Recentemente voltou o assunto da simplificação ortográfica e espaços midiáticos têm privilegiado críticas ao movimento Simplificando a Ortografia. Esta é uma oportunidade importante para mostrar que se trata de iniciativa de professores de Língua Portuguesa – pesquisadores, estudiosos e experientes – aberta à participação de todos os segmentos sociais. Com mais de 36 mil assinaturas, engajado na simplificação do ensino, busca mais que dobrar a eficiência das aulas de ortografia e direcionar a carga horária economizada para atividades de leitura, interpretação e criação de textos. Uma das metas é reduzir o analfabetismo absoluto e funcional e ampliar a inclusão social nos países de língua portuguesa.
O movimento não é contra o acordo otográfico, pois considera importantes muitos de seus aspectos, mas constata, nos países envolvidos, dificuldades para sua absorção porque entre suas regras há contradições e incoerências que constrangem e decepcionam professores, alunos e população em geral.
Assinado em 1990, o AO90 reflete o pensamento da educação antiga, baseada no decorar regras e exceções. Requer, portanto, adaptação à didática de hoje, que valoriza o raciocínio lógico e a consciência crítica, fatores que conquistam a juventude atual, cujos horizontes se espraiam para além da sala de aula, ávida de novas experiências, afeita à velocidade das comunicações e das transformações mundiais.
Debate público
A meta alcançável é a construção de um mínimo de regras e um mínimo de exceções para a prática ortográfica, o que trará como outra consequência a valorização da nossa língua no ranking internacional e a abertura de novos horizontes para nossas culturas e nossos países. Exemplo: tivemos uma experiência com um grupo de gestores multinacionais em transferência para a América do Sul. Forçados a aprender uma segunda língua, inclusive para redigir relatórios, 32 entre 40 escolheram o Espanhol ao Português porque nossa grafia é mais complicada.
Desde a publicação do decreto presidencial expondo as novas regras, levantamos nossas vozes e, a Comissão de Educação, Cultura e Esportes do Senado Federal realizou audiências públicas (a que os defensores do status quo negaram-se a comparecer) e conseguiu o adiamento do prazo final para início de 2016, a fim de aperfeiçoar e simplificar o que for possível. Haverá a seguir novas audiências públicas de interesse de todos os cidadãos, e convidamos a imprensa e as redes sociais a exercer com isenção seu papel. Chegou o momento de grandes debates públicos para esclarecimento honesto da população e para darmos um primeiro passo decisivo rumo a um ensino que merecemos, condizente com o século XXI e em benefício dos países e dos povos de língua oficial portuguesa. O caminho? O diálogo amplo, honesto e respeitoso.
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Ernani Pimentel é pesquisador e professor de Língua Portuguesa