Brasil. Ensino e qualidade da mão de obra geralmente puxam para baixo a nota brasileira. Entre os itens negativos também se destacam a infraestrutura, a ineficiência estatal, as condições institucionais e a tributação.
A fragmentação desse conjunto de informações seguiu o padrão habitual. O trabalho de juntar pedaços e organizar uma história quase sempre depende, nos jornais brasileiros, de uma pauta especial. Poderia ser feito no dia a dia, às vezes com o acréscimo de umas poucas palavras ou de um pequeno quadro complementar. Mas, para isso, repórteres, pauteiros e editores teriam de olhar o conjunto do noticiário, em vez de se concentrar numa lista de itens descontínuos.
No fim da primeira semana de setembro, exatamente no dia 7, uma dessas matérias especiais juntou vários pedaços do problema da competitividade. O material saiu no Estado de S.Paulo, com chamada na primeira página: “Produzir no Brasil custa, em média, 33,7% mais”. A reportagem, publicada no caderno de Economia, percorre o conjunto dos desafios. Uma lista parcial inclui “carência de infraestrutura, falta de produtividade, elevada carga de impostos, mão de obra deficiente e uma base tecnológica atrasada”.
Não seria possível, nem teria sentido, lembrar todos esses detalhes todos os dias, mas custaria pouco esforço e gastaria pouco espaço acrescentar umas poucas ligações quando o noticiário apresenta assuntos obviamente vinculados. A primeira semana de setembro foi rica de oportunidades para esse tipo de trabalho. Faltou aproveitá-las e presentear o leitor com um cenário mais claro e mais organizado.
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Rolf Kuntz é jornalista