Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo
Segunda-feira, 22 de julho de 2008
MÍDIA & POLÍTICA
EUA tentaram influenciar reforma política do Brasil
‘Em 2005, a Usaid, uma agência norte-americana ligada ao Departamento de Estado, gastou US$ 95 mil para promover um seminário sobre a reforma política brasileira. O evento aconteceu no Congresso brasileiro, teve uma entidade local como parceira e palestrantes estrangeiros e brasileiros.
O objetivo, segundo documentos obtidos pela Lei de Liberdade de Informação norte-americana e passados à Folha com exclusividade pelo pesquisador independente Jeremy Bigwood, era fazer o seminário coincidir com a véspera da discussão do tema no Legislativo brasileiro -e um ano antes da reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva-, como maneira de ‘expandir o debate da reforma política brasileira’.
Dois dos pontos que pareciam preocupar os proponentes norte-americanos do seminário eram a profusão de partidos pequenos no Brasil e a infidelidade partidária -e como isso parecia ocorrer com mais freqüência na direita do que na esquerda. ‘Embora esse padrão de fraca disciplina partidária seja encontrado em todo o espectro político, é menos freqüente nos partidos da esquerda progressista, como o Partido dos Trabalhadores’, afirma um dos documentos.
‘A cobertura máxima da imprensa deve ser buscada, com o objetivo tanto de instruir a imprensa política sobre as questões como estimular o debate nacional’, continua o texto, que traz o título ‘Brazil – Support for Activity to Promote Broad Public Discussion on Political Reform’ (Brasil -Apoio para Atividade de Promover Ampla Discussão Pública sobre Reforma Política).
O sucesso do programa seria avaliado conforme seis critérios, informa o documento, entre eles a ‘influência da conferência no debate nacional (incluindo a cobertura da mídia)’ e a ‘nacionalização’ da conferência, de maneira que essa não seja vista como divulgadora da perspectiva dos EUA’.
Essa preocupação em parecer local e não americano se manifesta em outro trecho, em que é exortado que haja contato com a consultoria legislativa via Setor Político da Embaixada dos EUA no Brasil, ‘devido à sensibilidade da questão’.
O plano pede que todo o espectro político brasileiro seja contemplado entre os palestrantes convidados e é assinado pelo Consórcio para Fortalecimento dos Processos Políticos e Eleitorais (Cepps, na sigla em inglês), que reúne três grupos norte-americanos sem fins lucrativos que recebem fundos federais para ajudar países a desenvolver seus processos democráticos.
Um dos grupos era o Instituto Republicano Internacional (IRI), baseado em Washington, que capitaneou a operação. Criado em 1983 por iniciativa do então presidente Ronald Reagan (1981-1989), tem à frente o senador John McCain. O candidato da situação à sucessão de George W. Bush ocupa algum cargo no instituto desde 1993; hoje é o diretor de seu conselho.
Desde que Bush assumiu a Casa Branca, o orçamento anual do IRI dobrou para os atuais US$ 79 milhões. A verba vem principalmente da Usaid e do National Endowment for Democracy (fundo nacional pela democracia, ligado ao Congresso dos EUA).
Após contratempos e adiamentos, o IRI colocou o seminário em pé. Nos dias 9, 10 e 11 de agosto de 2005, no auditório Nereu Ramos da Câmara, foi realizado o evento ‘Reforma Política – Desafios e Perspectivas do Fortalecimento das Instituições Políticas Brasileiras’.
A parceira local foi o Centro de Estudos das Américas da Universidade Candido Mendes, do Rio. Além do IRI, trabalharam na organização a norte-americana Fundação Internacional para Sistemas Eleitorais (Ifes, na sigla original) e a alemã Fundação Konrad Adenauer (KAS).
Na página da Câmara que anunciava o evento, o texto começava com a frase ‘A reforma política entrou de vez na agenda legislativa’.
Ninguém recebeu cachê, e as despesas de viagem dos convidados estrangeiros foram pagas pela Usaid. Entre eles, pelo menos um nome hoje ligado à campanha de McCain.
A rigor, a entidade não quebrou nenhuma lei norte-americana. Por ser uma organização chamada 501 (c)(3), nome tirado da seção da Lei do Fisco dos EUA que a regula, ela pode operar em qualquer lugar do mundo que permita que ela opere. É o que disse à Folha Marcello Hallake, de escritório de advocacia Thompson & Knight, baseado em Nova York e especializado em organizações beneficentes. Quanto a atividades políticas, no entanto, há restrições quanto ao que uma 501 (c)(3) pode ou não fazer. Uma das proibições é lobby político -nos Estados Unidos.
Não é a primeira polêmica a envolver o IRI. A entidade foi acusada de ajudar a fortalecer os grupos que derrubaram o então presidente do Haiti, Jean-Bertrand Aristide, em 2004 -a organização nega as acusações.
Dois anos antes, no golpe frustrado que tirou do poder o venezuelano Hugo Chávez por algumas horas, o IRI soltou comunicado em que comemorava a vitória da democracia naquele país. O instituto depois se desculpou.
‘Pelo passado da entidade, não me surpreende essa atuação do IRI no Brasil’, disse Sarah Hamburger, do progressista Council on Hemispheric Affairs, de Washington.
Foi o último seminário do tipo do instituto no país. A reforma política brasileira não passou no Congresso até hoje.’
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Alvo é fortalecer as democracias, afirma agência
‘Em resposta à Folha, a Usaid disse oferecer atividades no mundo todo para apoiar o fortalecimento dos processos políticos democráticos e eleitorais. A agência afirmou que dá ênfase ao planejamento a longo prazo e ao desenvolvimento sustentável dos processos políticos e eleitorais, e não a atividades motivadas por crises ou eventos isolados.
Segundo a Usaid, os programas relacionados aos processos eleitorais e políticos refletem dois princípios da política de assistência a partidos políticos da organização: apoiar sistemas representativos e multipartidários e não tentar determinar os resultados dos pleitos.
A agência disse ainda que, no seminário de agosto de 2005, procurou juntar figuras-chaves da cena política brasileira -de todas as ideologias- para expandir o debate sobre reforma legislativa em discussão na época.
