Sete dias, três manchetes negativas, três positivas. Tal foi o saldo da última semana da campanha de Dilma Rousseff na Folha. As três boas notícias eram resultados de pesquisa do Datafolha, que mostraram a petista recuperando a vantagem nas pesquisas. (Ok, vamos combinar que esse é o fato que realmente importa à candidata que disputa seu futuro político nas urnas hoje.)
Dilma não teve o monopólio das más notícias. Marina Silva (PSB) apareceu em três manchetes, todas em cenário de queda livre, em oposição à subida em marcha lenta de Aécio Neves (PSDB). Lanterninha e relegado pelo noticiário até a última semana, o tucano ficou com dois títulos positivos na reta final.
Dos três, a presidente foi a única a figurar em manchetes extrapesquisas. Apanhou por tabela (“PF investiga ligação entre tesoureiro do PT e doleiro preso”), do mercado (“Com Dilma em alta, Bolsa tem maior queda em três anos”) e por sua própria conta (“Dilma não cumpriu 43% das promessas de 2010”).
Registre-se que o título que falta para completar a semana era uma bordoada no tucano Geraldo Alckmin, candidato ao governo de SP.
Com pouca diferença, esse recorte semanal pode ser estendido à cobertura política desde 23 de agosto, quando a entrada tardia de Marina Silva fechou o quadro, e o departamento da ombudsman começou a contabilizar a cobertura eleitoral. Predomínio absoluto da eleição majoritária federal, e disputas estaduais reduzidas a coadjuvantes.
Dilma/PT foram responsáveis por 46% das chamadas na capa; Marina/PSB, por 37%, e Aécio/PSDB, por 17%. Nas páginas internas, os números mudam um pouco: 46%, 29% e 25%, respectivamente.
Buscar equilíbrio no noticiário político-eleitoral é uma cruzada difícil. Primeiro porque não se pode dar peso igual para candidatos diferentes. Quem está no poder desfruta da janela, mas tem muito mais vidraça –inevitável que tenha mais vidros quebrados. Idem se estiver na frente, como Marina Silva comprovou quando estava em ascensão.
Além de ocupar o cargo mais alto do país, Dilma é fustigada por um cenário de índices econômicos ruins, e economia é item de primeira necessidade no noticiário. É natural que assim seja. Como candidata à reeleição, ela carrega o ônus e o bônus de estar sob os holofotes em tempo integral, ocupando um espaço que seus concorrentes penam para obter. É ingenuidade achar que isso só tem lado ruim. Na política, pior do que aparecer mal é aparecer pouco, como Aécio deve ter percebido nos tempos de índices magros.
Das 49 chamadas negativas para a campanha do PT, 25 se referem ao governo federal. Dilma, a candidata, foi agraciada com 24, duas a mais do que sua adversária do PSB. O tucano de Minas ficou com 17.
Parte dos leitores se queixa de distorções e vieses. As reclamações são inevitáveis, não só porque eles realmente existem (apontei três aqui no domingo passado) mas também porque a polarização turva o cenário, a racionalidade e a memória, que é seletiva por natureza. Eleitores não gostam de nada ruim sobre seu candidato nem de notícia “mezzo” boa sobre os adversários deles.
A estridência da Folha –que Joaquim Barbosa, em seu dia de ombudsman (quinta, 2), chamou de estardalhaço– acentua a polarização. O ex-ministro do STF levantou outro aspecto importante: a antipatia do jornal por tudo o que vem do setor público. Já comentei antes o azedume atávico que é parte de seu DNA, mas o viés negativo da Folha é ainda mais acentuado quando se trata de governos, o que leva a abordagens exageradas ou distorcidas.
Na dose certa, o olhar crítico e a desconfiança do poder público podem ser um bônus que aproxima o jornal da imparcialidade perseguida; na medida errada, viram um ônus que obriga o leitor a dar um desconto a boa parte do que lê.
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Vera Guimarães Martinsé ombudsman daFolha de S. Paulo