A imprensa roraimense, em quase sua totalidade, serve aos interesses dos poderosos. Isso porque os proprietários dos veículos de comunicação local estão, quase todos, aboletados no poder.
Cada grupo político tem os seus veículos de comunicação e seus palanques eletrônicos – os quais usam da forma como bem entendem. São deputados federais e senadores que burlaram a lei e se tornaram donos de concessões de rádio e televisão.
Por este motivo, quem acompanha o início da campanha eleitoral deste ano em Roraima está assistindo a um duelo midiático entre o principal jornal diário do estado – a Folha de Boa Vista – e o candidato do governo à prefeitura da capital, Luciano de Castro (PR).
Faz dias que Castro, proprietário das concessões da Rádio Tropical FM e TV Tropical, acusa a Folha de Boa Vista, de propriedade do economista Getúlio Cruz, ex-governador de Roraima e atual secretário de Planejamento da capital roraimense, de estar atuando de forma parcial, com o objetivo de prejudicar a sua campanha a prefeito.
Acusação pouco crível
Isso porque o jornal divulgou informação do Ministério Público Estadual (MPE) de que uma adolescente de 13 anos teria citado em depoimento o seu nome como partícipe do esquema de pedofilia desmontado parcialmente pela Polícia Federal. A garota teria afirmado ter mantido relações sexuais com Castro.
Desde então, o parlamentar e candidato a prefeito tem atribuído ao jornal de Getúlio Cruz a intenção de prejudicar a sua campanha. Os leitores mais desatentos talvez não saibam, mas o dono da Folha, como já citado acima, é secretário de Planejamento do Município de Boa Vista, cujo prefeito, Iradilson Sampaio (PSB), é candidato à reeleição. Aí residem as suspeitas de Castro sobre as intenções do jornal ou do seu dono.
No último final de semana o candidato governista, Castro, fez circular um panfleto no qual acusa a Folha de pagar 250 mil reais ao advogado de Lidiane do Nascimento Foo, apontada como cabeça do esquema de pedofilia desmontado pela PF, para orientá-la a incriminar o candidato do PR. Essa acusação feita por Castro é forte demais e pouco crível.
Perdedor é o público
Em uma nota de repúdio intitulada ‘O preço da credibilidade’, publicada na edição desta segunda-feira (14/07), a Folha contra-ataca:
‘Através de seu comitê de campanha, o deputado federal Luciano Castro fez distribuir no último sábado (12.07) panfleto com covardes, infames e mentirosas acusações contra a Folha; (…)
O conteúdo do panfleto distribuído por ordem de Luciano Castro tem a clara intenção de puxar para a lama o nível da eleição. Isso absolutamente não diz respeito à Folha que, como órgão de imprensa, está mais interessada em divulgar as propostas de trabalho dos candidatos, sejam eles quem forem.’
O certo é que em Roraima não é novidade para ninguém que os meios de comunicação são usados politicamente para beneficiar os grupos aos quais estão ligados os seus proprietários. Disso Castro e Getúlio entendem bem. E os leitores/ouvintes/telespectadores ficam no meio do tiroteio verbal, vítimas de intenções o objetivos um tanto obscuros.
Falaremos mais adiante sobre isso, até porque esses são apenas os primeiros chutes na canela de uma briga que está só começando. Mas o perdedor da briga já é conhecido por antecipação: o público, que é submetido a tudo isso e quase nada pode fazer.
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Jornalista e professor universitário