Para Clóvis Brigagão, coordenador do Centro de Estudos das Américas (CEAs) da Universidade Candido Mendes, ‘institutos de partidos políticos, sejam democratas ou republicanos, no caso dos EUA, e fundações, como a Friedrich Ebert, ligada ao social-democrata SPD, no caso da Alemanha, fazem isso todo o tempo e não representam interferência nos assuntos internos da vida política ou dos partidos de um país’.
Já para Silvério Zebral, organizador do seminário e coordenador da área de programas de partidos políticos do CEAs em 2005, ainda que fossem prováveis a intenção e o impacto sobre as decisões políticas locais, os diplomatas e operadores de política externa conhecem outros meios legais e mais eficientes do que estes, para fazê-lo.’Estou certo de que a classe política nacional e os formuladores de políticas públicas brasileiros são capazes de lidar com embate entre interesses contrários.’
Até a conclusão da edição, a assessoria de imprensa do IRI não localizou ninguém que pudesse falar sobre isso à Folha. (SD) Colaborou ANTÔNIO GOIS , da Sucursal do Rio’
INTERNET
Net passa Brasil Telecom em clientes de banda larga
‘A Net terminou o segundo trimestre com 1,798 milhão de assinantes de banda larga, superando a Brasil Telecom (1,710 milhão) e se tornando a terceira empresa com mais clientes nesse segmento, com um crescimento de 61% na base em relação ao mesmo período do ano passado.
Oi e Telefônica ainda não divulgaram os balanços, mas, em março, tinham, respectivamente, 1,638 milhão e 2,166 milhões de clientes.
‘Essa é uma tendência que já vinha se delineando. A Net liderou o crescimento da banda larga em adições líquidas durante todo o ano de 2007 e em 2008’, comentou o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude.
Já em número de assinantes de TV paga (2,709 milhões), a operadora teve aumento de 18%, e o Net Fone via Embratel (982 mil clientes) apresentou expansão de 178%. Apesar da alta de 27% na receita, o lucro caiu 12%.
Segundo o presidente da empresa, José Felix, as vendas de decodificador que têm conversor para TV digital aberta e gravador embutidos chegaram a 12.700 unidades.’
Raquel Cozer
Conspiração
‘Jim Morrison não morreu, Marilyn Monroe foi vítima de queima de arquivo, e Shakespeare mal sabia escrever. As fontes oficiais negaram espaço à propagação de versões como essas, mas elas acabaram encontrando lugar, décadas ou mesmo séculos depois, na web.
A rede mundial virou um ambiente tão propício às teorias da conspiração que, recentemente, dois jornalistas americanos resolveram lançar nos EUA um guia de sites com essas ‘verdades alternativas’.
‘Web of Conspiracy’ (rede de conspiração) faz uma seleção das melhores páginas para entender 21 teorias, das mais disseminadas, como as que vêem no 11 de Setembro uma armação do governo Bush, a outras que vão fundo no nonsense -caso do chamado Experimento Filadélfia, segundo o qual a marinha dos EUA teve êxito, durante a Segunda Guerra, em teletransportar um navio no tempo e no espaço.
O dado curioso é que James F. Broderick e Darren W. Miller, os autores, resolveram se aventurar pelo duvidoso mundo da conspiração on-line justamente após concluírem, em 2007, um guia crítico de cem sites relevantes de notícias, ‘Consider the Source’ (leve a fonte em consideração).
‘Pesquisando para o outro livro, nós nos deparamos com sites realmente interessantes de teorias conspiratórias. Percebemos que muitas pessoas que têm credibilidade, como historiadores, cientistas e ex-militares, revelaram evidências sobre certos casos que fazem pensar nos detalhes que as histórias oficiais não explicam’, afirma Miller, à Folha, por telefone, de Georgia, nos EUA.
Deixadas de lado ‘páginas criadas desordenadamente por garotos de 13 anos’, os autores centraram esforços em teses defendidas por gente como Brenda James, co-autora de ‘The Truth Will Out: Unmasking the Real Shakespeare’ (a verdade vem à tona: desmarcarando o verdadeiro Shakespeare, 2005), que criou um site para sustentar a idéia de que saíram da pena do escritor Henry Neville (1564-1615) todas as peças e os sonetos assinados pelo bardo inglês (1564-1616).
O livro lista dez endereços com outras opções de ‘verdadeiros autores’ de obras como ‘Hamlet’ e ‘Rei Lear’. A teoria é uma das mais antigas cobertas no livro -os primeiros questionamentos em relação à autoria das obras de Shakespeare datam do século 18.
‘Muitas evidências sugerem que ele não teria a habilidade, ou a educação, ou a familiaridade com o inglês aristocrático para escrever o que escreveu’, diz Miller, admitindo ser esta uma das teses que o fizeram ‘repensar a versão oficial’.
‘Mas nossas conclusões não entram no livro’, esclarece -embora, vez por outra, o guia deixe escapar crenças pós-mergulhos conspiratórios.
11/9 como marco
A internet ajudou a propagar idéias surgidas em décadas passadas, como a de que o suicídio de Marilyn Monroe (1926-62) foi forjado para que seu relacionamento com os irmãos John e Bob Kennedy não os prejudicasse politicamente, e a de que Jim Morrison (1943-71), vocalista do The Doors, foi assassinado ou que ainda esteja vivo -qualquer hipótese mais emocionante que um ataque cardíaco na banheira aos 27 anos.
Mas, para Miller, as ‘primeiras teorias da conspiração moderna’ são as que envolvem o 11 de Setembro, justamente por terem sido as primeiras a tirar ‘vantagem imediata’ da rede.
‘No assassinato de JFK, por exemplo, ninguém teve a possibilidade de ir para casa depois do que aconteceu e começar a postar o que viu. No 11 de Setembro, as teorias e os vídeos se espalharam como fogo violento. Tudo foi imediato, e havia todo tipo de informação na internet, tanto acurada quanto especulações insanas.’
