Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Da mentira ao caos

A revista Veja esteve próxima de concretizar mais um golpe eleitoral. Desta feita, rompeu todos os limites: os de sua moribunda credibilidade e o do bom senso do eleitorado. Mas não estava sozinha; ao derredor do lamaceiro criado pela principal publicação do Grupo Abril havia também a atenciosa TV Globo, aquela que cumpriria papel fundamental, mais uma vez, nos bastidores da política nacional. Por essas e outras é que a televisão conserva ainda um papel de essencialidade na propagação de informações neste país. Entretanto, as mídias sociais foram motores propulsores de um novo debate: aquele em que a notícia ou o fato é confrontado imediatamente com a veracidade das fontes.

Na quinta-feira (23/10) à noite, a notícia-manchete “Eles sabiam de tudo” lançada inicialmente nas mídias sociais tentava colocar freios à campanha de Dilma Rousseff às vésperas do pleito com a certeza de que a candidata petista não teria mais tempo para se defender. Na sexta-feira (24/10), subjugada ao curto espaço de tempo do último programa eleitoral reservado às despedidas e conclamação dos eleitores, Dilma foi obrigada a relatar o assunto que corria as “sete freguesias” desta República causando furor no eleitorado, especialmente nos indecisos. Se Dilma não falasse naquela oportunidade o resultado seria desastroso. Ainda assim, a perspectiva não era das melhores.

No sábado (25/10), o Jornal Nacional resolveu tomar pé da situação; mas isso aconteceu de maneira camuflada. A TV Globo utilizou o quebra-quebra em frente ao prédio do Grupo Abril, em São Paulo, para somente então explorar o assunto. O embate entre Veja e Dilma foi mostrado como agente causador da manifestação. A partir deste momento o eleitor indeciso adquiriu sentido o suficiente para não votar em Dilma. Naturalmente a candidata tinha muito mais o que perder; a Veja lançava mão desta cartada sem precedentes na história da política brasileira.

Caso as grandes emissoras de TV dessem coro à Veja ainda na sexta-feira, não há dúvidas de que Aécio seria o vencedor. Os blogueiros da publicação da Abril apostaram suas próprias calças em Aécio confiantes na vitória pelo sucesso da cartada contra o PT. Não tão convictos assim, outros reforçavam a ideia de impeachment, caso Dilma fosse novamente eleita. A questão é seríssima. A produção de conteúdo jornalístico sério e a ética pela veiculação das informações têm sido agredidas constantemente por Veja. Por isso é preciso aprovar urgentemente uma lei de meios. Não para cassar a liberdade de expressão, como querem fazer ver os grandes oligopólios de comunicação. Não. É por uma fiscalização autônoma e respeitada.

Um fato, ou um factoide

Desde 1989, com Collor e Lula, as organizações de comunicação interferem, segundo seus interesses financeiros e de influência, nas eleições presidenciais. É como se o povo estivesse subjugado aos ideais econômicos das grandes emissoras de TV, rádio e jornal do país. Veja extrapolou todos os seus limites, inclusive foi conduzida ao discurso humorístico pelos militantes, através de jocosas recriações de suas capas. Perda de credibilidade parece não incomodar mais os seus editores. Não se eximem de mergulhar ao submundo do crime para depois emergir com notícias nunca comprovadas. Com o mesmo ódio vociferam os colunistas e repórteres em seus artigos. São capazes de antecipar uma edição em dois dias e estampar na capa uma manchete que, segundo O Globo, não é comprovada pelo advogado de Youssef.

Nos próximos capítulos desta novela idílica de Veja contra o PT, mais desdobramentos da crise de credibilidade da publicação com a ratificação de que o doleiro jamais afirmou o conhecimento de Dilma e Lula sobre a corrupção na Petrobrás. Naturalmente, a revista deve debandar para outras temáticas antipetista como a “nova República bolivariana brasileira” ou o “Brasil cubano”. Há ainda a questão do impeachment da presidenta eleita; o apoio da bancada conservadora, separatista e fundamentalista eleita pelos paulistas. Como os senhores e senhoras podem ler, não faltará assunto para as futuras publicações de Veja. Se faltar, eles não vão pensar duas vezes antes de criar um fato ou um factoide.

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Mailson Ramos é escritor