Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

É preciso reformar o ‘jornalismo explicativo’

Em artigo para o The Washington Post, Henry Farrell, professor de ciências políticas e relações internacionais na Universidade George Washington, discute os rumos do que ele intitula “jornalismo explicativo”. De acordo com Farrell, enquanto o jornalismo convencional se firma em especialistas externos, podendo assim se proteger sob a aba de autoridade destes peritos para culpá-los caso suas teorias estejam erradas, o jornalismo explicativo repousa na autoridade da pessoa que fornece a explicação. (E reitera que atualmente a maioria dos sites acabam por construir sua identidade em torno do jornalismo explicativo, reivindicando para si o título de “especialista no assunto”.)

Farrell diz que o problema aí é duplo. Primeiro, os “explicadores” muitas vezes podem interpretar as coisas erroneamente. Isto é especialmente provável em política internacional, onde o jornalista supostamente deveria ter experiência em muitos mais países e muito mais problemas do que qualquer ser humano seria capaz. Em segundo lugar, o “explicador” vai ter dificuldade em admitir que interpretou algo errado. Se a sua autoridade e meios de subsistência como escritor repousarem sobre sua suposta capacidade de explicar, você não vai querer admitir que errou, mesmo que tenha errado de fato.

Assim, em vez de reagir ao fracasso diluindo reivindicação inicial a um ponto sem sentido, o jornalismo explicador necessita modificar sua afirmação implícita de autoridade. Especificamente – tal como ciências nas sociais – ele precisa raciocinar sobre como a evidência em questão não demonstra que esta ou aquela afirmação é verdadeira. Em vez disso, a evidência apoia (ou não apoia) a hipótese de que esta ou aquela afirmação é verdadeira, reitera Farrell.

Isto não significa, no entanto, que o jornalismo explicador precisa adotar a prosa rígida e as velhas ressalvas estereotipadas dos artigos acadêmicos. Mas mesmo quando faz reivindicações fortes e interessantes, deve conter os elementos de apoio a tais reivindicações, oferecendo explicações alternativas e dando ao leitor uma sensação de que a alegação com argumentação mais completa parece ser a mais plausível. Em outras palavras, é preciso construir um senso de falibilidade do explicador para com o argumento, e fornecer ao leitor algumas das ferramentas necessárias para avaliá-lo por si só. Isso ajuda o jornalismo explicativo a evitar problemas tanto no momento em que este comete erros quanto no ato de deixar o leitor bem informado.

Farrell reconhece, no entanto, que isso é um desafio, já que o jornalismo tem forte envolvimento humano e de visão pessoal de mundo. “Na verdade, o próprios os cientistas sociais – que estão tentando descobrir como lidar com os problemas relacionados à própria pesquisa – podem em algum momento aprender com estas novas formas de apresentação jornalística, trazendo assim um melhor desempenho ao jogo (o qual certamente necessita melhoras bastante)”, conclui ele.