As insanidades fazem Miller destacar o perigo da net como terreno pródigo em versões extra-oficiais. ‘Mas, por outro lado, quanto mais informada, mais uma pessoa pode diferenciar o certo do errado’, avalia.
WEB OF CONSPIRACY: A GUIDE TO CONSPIRACY THEORY SITES ON THE INTERNET
Autores: James F. Broderick e Darren W. Miller
Editora: CyberAge Books
Quanto: US$ 13,60 (cerca de R$ 22, mais taxas, em www.amazon.com)’
MEMÓRIA / DERCY GONÇALVES
Dercy
‘RIO DE JANEIRO – Entre as coisas estranhas que me aconteceram, a mais complicada e inútil foi a de superintender a teledramaturgia da antiga Rede Manchete, que então atravessava boa fase, com produções de sucesso, como ‘Marquesa dos Santos’ e ‘Dona Beja’. Em conversa com Adolpho Bloch, ele sugeriu que se fizesse uma novela tendo como cenário principal uma gafieira dos tempos em que ele chegara da Rússia, e cujo nome era ‘Kananga do Japão’.
Havia o filme ‘Cabaret’, um palco da Berlim dos anos 20 do século passado. A partir desse palco, foi contada a história da ascensão do Terceiro Reich. Contratei pesquisadores para fuçar a história nacional dos anos 29 a 39, fizemos um bom levantamento de fatos políticos, sociais, esportivos e artísticos, mas nenhum deles sabia o que era Kananga do Japão. Muito menos o próprio Adolpho, que fora freguês da gafieira.
Convidamos Dercy Gonçalves para dar um depoimento sobre aquele período. E dela veio a luz: Kananga do Japão era o nome de um perfume vagabundo, muito usado pelas prostitutas que vinham da Europa e se instalavam no Mangue ou nas imediações da velha Praça Onze.
Numa reunião qualquer, quando alguém dizia que sentia o cheiro daquele perfume, era um código decente para avisar que havia uma profissional no pedaço. A partir dessa informação, foi mais fácil desenvolver o roteiro da novela, na qual a própria Dercy fez uma ponta, como a grande comediante do teatro de revista que só acabou com o advento da televisão, na qual ela também teve papel de destaque.
Fez um gênero difícil para a sua época. Ela lembrava que, quando dizia um palavrão, era criticada como desbocada. E reclamava: ‘Hoje o palavrão é expressão cultural’.’
ANIMA MUNDI
Cores em choque
‘Um padre que escolheu o celibato para expiar a culpa por suas ações do passado é obrigado a adotar uma menina de cinco anos, filha de sua irmã, uma celebridade pornô que morreu.
É esse cenário ‘sui generis’ que dispara a trama de ‘Princess’, uma das animações mais impactantes dos últimos tempos e um dos melhores filmes do 16º Anima Mundi, que tem início hoje em São Paulo.
Dirigido pelo dinamarquês Anders Morgenthaler, 35, o filme esteve na Quinzena dos Realizadores de Cannes 2006 e participa da competição de longas do festival brasileiro -será exibido na capital paulista na sexta (25/7), às 22h, na sala 1 do Memorial da América Latina.
Feito com técnica mista (usa diferentes tipos de animação, do lápis ao digital, além de cenas com atores reais), ‘Princess’ parece o tipo de coisa que Lars von Trier faria se um dia se metesse com desenho: é violento, ocasionalmente engraçado, tocante e, acima de tudo, barra-pesada e polêmico -na programação, foi classificado como ‘desaconselhável para menores de 16 anos’. Morgenthaler, aliás, trabalha na Zentropa, produtora de Von Trier.
‘Quis fazer um filme com uma história crua, banal, mas com muitos sentimentos, com uma trama de fantasia’, disse Morgenthaler em entrevista à Folha por telefone.
‘A história me veio há cinco anos, quando comecei a pensar nas dificuldades para adotar uma criança e ter que consertar o passado dela, quando você não estava lá. Estava interessado em mostrar quão difícil é não fazer parte dos primeiros anos de uma criança, mas ter que criá-la, educá-la.’
O padre e a atriz pornô
É este o dilema de August, um jovem padre missionário que volta à sua cidade natal quando sua irmã, Christina, uma atriz pornô que se celebrizou como a ‘princesa’ do título, morre em conseqüência da vida desregrada que levava.
Ela deixa órfã Mia, de cinco anos, uma criança linda com um passado sinistro, graças à convivência com o ambiente de trabalho de sua mãe.
August adota a menina e passa a tentar apagar o passado de sua irmã como atriz pornô, na esperança de que a criança cresça sem traumas e estigmas.
Para isso, ele parte para a vingança, indo atrás de todos os envolvidos na indústria pornô, movido também por um complexo de culpa que, ao longo do filme, vai sendo esclarecido.
Morgenthaler diz que seu filme não foi inspirado em nenhum fato real, mas que ‘reflete o fato de eu ter tido uma filha na época e querer protegê-la.’
O que ‘Princess’ tem de realidade, segundo seu diretor, é o retrato sombrio da indústria da pornografia. ‘Quis marcar uma posição política nessa questão, mostrar que o mercado pornô, que estava em crescente exposição, tinha um lado negativo que era ignorado pela maioria das pessoas. Há um custo humano no qual ninguém pensa.’
Como esperado, o filme gerou controvérsia -a crítica da revista ‘Variety’, após assisti-lo em Cannes, disse que era ‘de mau gosto’- e foi banido em países como Cingapura.
Segundo Morgenthaler, houve uma forte reação de religiosos ao filme, mas o principal problema foi com o que o diretor chama de ‘radicais culturais dinamarqueses’.
‘A Dinamarca foi o primeiro país a legalizar a pornografia e ela é vista como o exemplo máximo da liberdade de decisão individual. Me acusaram de tentar censurar as pessoas, por mostrar um lado negativo da indústria pornô. Acharam que isso era um ataque à democracia, ao livre-arbítrio.’
