Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Pessimismo na busca de um modelo de negócios viável

Quando o The Brookings Institution – instituição privada sem fins lucrativos dedicada à investigação independente e à inovação em soluções políticas – solicitou ao ex-jornalista dos Washington Post Robert Kaiser que escrevesse um artigo sobre o estado do jornalismo, lhe foi pedido que apresentasse algumas soluções para o mesmo. O texto The bad news about news (As más notícias sobre as notícias) foi publicado na quinta-feira [16/10], no entanto Kaiser alegou que não poderia apresentar soluções ao jornalismo.

Em entrevista ao Instituto Poynter, Kaiser declarou que o processo de criação do artigo o deixou menos otimista do que estava antes de iniciá-lo. Ele disse que é um erro achar que grandes jornalistas e plataformas estão produzindo online e achar que o jornalismo está em forma. Ele alega que ainda não existe um modelo de negócios palpável e que ninguém encontrou um jeito de transformar o jornalismo em algo suficientemente rentável a ponto de isto lhe garantir a sobrevivência.

Segundo Kaiser citou em seu artigo, as leis da economia não podem ser ignoradas ou revogadas. Nem as estatísticas. Apenas cerca de um terço dos norte-americanos com menos de 35 anos lêem jornais impressos (mesmo que apenas uma vez por semana) e estes índices só vêm caindo. “Boa parte dos leitores dos poucos bons jornais remanescentes estão muito mais perto do túmulo do que do ensino médio”, escreveu ele. Kaiser criticou a postura do público jovem atual, que navega pela internet de forma displicente, sem se ater ao conteúdo, na maior parte do tempo buscando diversão e apenas vez ou outra alguma notícia mais séria. Ele observa um apetite decrescente pela informação ao estilo dos velhos jornalões.

Diante de tal perspectiva, Kaiser crê que o jornalismo depende basicamente da passagem de valores e tradições à próxima geração, de modo que se faça sobreviver o interesse no jornalismo tradicional.

Parcos elogios

O jornalista, no entanto, não deixou de elogiar iniciativas como os sites ProPublica e Vox. Mas alertou que a sobrevivência deste nicho depende exclusivamente da vontade das pessoas de pagar por ele, “como um ato de caridade”. E falou que não enxerga um verdadeiro modelo de negócios aí.

Sua conclusão, de fato, é um tanto pessimista: “As notícias tais como as conhecemos estão em risco”, alertou. E culpou diretamente as mudanças na sociedade provocadas pelas tecnologias digitais. Kaiser disse que, como mal começamos a Era Digital, não faz sentido tentar prever exatamente onde isto irá nos levar. “As notícias certamente têm um futuro, mas este não está claro. Nossa única certeza é que estamos jogando luz sobre um novo território”, finalizou.