Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Software criado para monitorar opiniões anti-EUA

Um consórcio formado por grandes universidades americanas, patrocinado pelo Departamento de Segurança Interna dos EUA, está desenvolvendo um software que permitirá que o governo monitore opiniões negativas sobre os EUA ou seus líderes em jornais e outras publicações estrangeiras. De acordo com funcionários da segurança pública, o objetivo do programa é identificar potenciais ameaças à nação.


Pesquisadores de instituições como Cornell, Universidade de Pittsburgh e Universidade de Utah planejam testar o sistema em centenas de artigos publicados em 2001 e 2002, com base em temas como o termo ‘eixo do mal’, usado pelo presidente Bush, política de detenção da baía de Guantánamo, em Cuba, debate sobre aquecimento global e tentativa de golpe contra o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. As universidades receberão US$ 2,4 milhões para desenvolver a pesquisa durante três anos.


Agilizar o processo


Autoridades americanas confiaram por um longo tempo em jornais e outras fontes de notícias para acompanhar tais eventos e opiniões sobre eles, no próprio país e também no exterior – trabalho que incluía a rotina de tradução de artigos de publicações e de agências de notícias estrangeiras. Com o novo software, a tarefa de monitoramento será mais rápida e ajudará o departamento e outras agências de inteligência a identificar ‘padrões comuns de diversas fontes de informação que podem indicar potenciais ameaças à nação’.


Segundo Joe Kielman, coordenador da equipe de pesquisa, pode levar anos para que o sistema de monitoramento seja implementado. Kielman informou que o sistema não monitoraria notícias dos EUA. ‘Queremos compreender a retórica que está sendo publicada e o quão intensa ela é – por exemplo, qual é a diferença entre o desgostar e o execrar’, explica.


Críticas


Só a pesquisa inicial já levantou preocupações entre jornalistas estrangeiros e grupos de defesa da liberdade de imprensa. ‘É simplesmente horripilante e ‘orwelliano’’, opina Lucy Dalglish, advogada e ex-editora que é agora diretora-executiva do Comitê de Repórteres para Liberdade de Imprensa.


Andrei Sitov, chefe do escritório de Washington da agência de notícias russa Itar-Tass, afirmou que espera que o objetivo do projeto não vá além de identificar ameaças. ‘O que enobrece o país é uma sociedade aberta onde as pessoas podem criticar seu próprio governo’, defende.


Como leis federais proíbem que o Departamento de Segurança Interna dos EUA e outras agências de inteligência mantenham bancos de dados com informações de cidadãos americanos, o porta-voz do departamento, Christopher Kelly, assegurou que, no projeto, serão armazenadas apenas matérias jornalísticas, e não dados pessoais dos cidadãos. Informações de Eric Lipton [The New York Times, 4/10/06].