O diretor diz que sua obra não tem uma intenção repressora, mas que retrata a parte oculta do bilionário mercado da pornografia, a partir de pesquisa própria. ‘Acho que as pessoas devem ser livres para fazer o que quiserem, inclusive filmes pornôs, só não acredito no mito da prostituta feliz. Fiz muita pesquisa para o filme e vi que a maioria das pessoas dessa indústria tem problemas emocionais sérios. É como se elas estivessem se sacrificando pelo prazer dos outros.’’
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Japoneses estão entre destaques do Anima
‘É preciso foco para escolher entre os 441 filmes que compõem o 16º Anima Mundi, cuja etapa paulistana começa hoje para convidados (amanhã para o público) e vai até domingo (27/7), no Memorial da América Latina e no Centro Cultural Banco do Brasil.
As crianças, como sempre, têm um mundo de opções que vão das inúmeras oficinas que ensinam a fazer animação às sessões infantis.
Para os adultos, além dos longas ‘Princess’ e ‘Idiot and Angels’, as opções dependem do gosto e do tempo livre (veja alguns destaques ao lado).
Quem aprecia animações pouco ortodoxas vai gostar do japonês Koji Yamamura, que, além de criar o logotipo desta edição, tem dois filmes em exibição: o sombrio e belo ‘Franz Kafka Inaka Isha’, adaptação do conto ‘Um Médico Rural’, e o divertido ‘Kodomo no Keijijogaku’, uma brincadeira surreal com crianças.
Outro japonês (apesar do título) digno de registro é ‘La Maison en Petits Cubes’, de Kunio Kato, que venceu dois prêmios no tradicional festival francês de Annecy deste ano e é uma bela história sobre memória, envelhecimento e família.
Quem gosta de ver relacionamentos na tela terá opções com humor (como o britânico ‘John and Karen’) e com criatividade técnica (no também britânico ‘Throwaway’ e no polonês ‘Sniadanie’).
Para profissionais
A etapa paulistana do festival também trata da animação como negócio, no Anima Fórum, que reúne profissionais do ramo. O evento acontece na quinta e na sexta e discute, entre outros temas, o mercado latino-americano, visando estimular acordos de co-produção e a circulação dos filmes na região.
Os animadores também podem aproveitar o workshop ‘Desenvolvimento e Roteiro de Animação’, da norte-americana Jean Ann Wright, que trabalhou na Hanna-Barbera.’
TELEVISÃO
CBS SE LIVRA DE MULTA POR MOSTRAR SEIO DE CANTORA
‘A Justiça da Filadélfia decidiu ontem que a rede de televisão norte-americana CBS não precisará pagar multa de US$ 550 mil pela exibição, acidental, de seio da cantora Janet Jackson, uma vez que a cena foi ao ar ao vivo. Ela se apresentava ao lado de Justin Timberlake no show de intervalo do ‘Superbowl’, há quatro anos, transmitido para 90 milhões de pessoas.’
Leandro Fortino
Criador de ‘Lost’ volta imitando ‘Arquivo X’
‘Assim como a música pop, a TV rouba do passado boas idéias para serem copiadas hoje. A novidade está no modo que seus produtores usam para disfarçar que pretendem repetir fórmulas antigas.
A série de ficção científica ‘Fringe’ estréia nos EUA no dia 9 de setembro, na Fox (por aqui ainda não se sabe). Seu piloto custou US$ 10 milhões, um primeiro episódio de duas horas e pelo menos uma dezena de cenas de ação, tudo cheirando a muito dinheiro.
Investimento assim, se verdadeiro, não estaria disponível em sites de compartilhamento de arquivos desde o início deste mês, grátis, para quem quiser baixar e assistir.
A estratégia já é conhecida, mas ajudará a colocar ‘Fringe’ em grande parte dos lares americanos graças aos tais ‘netizens’ (encontro besta entre as palavras ‘net’, rede, e ‘citizens’, cidadãos), aqueles que estão sempre on-line, baixam séries como essa e fazem o assunto girar no mundo virtual, atraindo o interesse do usuário médio e economizando milhões de dólares em divulgação.
Tudo aparentemente moderno, do produtor/roteirista/diretor J.J. Abrams, que criou a misteriosa ilha de ‘Lost’. Nesse seu novo seriado, a ação se passa em Boston, onde uma agente do FBI, Olivia Dunham, descobre um cientista doidão em um hospício, o único que pode ajudar seu parceiro e amante a se salvar de uma arma química que consome sua pele.
Mas, no piloto de ‘Fringe’, Abrams, sem vergonha, fez um seriado igual a ‘Arquivo X’, que trará agentes investigando casos de telepatia, conspirações do governo, invisibilidade, teletransporte etc.
Em ‘Fringe’, chega-se ao cúmulo de o doutor maluco aplicar na agente do FBI uma mistura de LSD e quetamina (droga anestésica conhecida como ‘special K’) para que ela ‘entre’ na mente de seu parceiro. Ridículo de tão absurdo.
A primeira cena, desesperadora e nojenta, dentro de um avião, é o que salva o piloto de ‘Fringe’. Imperdível. Pena que desta vez esse vôo inicial não termine na ilha de ‘Lost’.’
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O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 22 de julho de 2008
TV POR ASSINATURA
Net ameaça suspender oferta de ponto extra na TV paga
‘A Net ameaça deixar de oferecer o ponto adicional de TV por assinatura se a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) decidir que ele deve ser gratuito. ‘Vamos seguir com o que a agência determina, mas não instalamos o ponto extra de graça, porque o serviço é oneroso, tem custos de manutenção da rede interna, custo de licença de software e atendimento’, disse ontem o presidente da Net, José Felix, em teleconferência. ‘Se o ponto extra for de graça, a gente vai parar de oferecê-lo ou vai aumentar o preço de tudo.’
A Anatel tinha definido, em regulamento, que o ponto extra não teria mais mensalidade e que os clientes das empresas de TV paga poderiam contratar sua instalação de terceiros. Depois, a agência voltou atrás e deu outra interpretação ao regulamento. A Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA) conseguiu uma liminar que suspendeu o artigo que acabava com a cobrança.
