Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Internet é trunfo do publicismo

Nilson Lage, um dos maiores teóricos do jornalismo, cita em seu livro A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística as etapas históricas que caracterizaram a profissão. Fase importante foi a dos antigos formadores de opinião; editores de jornal que, deixando em um patamar secundário as notícias do cotidiano, se destacavam a escrever um conteúdo diferenciado, que orientasse o público-alvo sobre qual cartilha política a se engajar – ou que trincheira defender. Jornalista, séculos atrás, não era jornalista. Era publicista.

A humanidade conviveu com grandes publicistas: Lenin, na Revolução Russa; Montesquieu, no Iluminismo; e, como cita Lage, Carlos Lacerda, no Brasil, por meio da Tribuna da Imprensa. Neste formato de jornalismo, as notícias eram pano de fundo para o artigo principal, elaborado conforme as convicções de seu autor. As visões políticas, destarte, saíam das páginas para gerar reflexos nas relações sociais, especialmente quando o assunto atinava a questões governamentais. Do jornalismo opinativo, assim, criam-se os pilares para que outros gêneros – interpretativo, informativo e investigativo – pudessem se desenvolver.

Ao surgimento das primeiras faculdades de comunicação, especialmente a Washington College, nos Estados Unidos (1869), e a Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, no Brasil (1943), o padrão de reportagem teve sua consagração, de modo que o público não admitia mais a opinião entregue e incontestada. O jornalismo, que era canal da parcialidade, passou a ser meio formador de opinião, dentro de uma linguagem menos apurada, mais imprecisa, mas suficiente para que os interlocutores pudessem fazer juízos de valor relativos às notícias veiculadas.

A informação é um produto, logo, era preciso inovar. O publicismo, desse modo, durou até o surgimento de novas necessidades sociais. Contudo, ele não sumiu do cotidiano. Apenas perdeu seu protagonismo para o jornalismo-testemunho, das fontes e das pautas, onde a profissão atingiu o seu mais alto nível de maturidade, revelando as mazelas da sociedade e atingindo o status executivo que vemos hoje. Agora os publicistas ocupam, normalmente, a segunda página dos jornais, mascarados por “colunas” ou “editoriais”.

Opiniões políticas em blogs e redes sociais

Especialmente em época de eleição, o publicismo retorna com chumbo grosso, sem o menor pudor de praticar sua arte do convencimento. Acanhados nos impressos, eles estão renascendo em blogs e redes sociais. E têm influenciado o voto de muitas pessoas. Mais que jornalismo informativo, os publicistas tem realizado um trabalho científico de comparação entre governos, além de denunciar aquilo que, porventura, os veículos de comunicação tenham deixado escapar.

A diferença dos publicistas para a maior parte dos jornalistas é que suas preocupações estão em entregar a informação que lhes convém, sem avaliar outras visões ou se preocupar com a imparcialidade. Na web, a chuva de textos referentes ao pleito de 2014 é um fenômeno histórico. E geram milhares de compartilhamentos, permitindo ao publicismo reassumir um destaque esquecido há séculos, agora apoiado na velocidade da rede mundial de computadores.

Assim, o jornalismo publicista não mais existe, mas o publicismo permanece em diferentes plataformas. Seu compromisso está sobre aquilo que pensam. Dizem em quem votar, como se portar, qual bandeira erguer etc. Moldam mentes. Que os leitores, entretanto, não abracem a leviandade, muito corrente no meio. Se existir alguma dúvida sobre determinada informação, a imprensa está aí para auxiliar de forma isenta e imparcial. Afinal, é a credibilidade, não a opinião, que manteve viva a chama do bom jornalismo.

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Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em Direito e estudante de Jornalismo