Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Porta dos Fundos faz da TV sua 2ª tela

Com média de 4,5 milhões de visualizações por vídeo na internet, os esquetes do grupo Porta dos Fundos chegam à TV sem censura – ao contrário, promete Ian SBF, sócio e diretor da trupe: as apresentações gravadas especialmente para o empacotamento de vídeos em 26 episódios para a FOX contêm situações que, revistas pela trupe, surpreendem até seus humoristas. Compilados e divididos em 26 episódios, os esquetes ganham espaço nobre ao serem “ensanduichados” entre dois grandes sucessos da FOX: Os Simpsons e a nova temporada da aclamada série The Walking Dead, que estreia na mesma terça, dia 14, no canal.

“Nossa motivação básica é fazer um programa em que a gente acredite”, disse Ian ao Estado. O Porta dos Fundos na TV seguirá o formato dos primeiros vídeos do grupo, quando Gabriel Totoro, toscamente posicionado em seu smoking, fazia o papel de mestre de cerimônias ao alinhavar um enredo no outro, em vídeos mais longos. Logo o grupo perceberia que o formato curto, sem apresentação, em pílulas, faria mais efeito. Agora na TV, o ideal daquele início veio à tona e Totoro voltou a vestir seu smoking.

A ocasião contará ainda com participação especial do elenco do grupo, além de figuras populares como Pepê e Neném e o deputado Jean Willys. “Sempre nos inspiramos em Monte Python, TV Pirata, e na ida para a TV pudemos retomar aquele conceito inicial”, fala Ian. “O que mais me empolga no programa são justamente as cabeças novas. O texto da Gabriela Esteves é inacreditável. O que me deixou muito feliz é que a gente está tendo mais liberdade do que se permitia ter na web. Às vezes eu digo: ‘não é possível, alguém viu isso?’ ‘Alguém sabe o que a gente tá fazendo?’ Nada é editado e isso nem foi uma imposição nossa: a FOX sempre jogou junto. Eles entendem que nada pode ser censurado.”

A busca por uma nova experiência diante de esquetes já tão visitadas pelo público é outra motivação. Embora nenhum deles precise provar seu alto potencial de audiência, Fábio Porchat acredita que a chegada à TV pode ser conteúdo inédito para muita gente e, por tabela, também pode abastecer o ibope do grupo na internet.

“Metade dos lares não tem internet”, argumenta Porchat. “Apesar de o acesso ao Porta ser muito forte e de muita gente ver no celular”, continua “muita gente não viu tudo.” São mais de 300 vídeos. “Muita gente viu os principais, mas não viu outros, e nós mesmos, quando revemos algumas coisas, falamos: ‘caramba, lembra disso?’” Na mais razoável das hipóteses, “a pessoa assiste ao programa e vai até o site para ver outros. “Acho que vai ter uma ligação forte da internet com a TV.”

Série inédita

A compilação de vídeos atendeu a critérios de diversidade – de temas e elenco. Tecnologia, academia, super-herói e eleição estarão na tela da FOX. Entre os vídeos selecionados para a TV, tem Na Lata, Brainstorm, Suborno, Mulheres, Entrevista, Porta da TV, Programa Político, Happy Hour, Reunião de Emergência e Leiconha.

Um teste inédito para historinhas tão revisitadas pela web é saber como será a reação da plateia diante de uma tela mais coletiva – em geral, a TV reúne mais gente à sua volta que uma telinha de celular ou de computador, onde a experiência do espectador quase sempre é individual. Afinal, o humor ácido do Porta pode provocar reações ou constrangimentos distintos quando visto pela TV?

“Se a gente tivesse estreado direto na TV, talvez houvesse um estranhamento muito maior sobre o que a gente faz, mas, como as pessoas já conhecem a nossa pegada, vamos causar uma estranheza muito menor”, acredita Porchat.

Os episódios têm de oito a 15 esquetes, dependendo da duração dos vídeos selecionados. O critério do empacotamento segue apenas a necessidade de fazer com que todos caibam em meia hora, faixa que vai ao ar todas as terças, às 22h.

A produção do programa nesse formato é da Endemol Brasil. Mas, até o fim de 2015, quando o Porta dos Fundos apresentará sua primeira série inédita para a FOX, em 13 episódios, a produção será da produtora que o grupo está abrindo agora, com chancela própria. Uma conquista de gente grande, sem perder o tom artesanal, promete Ian.

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Cristina Padiglione, do Estado de S.Paulo