Felix informou que a polêmica sobre o ponto extra não teve impacto nas receitas da empresa. O executivo destacou o crescimento do serviço de telefonia nas operações da Net. Segundo ele, a empresa superou a marca de 1 milhão de usuários na primeira semana de julho. A Net fechou o primeiro semestre com 982 mil assinantes de telefonia, alta de 178% em 12 meses.
No mesmo período, a base de TV por assinatura cresceu 18%, para 2,709 milhões de clientes. O número de usuários de banda larga subiu 61% em 12 meses, para 1,798 milhão de assinaturas ao fim de junho.
Dos serviços de voz, o Net Fone.com foi o destaque, conquistando uma base de 112 mil assinantes ao fim do segundo trimestre desde o seu lançamento, em fevereiro.
O pacote agrega telefonia fixa, conexão à internet com velocidade de 100 quilobits por segundo (Kbps) e canais de TV aberta via cabo nos lugares onde a tecnologia permite – por questões técnicas, só 56% do total de clientes recebem o sinal dos canais gratuitos pela rede da Net.
Ao mesmo tempo em que trouxe mais clientes à base, o Net Fone.com também gerou despesas maiores à operadora. Na última linha do balanço, viu-se queda de 12,2% no lucro líquido consolidado, que ficou em R$ 27,624 milhões. O maior ingresso de clientes também provocou uma alta de 8,3% no investimento em ativo permanente do período, para R$ 195 milhões, motivado pela necessidade de cobrir, por exemplo, despesas com instalação do serviço e ampliação da capacidade de rede para a internet.
O diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Net Serviços, João Adalberto Elek, não espera que campanha ostensiva de vendas entre a população de menor poder aquisitivo traga aumento da inadimplência ou das provisões para devedores duvidosos.
Elek disse que o investimento em ativo permanente feito até o segundo trimestre deste ano está alinhado aos desembolsos do exercício anterior e tende a ficar próximo dos R$ 770 milhões programados para todo o calendário. Porém, ele não descarta aportes maiores no caso de as vendas se acelerarem no segundo semestre.
Isso porque a maior contratação de produtos e serviços pelos clientes exigirá despesas maiores com vendas e instalação. ‘Não temos razão para acreditar que o nosso investimento seja diferente daquele projetado anteriormente, mas ressaltamos que, caso tenhamos meios de crescer mais rapidamente, seja por meio do Net Fone ou do triple play (pacote com serviços de telefonia, banda larga e televisão), os investimentos poderão ser maiores’, afirmou Elek.
REGULAMENTAÇÃO POLÊMICA
Cobrança: No fim do ano passado, a Anatel publicou um novo regulamento de TV paga e anunciou que o ponto extra deixaria de ser cobrado
Mudança: O texto começou a valer no mês passado, mas recebeu outra interpretação: a de que as empresas não poderiam cobrar pelo conteúdo recebido no ponto extra (o que nunca foi cobrado), mas pela infra-estrutura. As associações de defesa do consumidor reclamaram da nova interpretação dada ao texto. As empresas argumentaram que têm gastos com a manutenção da rede
Suspensão: Por causa da polêmica, a Anatel decidiu, em 6 de junho, suspender a cobrança por 60 dias. A agência também anunciou que faria uma consulta pública sobre o tema, enquanto a cobrança estivesse suspensa
Liminar: A Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA) conseguiu uma liminar para manter a cobrança no dia 25. A Anatel ainda não fez a consulta pública.’
INTERNET
Yahoo dá a Carl Icahan assento no conselho
‘EFE – O Yahoo deu por encerrada ontem a disputa com o investidor Carl Icahn, ao nomeá-lo como candidato ao conselho de administração da empresa, dias antes da assembléia anual de acionistas, que será realizada no dia primeiro de agosto. O anúncio foi feito em um comunicado que informou os termos do acordo alcançado com o investidor bilionário.
Icahn, que tem 4,98% de participação no portal, ameaçou iniciar uma luta para tomar o controle do conselho de administração do Yahoo e colocar nele conselheiros favoráveis a um possível acordo com a Microsoft.
O polêmico investidor elaborou uma relação alternativa de dez possíveis conselheiros do Yahoo, entre os quais estavam, além dele mesmo, o dono do Dallas Mavericks, Mark Cuban, e o ex-executivo de Hollywood Frank Biondi.
O acordo também prevê que oito dos dez atuais conselheiros do portal se apresentarão no dia primeiro de agosto para a reeleição, entre eles o fundador da companhia, Jerry Yang, e o atual presidente do conselho de administração, Roy Bostock.
Após a assembléia de acionistas, o conselho de administração será ampliado para 11 membros, entre os quais se sentarão, além de Icahn, outros dois candidatos favoráveis ao multimilionário. Após essa vitória, Icahn aceitou retirar sua relação alternativa de candidatos ao conselho de administração.
O fundador do Yahoo mostrou-se satisfeito por ter chegado a um acordo com Icahn e ter ‘deixado para trás a distração da luta pela delegação do voto’, o que, segundo ele, permitirá ao portal que ‘continue a estratégia de ser um ponto de acesso para os usuários na internet e um destino obrigatório para os anunciantes’.
Icahn, segundo o comunicado, mostrou-se também satisfeito com o acordo, mas afirmou continuar ‘acreditando que a venda do conjunto da companhia ou de seu site de buscas (para a Microsoft) é a operação correta e que deveria, portanto, ser considerada’.’
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
‘Netbook’ desafia os grandes fabricantes de PCs
‘The New York Times – O setor de microcomputadores deverá vender dezenas de milhões de pequenos aparelhos que não gastam muita energia, principalmente para navegar na internet. Mas, curiosamente, alguns dos principais fabricantes acham essa notícia péssima. Eles se mostram cautelosos com a nova geração de computadores, porque os preços baixos poderão ameaçar as margens de lucro, já reduzidas.
Os novos aparelhos, freqüentemente chamados netbooks, têm pouca memória instalada. Eles usam processadores de baixa potência. O preço também é reduzido: alguns são vendidos por apenas US$ 300. As pioneiras nessa categoria também são empresas pequenas, como a Asus e a Everex, ambas de Taiwan.
