Que a tecnologia vai mudar a educação ninguém duvida. É tão divertido quanto uma novela acompanhar os desenvolvimentos nessa área.
Por exemplo, quando se pensa em educação para o mercado, o primeiro conceito que vem à mente são três letrinhas: MBA (Master of Business Administration –Mestrado em Administração de Empresas). Só que agora isso pode mudar.
Uma empresa criada em Stanford –a Udacity– introduziu um novo conceito educacional revolucionário, que tem o potencial de fazer os MBAs de hoje parecerem paquidermes generalistas. Trata-se do Nanodegree, um “nanocertificado” que permite ao aluno aprender habilidades específicas necessárias para o mercado de trabalho.
Em vez de passar 2 a 3 anos em um MBA, aprendendo coisas úteis e inúteis para sua carreira, o Nanodegree foca em habilidades práticas. Com programas que em geral duram 6 meses, ensinam especificamente habilidades altamente valorizadas pelo mercado de trabalho.
E, mais importante, não ficam só no ensino. O Nanodegree envolve o aluno em um projeto prático, avalia e certifica para o empregador que ele dominou aquelas habilidades.
A Udacity oferece hoje quatro Nanodegrees (todos online). Fez também parcerias com empregadores, como a AT&T nos EUA, que contrata quem teve bom desempenho.
É um tipo de educação em sintonia com o mundo de hoje: permite o aprendizado constante de novas habilidades altamente valorizadas, com flexibilidade e de forma “customizada”, sem a necessidade de se comprometer (tanto em tempo quanto em dinheiro) com um programa de longa duração.
Na semana passada participei de um almoço com Daphne Koller, diretora de outra empresa que está sacudindo o mundo da educação superior, a Coursera.
Ela veio ao Brasil para anunciar parceria com a USP e a Unicamp, que vão disponibilizar cursos inteiros on-line gratuitamente. A primeira leva vai ser focada em finanças e empreendedorismo. O curioso é que, mesmo antes da parceria, a Coursera já tem 300 mil estudantes no Brasil, só com cursos em inglês.
Democratização da educação
O número demonstra a alta demanda por esse tipo de educação. Agora que os materiais estão sendo traduzidos para o português e junto com a parceria da USP e da Unicamp, a expectativa é de que o número de alunos brasileiros exploda.
Como será o futuro nesse mundo em que a educação migra para a internet e a tendência é oferecer cursos longos gratuitos na rede, ou Nanodegrees de curta duração pagos?
Os mais apocalípticos dizem que isso ameaça as universidades globais e que só as instituições de elite dos EUA e da Europa vão conseguir sobreviver nesse contexto.
Os mais otimistas, como eu, achamos que essa é uma onda extraordinária de democratização da educação superior. Uma que rompe com o encastelamento do conhecimento dentro dos muros universitários.
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Ronaldo Lemos é advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro