Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A cultura da violência que cultivamos na sociedade

O Revogo, um projeto fotográfico que está sendo produzido no Brasil por André Liohn, fala sobre a violência social presente em nossa cultura. O projeto questiona sobre como o mercado transformou sensualidade em devassidão e tornou isso um atributo feminino necessário. Fala sobre prostituição, sobre os jovens negros que morrem nas periferias vítimas do crime organizado e também de crimes policiais cometidos nas comunidades. Mostra a ineficiência do Estado em dar condições de vida á sociedade. Também aborda a espiritualidade e o consumo, traçando uma ligação entre religiosidade e sucesso econômico. Segundo Liohn, o Diabo não é mais aquele que te culpa pelos atos errados, mas sim, aquele que impede você de comprar o suficiente.

Ele espera que quando o projeto estiver finalizado, se revoguem as certezas que nós temos sobre o que é violência no Brasil, quer que se pergunte até que ponto nos identificamos ou não como violentos. “O que eu chamo de violência não é só a violência física do crime. Estou explorando dentro da nossa cultura o que chamo de cultura da violência, que fala como patrocinamos e ganhamos dinheiro com a nossa violência e como esse processo nos tira a sensibilidade para resolver os grandes problemas da nossa sociedade”, disse Liohn.

André Liohn é um fotógrafo brasileiro nascido em Botucatu (SP). Mudou-se para a Noruega quando tinha 20 anos. Trabalhou com comércio exterior até os 30, quando decidiu se dedicar à fotografia. Iniciou seu primeiro projeto sobre o que ele gostaria de entender a respeito das drogas, os problemas envolvidos com o uso e o tráfico. O que o motivou a fazer esse trabalho foi já ter sido dependente químico. Como naquele momento a Noruega era o país onde havia mais mortes por overdose de heroína, decidiu se aproximar da reflexão do por que aquilo acontecia. Esse trabalho ganhou notoriedade na Noruega e o levou a ganhar um prêmio de melhor fotógrafo do país.

Liohn tinha um amigo na Noruega que era jornalista refugiado da Somália e iria voltar para lá. Decidiu ir junto, tendo então seu primeiro contato com a guerra. Meses depois, seu amigo foi assassinado e Liohn passou a morar na Etiópia, cobrindo a partir de lá tudo o que estava acontecendo na Somália. Seu trabalho foi reconhecido e começou a trabalhar para a revista alemã Der Spiegel, cobrindo a Primavera Árabe, os conflitos na Síria, Líbia, Egito e Bahrein. Na Síria, foi preso e torturado pelo que depois viria a ser o Exército Livre da Síria. Resolveu parar por um tempo com as coberturas de conflitos e se dedicar mais ao seu trabalho intitulado Revogo, que fala sobre segurança social e violência no Brasil.

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Pâmela Ellen é estudante de Jornalismo