Apesar de sua desconfiança em relação a máquinas menores, a Dell e a Acer, duas das maiores fabricantes de PCs, não pretendem permitir que essas empresas, que acabam de entrar no mercado, abocanhem também sua fatia. A Hewlett-Packard, a maior fabricante mundial de PCs, introduziu recentemente no mercado, sem chamar a atenção, um híbrido de notebook e netbook que chamou de Mini Note. Vários fabricantes estão dando cautelosamente os primeiros passos na produção de PCs de pouca potência, e, nos próximos meses, deverão lançar net-tops, versões mais baratas de computadores de mesa destinados principalmente ao acesso à web.
Uma companhia do Vale do Silício que acaba de estrear, chamada CherryPal, refuta a idéia de que seja necessária uma grande potência instalada para permitir as funções básicas dos computadores, na era da internet. Na segunda-feira, ela pretende lançar um PC de US$ 300 do tamanho de uma brochura, que utiliza 2 watts de potência, em comparação com os 100 watts de algumas máquinas de mesa.
A empresa quer se beneficiar da tendência de computação em nuvem (ambiente de computação baseado em uma rede maciça de servidores, virtuais ou físicos), na qual os dados são gerados e armazenados em servidores distantes, e não na própria máquina. Segundo analistas do setor, o surgimento dessa nova geração de máquinas de baixo custo poderá ameaçar grandes corporações como a Microsoft e a Intel, ou mesmo a HP e a Dell, porque os gigantes construíram suas companhias baseados na idéia de que os consumidores querem mais potência e funções no seu PC.
A IDC, uma empresa de pesquisa de mercado, prevê que a categoria crescerá de menos de 500 mil aparelhos em 2007 para 9 milhões em 2012, pois o mercado do segundo computador está em expansão nas economias desenvolvidas.’
O Estado de S. Paulo
Começa a faltar iPhone 3G nos EUA
‘O iPhone 3G, lançado em 11 de julho em 21 países, já começa a faltar nos EUA, onde a popularidade do aparelho promete ser ainda maior que a da primeira versão. Segundo dados publicados no site da Apple, só 16 das 188 lojas do grupo no país tinham unidades do iPhone 3G no domingo. Além disso, nenhum dos pontos-de-venda da Apple na Califórnia, onde fica a sede corporativa da empresa, tinha telefones disponíveis. O modelo mais difícil de conseguir parece ser o iPhone preto de 16 gigabytes, que podia ser encontrado apenas em três estabelecimentos. A Apple disse ter vendido um milhão de aparelhos em apenas três dias.’
ANIMA MUNDI
A volta do admirável mundo animado
‘Que animação não é só coisa de criança todos os fãs da arte já sabem. Mas o que poucos sabem é que o primeiro longa de animação da história não só não era para o público infantil como se tratava de uma contundente sátira política. Era O Apóstolo, do ítalo-argentino Quirino Cristiani, ‘desenhado’ em 1917, que lançava um olhar irônico e bem-humorado sobre a Argentina da época. Sem levar uma criança ao cinema (que, naquela época, passavam longe das salas escuras e esfumaçadas, onde era permitido fumar), foi enorme sucesso de público, ficou meses em cartaz, com sete sessões (todas lotadas) por dia.
A descoberta foi feita há alguns anos pelo diretor Gabriele Zucchelli. Parece pouco, mas diz muito sobre uma área que cada vez mais ganha seu devido status de arte. Quem quiser saber mais dessa história e conferir os melhores ‘filmes para adultos’ da temporada de novas animações pode se preparar para mais uma maratona Anima Mundi, o maior festival latino de animação, que começa amanhã e vai até domingo no Memorial da América Latina.
Não só pelo documentário sobre Cristiani, nesta 16ª edição do evento a animação ‘para gente grande’ é um dos principais destaques da programação com 441 filmes de 42 países. Destes, 74 são brasileiros, incluindo um longa em competição, o Belowars, do paranaense Paulo Munhoz. ‘Os filmes ‘de adulto’ estão tão presentes neste ano que há muitos que, não só não foram feitos para crianças como são proibidos para o público infantil’, comenta Cesar Coelho, um dos criadores do festival.
Este é o caso de Princess, do dinamarquês Angers Morgenthaler. Longa que mistura a técnica da animação em 2D (duas dimensões) e o live action (filme com atores) integrou a Quinzena dos Realizadores no último Festival de Cannes e causa mal-estar e admiração por onde passa. Princess é Christina, irmã de August, uma garota que, ainda na adolescência, torna-se atriz pornô ‘incentivada’ pelo namorado, que dirige e explora a jovem estrela. Vítima da face cruel da indústria pornográfica, ela acaba sendo assassinada. E August, culpado, tenta vingar a morte da irmã ao mesmo tempo que tem de criar a sobrinha Mia. Com linguagem nada óbvia, o filme traduz em metáforas visuais a raiz do ódio, frustração e das angústias de August diante de sua tragédia familiar.
Não por acaso, Princess integra a mostra competitiva de longas do Anima Mundi, que neste ano conta com mais três concorrentes. Idiots and Angels, do americano Bill Plympton; Delgo, dos também americanos Marc. F. Adler e Jason Maurer; e o brasileiro Belowars. ‘É um ano bom. Princess tem uma temática pesadíssima. Idiots and Angels é altamente irônico, criado pelo nosso ‘sócio’ Plympton. Impressionante como ele produz, praticamente um filme por ano’, diz Coelho.
Ao assistir a filmes como Princess e Idiots, é interessante observar que, mais que stopmotion (a tradicional técnica de bonecos em massinha), a clássica animação em 2D, e hoje em 3D, ganha novos contornos ao se unir a linguagens que jamais se pensaria que casariam bem com desenhos. O documentário é um dos maiores exemplos. A rigor, não há nada menos verdade que criar uma realidade animada para documentar um fato, fazer uma denúncia ou uma reportagem. Pois é o que os animadores vêm fazendo cada vez mais.
