Aos 93 anos, morreu Ben Bradlee, o grande editor-executivo do Washington Post em seu período de glória. Comandou o jornal durante a investigação do caso Watergate, que resultou na renúncia do presidente Richard Nixon, em 1974. Bradlee saiu do samba de Cartola: levou a vida a sorrir, pois chorando teria a mocidade perdida. Tinha muitas rugas no rosto, todas rugas do sorriso. Nascido numa família da aristocracia de Boston, passou pela Marinha e daí resultou um personagem que misturava sofisticação com palavrões, encantava jantares e apagava cigarros nas xícaras de café. Nenhum outro diretor de jornal conseguiu tanto sucesso, dividindo-o para baixo e para cima. Bancou e orientou as reportagens dos dois garotos (Carl Bernstein e Bob Woodward) que transformaram uma notinha de plantão no caso Watergate. Ao mesmo tempo, ajudou a transformar Katharine Graham, a dona do jornal, uma dondoca tímida maltratada por um marido maluco, numa leoa, exemplo para a espécie pelo mundo afora.
Bradlee tinha consigo dois segredos. Dum, livrou-se em vida. Contou que nunca acreditou integralmente na história de Woodward segundo a qual marcava encontros com um informante botando jarros de flores e uma bandeira americana na varanda de seu apartamento. A cena estava mais para enfeite.
O segundo segredo, levou consigo. Ele era cunhado de Mary Pinchot, uma mulher linda, a mais inteligente entre todas as amantes do presidente John Kennedy. Ela havia sido casada com um bamba da CIA. Kennedy tomou um tiro na cabeça em 1963 e ela na nuca, em 1964, aos 42 anos. No dia em que Mary foi morta na rua, Bradlee foi à sua casa e lá encontrou o segundo homem da CIA, James Angleton, também conhecido como “o serralheiro”. Angleton procurava o diário da senhora. Achou-o e levou-o. Quando o devolveu a Bradlee, ele leu-o e queimou-o. Nunca contou o que havia nele.
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Elio Gaspari é jornalista