Uma nova versão da Vila Sésamo vem aí. O anúncio foi feito na quarta-feira, dia 1º de outubro, na Fundação Padre Anchieta. Trata-se de uma parceria entre a TV Cultura, a TV Brasil e o Sesame Workshop, instituição criadora da série de TV. Garibaldo e sua turma estarão de volta à grade de programação das duas emissoras no segundo semestre de 2015. A atração terá 120 capítulos, com duração de 30 minutos cada, incluindo novos personagens.
O anúncio foi seguido de um seminário para desenvolver o currículo educacional da série, adequado às demandas atuais das crianças brasileiras. Consultores, diretores e roteiristas já trabalham na criação de um produto capaz de dialogar com as diferentes mídias, da TV à tecnologia móvel.
Saiba mais sobre a Sesame Workshop
Em 2004, o presidente da Sesame Workshop, Gary Knell, esteve no Brasil para participar da 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes, evento promovido pela Prefeitura do Rio, por meio das ações da MultiRio. Na ocasião, pude entrevistá-lo. Ele falou sobre os critérios, as dinâmicas de trabalho e os objetivos.
Acompanhe a entrevista:
Como surgiu o Sesame Workshop e quais eram os objetivos?
Gary Knell – O Children’s Television Workshop (CTW), hoje mais conhecido pelo nome Sesame Workshop, surgiu com o trabalho do seu cofundador Joan Ganz Cooney. No final dos anos 60, Cooney começou a usar a TV para ajudar no rendimento das crianças na escola. Já naquela época, a TV tinha um enorme impacto no dia-a-dia do público infantil. As pesquisas indicavam que as crianças gostavam e se identificavam mais com as cantigas publicitárias do que com os programas que assistiam. Cooney e sua equipe acharam então que as crianças aprenderiam conteúdos importantes se estes fossem apresentados de uma maneira atraente. Desta experiência, surgiu o programa infantil mais assistido de todos os tempos: o Sesame Street. O programa, lançado em outono de 1969 (no dia 10 de novembro), tinha o objetivo de ensinar conhecimentos e valores para as crianças, especialmente para crianças pobres e de minorias, na faixa etária entre dois e cinco anos. Com uma duração diária de uma hora, cada episódio era minuciosamente estudado e pesquisado. Ainda hoje, o CTW continua a inovar em nome das crianças em 120 países, utilizando sua própria metodologia para assegurar que seus programas e produtos sejam atraentes e enriquecedores. O Sesame Workshop está por trás de programas premiados como Dragon Tales, Sagwa, The Chinese Siamese Cat e produções multimídia de imenso sucesso em Israel, Palestina, Jordânia, África do Sul e Egito.
Sesame Workshop reúne educadores, pesquisadores, psicólogos, especialistas em crianças, artistas, escritores e músicos para traduzir idéias em ação. Como é desenvolvido este trabalho?
G.K. – O Sesame Workshop tem desenvolvido produtos de mídia educativos desde 1968. Desde então, acreditamos que os produtos devem ser educativos e divertidos. Para isto, investimos na produção, no conteúdo educativo e em pesquisas. Estas três ações não estão diretamente associadas, tradicionalmente, à produção de mídia. A princípio, muitos profissionais diziam que este modelo não teria sucesso devido aos diferentes panos de fundo e de valores de cada uma das três áreas. Contudo, o modelo foi eficiente e seu primeiro produto foi o Sesame Street. No modelo do Sesame Workshop, o desenvolvimento de um projeto maior passa por diversos estágios. Seminários de pré-produção reúnem produtores, educadores e pesquisadores para definir metas curriculares e explorar formatos educacionais que sejam eficientes para atingir os objetivos traçados. Enquanto escritores e produtores preparam roteiros e outros materiais, especialistas em conteúdo e pesquisadores colaboram no refinamento dos formatos das produções, aliando os preceitos educativos e as necessidades e capacidades das crianças. Nos estágios iniciais da produção, pesquisadores testam elementos do formato e do desenho do programa para ajudar a qualificar a produção. Quando as peças ficam prontas, os pesquisadores realizam testes para averiguar sua atratividade e compreensão. Com a produção em série terminada, investiga-se, por meio de amostras, a eficiência educacional dos programas. Em todo o processo de produção, especialistas de conteúdo verificam se os objetivos curriculares são claros em todos os aspectos da execução. O Sesame Workshop tem funcionado eficientemente por mais de 35 anos com benefícios evidentes para a educação de crianças no mundo inteiro.
Quais são as dificuldades que o Sesame Workshop enfrenta hoje para desenvolver/produzir mídia de qualidade para crianças e adolescentes?
G.K. – Nossas crianças estão crescendo num mundo diferente do que vivemos há somente uma geração. Trata-se de um mundo mais global e mais complicado que apresenta novos desafios e oportunidades. Desta forma, procuramos alcançar, cada vez mais, um maior número de crianças, lançando novas iniciativas para ajudá-las a progredirem no mundo de hoje. Em 2003, participamos de uma cúpula global sobre educação na mídia. O seminário defendeu o respeito intercultural e a compreensão entre as crianças de dois a 14 anos. Participaram da cúpula grupos de educadores, pesquisadores, representantes de emissoras de TV, produtores, governos e organizações internacionais. Hoje, seja criando programação no Oriente Médio, no Japão ou na Irlanda do Norte, estamos, mais do que nunca, apresentando imagens positivas e temas como amizade e respeito.
Como o Sesame Workshop trabalha com as regras impostas pelo mercado e os interesses culturais, educativos e de entretenimento de cada região onde suas produções são veiculadas?
G.K. – Vila Sésamo, por exemplo, é uma experiência compartilhada no mundo inteiro. A chave do seu sucesso é que cada coprodução possui a essência do Sesame Street original, mas também tem sua própria forma, ritmo, humor e música extraídos da cultura local. Toda criança que assiste à série se identifica. E quando as lições refletem suas próprias experiências as crianças são beneficiadas. Produtores locais, diretores e escritores traduzem então estes objetivos em conteúdo televisivo. No Egito, por exemplo, o foco de “Alam Simsim” é na educação das meninas – em todo o país, somente metade das meninas é alfabetizada. O “Takalani Sesame”, na África do Sul, enfatiza a alfabetização, o ensino dos números e habilidades para a vida. Além disso, na última temporada, introduzimos Kami, um boneco HIV-positivo para combater o preconceito e favorecer o diálogo e a amizade entre as pessoas. Hoje, a AIDS é uma doença que afeta um de cada nove sul-africanos. Desta forma, causamos um impacto direto no dia-a-dia das populações locais – com conteúdo relevante e apropriado para cada idade.
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Marcus Tadeu, da revistapontocom