Princess é só um exemplo, mas Valsa para Bashir, do israelense Ari Folman, que concorreu à Palma de Ouro também em Cannes, Persépolis, de Marjane Satrapi, que concorreu ao Oscar de animação, e até o brasileiro Dossiê Re Bordosa, que investiga o assassinato da personagem criada por Angeli por seu próprio criador, vêm provando que não há mais fronteiras para quem quer contar uma boa história. ‘São exemplos emblemáticos. Sobre Bashir, quando estávamos em Annecy (maior festival de animação do mundo, na França), há pouco mais de um mês, e vimos o filme, houve essa discussão. Como usar a animação para fazer um documentário? Folman podia ter filmado tudo aquilo, mas jamais teria conseguido traduzir tão bem as sensações e memória daqueles garotos que lutaram naquela guerra se não fosse pela linguagem da animação’, acrescenta Coelho.’
Flávia Guerra
Nas telas, novas animações latinas
‘Animação pode não ser só programa infantil, mas na grande maioria dos países ainda está longe de ser fonte de renda única para seus realizadores. Com exceção de Walt Disney, que percebeu cedo que animação era uma indústria e que o melhor público para consumi-la em massa era o infantil, os produtores e diretores de animação não são magnatas da indústria. ‘Muitos como eu, ainda encontram na publicidade o trabalho principal e fazem animação nas horas vagas’, conta o jovem diretor argentino Juan Pablo Zaramella, convidado de uma das sessões mais concorridas do Anima Mundi, o Papo Animado.
Veja trechos de filmes
Zaramella ganhou o prêmio do público em 2007 com Lapsus, foi vencedor do júri popular em 2005 com Viaje a Marte, com o qual levou mais de 45 prêmios pelo mundo. Pela segunda vez no Brasil, e a primeira como animador do Papo Animado, Zaramella vai falar de seu processo de criação. ‘Vou mostrar meus 5 curtas e também produções que fiz para a TV’, conta.
A presença de Zaramella deixa clara a atual vitalidade da produção latino-americana. A Argentina participa com 12 filmes e a Colômbia, 3. ‘É especial ver isso acontecer. Para nós, diretores latinos, é sempre tão difícil emplacar filmes nos festivais da Europa, ainda fechada à produção que não seja européia, dos EUA e, algumas vezes, da Ásia. É importantíssimo festivais que têm apelo em relação ao público, como o Anima Mundi’, comenta Zaramella.
Na sessão argentina, também se destacam Martín Fierro, de Normal Ruiz e Liliana Romero; Fear, de Agustín Graham; e Los Pecadores, de Pablo Polledi. Outra atração do Papo Animado é o brasileiro Daniel Schorr, que mora há 16 anos em Montreal e dirigiu vários filmes da National Film Board.
Ampliando a noção de que animação tão pouco é só filmes, o grupo japonês Tochka traz as Pikapika para o Brasil. Famosas nos festivais de animação mundo afora, Pikapika são os desenhos feitos com fachos de luz (lanternas, isqueiros…) que, depois de filmados por uma câmera fotográfica, são transformados em animação.
Não por acaso, este ano a experimentação com a linguagem ganhou sessão exclusiva. A Galeria Animada exibirá animações como em uma galeria de arte. Nesta seção, imperdível é Oups, do brasileiro formado na Bélgica Márcio Ambrósio. ‘É uma instalação interativa que faz sucesso no Rio. As crianças entram na brincadeira e não querem sair. Tudo porque o participante é colocado diante de um fundo-tela de onde surgem vários personagens da animação que começam a interagir com eles. É muito divertido’, conta Cesar Coelho.
Para fechar a programação, haverá na quinta e na sexta o 3º Anima Fórum. ‘Esta seção especial só ocorre em São Paulo. É muito importante. Muitas discussões, reivindicações e acordos que ocorrem na área surgiram no fórum, como, por exemplo, a criação de linha de crédito para o financiamento de séries. Isso dará novo fôlego à produção nacional. Precisamos entender que a TV deve caminhar junto com a produção de animação. Os dois meios são complementares’, defende Coelho.
Não Perca
DJI VOU VEU VOLTI: Nada convencional conto de fadas belga em que um menestrel tem de lutar com as legendas vivas de sua canção para conquistar o amor de sua donzela; sessões no Memorial da América Latina, na quinta, às 17 horas; e sexta, às 20 horas
PRINCESS: Produção dinamarquesa, este drama nada infantil, que integrou a Quinzena dos Realizadores de Cannes, narra a história de August, que, após perder a irmã, jovem atriz pornô, tem de aprender a criar a sobrinha; sexta, às 22 horas (Memorial)
PASSO: Neste singelo curta, Alê Abreu (de Garoto Cósmico) conta com lápis e aquarela a história de um pássaro e sua gaiola; amanhã, às 17 horas, no Memorial
HOT DOG: No 3.º episódio da série criada por Bill Plympton, nosso cão herói quer virar bombeiro, amanhã, 14 horas; sexta, às 17h (Memorial)
PLASTIC PEOPLE: Esta produção da República Checa é uma sátira ácida e divertida sobre a indústria da cirurgia plástica, que tem transfomado todos em ?soldados de um exército de bonecos?; quinta, às 23 horas, no Memorial; sexta, às 19 horas, no CCBB
Serviço
16.º Anima Mundi
Memorial da América Latina. Av. Auro Soares de Moura Andrade 664, Barra Funda, 3823-4600. 11 h às 24 h. R$ 3 (vídeo) e R$ 6 – sessões gratuitas: Futuro Animador com distribuição de senhas 1 hora antes de cada sessão
Centro Cultural Banco do Brasil. Rua Álvares Penteado, 112, 3113-3651. 3.ª a dom., 13 h às 19 h. R$4′
MEMÓRIA / DERCY GONÇALVES
Dercy em Paulínia: a última irreverência de uma rainha
‘A reportagem do Estado esteve presente a uma das últimas aparições públicas de Dercy Gonçalves. Foi no recém-encerrado Festival de Cinema de Paulínia, quando a atriz recebeu homenagem. Desbocada, Dercy subiu ao palco para receber o troféu e agradeceu desejando um beijo na b… de todos os que estavam no Theatro Municipal da cidade. Disse ainda que estava surda para c… e que, então, era para não prestarem atenção nas bobagens que pudesse cometer. Todo mundo riu e aplaudiu demais. Assim era Dercy, que morreu sábado com 101 anos de idade.
Presença constante no cinema e no teatro, desde os anos 30 e 40, e na tevê, desde o seu início nos anos 50, Dercy era parte da vida brasileira. Tendo como origem o teatro burlesco e o rebolado, registrou patente do humor ao mesmo tempo brejeiro e desbocado, não hesitando em apelar para o calão quando achasse conveniente – isto é, quase sempre.
No cinema, em particular, Dercy brilhou num gênero tão brasileiro quanto a caipirinha e a feijoada – a chanchada. Está em alguns clássicos do gênero, como A Baronesa Transviada (1957), Cala a Boca, Etelvina (1959) e Minervina Vem Aí (1959). Seu modo de ser, a maneira como se comportava em cena, a voz esganiçada, compuseram uma personagem que a acompanhou ao longo da carreira.
Essa vida acabou não sendo registrada em documentário para o cinema, conforme era o projeto inicial do cineasta Ivo Branco. Ele foi substituído por um documentário para a televisão, produzido pela TV Cultura. Talvez, com a morte da atriz, o cineasta se anime a retomá-lo. Quem registrou, em formato digital, a vida de Dercy foi José Bonifácio de Oliveira, o Boni, lançando-o apenas em DVD. Dercy merece um filme completo pelo tanto que marcou a vida nacional com sua veia cômica e crítica.
Se Dercy se destacou nas chanchadas, sua imagem fica registrada também em pequenas aparições em outros filmes, e nem sempre em comédias. Trabalhou em Absolutamente Certo, de Anselmo Duarte, e também em Oceano Atlantis, de Chico de Paula, recebendo pelo papel um troféu de coadjuvante no Festival de Brasília. Suas últimas imagens no cinema, no entanto, estão impressas em celulóide, em Nossa Vida Não Cabe Num Opala, de Reinaldo Pinheiro, numa adaptação do texto de Mario Bortolotto, com estréia marcada para 8 de agosto. Nele, Dercy faz um pequeno papel, mas do qual não se esquece. Ela está dentro de um carro, que vai ser assaltado, mas resiste ao ladrão, saca de um enorme revólver, ameaça o agressor e ainda desacata, bem à sua maneira, o assaltante frustrado, vivido por Leonardo Medeiros.
Durante a homenagem, em Paulínia, o cineasta Reinaldo Pinheiro disse que trabalhar com a atriz havia sido para ele uma tremenda experiência, porque o ensinara a não temer a morte e viver cada instante como se fosse o último. Essa pequena cena, não mais do que uns poucos minutos, alivia a tensão de um filme de tonalidade trágica.
Ninguém dizia palavrão em cena como Dercy e também ninguém se ofendia com eles, porque tudo depende do tom como se fala. Seu amigo Ari Fontoura dizia que Dercy havia criado essa perfeita contradição em termos que é o palavrão carinhoso. O Brasil fica menos engraçado sem ela.’
TELEVISÃO
Pancadaria reduzida
‘Fruto de autoclassificação indicativa, ou apenas de cautela, a seqüência em que Catarina (Lília Cabral) apanhou do marido Léo (Jackson Antunes) em A Favorita, na semana passada, foi bem mais leve do que estava previsto no roteiro original.
Segundo o texto de João Emanuel Carneiro, a cena em que a personagem aparece apanhando deveria ser mais violenta. ‘Estavam previstos quatro ou cinco tapas, mas entramos em um consenso e reduzimos para dois’, conta Lília Cabral. ‘Era uma cena em que havia crianças. Resolvemos, então, só deixar o áudio da briga de fundo’, continua. ‘Mesmo assim, foram quase duas horas para gravar.’
E mais pancadaria vem por aí. Em cena que vai ao ar na sexta-feira, Catarina leva outra surra do marido.
Léo descobre as cartas de amor que Catarina vem recebendo, agride a mulher e resolve acertar as contas com Vanderlei (Alexandre Nero), que ele acredita ser amante de Catarina.
Mas uma guinada na vida de Catarina está prevista por volta do capítulo 60 da trama. ‘Posso garantir que ela não virará lésbica, como muitos disseram, mas vai se livrar do Léo’, conta Lília.
Entre-linhas
Sem novidade na investigação, o Fantástico voltou a remexer no caso Isabella anteontem.
Virou competição. Amaury Jr. diz ter feito a última entrevista com Dercy Gonçalves (que morreu no sábado). Danilo Gentilli, do CQC da Band, diz que o autor da última entrevista com a humorista foi ele, que reivindica também o posto de ‘último repórter a ser xingado por Dercy’.
O canal Ideal inicia esta semana a segunda edição de Traders. O reality, que é uma disputa entre equipes para ver quem ganha mais dinheiro na Bolsa de Valores, disponibilizará para cada equipe R$ 70 mil para ser aplicado.
Em alguns bares e restaurantes de São Paulo é possível dar de cara com a ex-BBB Natália no banheiro masculino. Opa, melhor explicar. Capa da Playboy deste mês, a loira está em propagandas da revista em banheiros de casas badaladas.
Desde ontem, o Hoje em Dia, da Record, conta com um novo estúdio, no Rio. De lá, Mariana Leão vai comandar o noticiário carioca, além de trazer quadros de variedades e aproveitar o cast das novelas da rede, claro, produzidas na cidade.
Vera Holtz voltará à cena como uma supervilã em Três Irmãs, próxima novela das 7 da Globo.
O canal Animax, especializado em Animê, desenho animado japonês, entrou no line-up da Net.
Olha o aviãozinho…
A Band está recorrendo à participação especial de seus apresentadores na novela Água na Boca, para tentar alavancar o ibope da trama. Depois de Ana Luiza Castro (que foi chamada após a desistência de Daniella Cicarelli), Raul Gil vai jantar e cantar na reinauguração da cantina italiana dos Bellini, a Nonna Mia. No ar nesta quinta-feira.’
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