Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Predadores em ação

A IstoÉ voltou a atacar. E para justificar o atributo autoconferido de ‘independente’ fingiu que investia contra o governo. Puro lero-lero.

As primeiras rajadas, de experiência, foram dirigidas contra a Fundação Biblioteca Nacional sediada dentro do vulnerável Ministério da Cultura. Agora o semanário aumentou o calibre e mirou num alvo portentoso: o presidente do Banco Central Henrique Meirelles e um dos seus auxiliares, o diretor do BC Luiz Augusto Candiota. Atrás deles, o mentor da política econômica: Antônio Palocci.

Nos dois casos, a mesma acusação (sonegação fiscal e evasão de divisas); fonte idem, mesmíssimo beneficiário, intermediário e interesse. O alvo não é o governo, mas uma parte do governo. E a parte menos petista ou mais ‘liberal’ do governo.

Não cabe a este Observatório imiscuir-se neste novo lance da intrigalhada palaciana. A tarefa cabe aos comentaristas políticos e a alguma das facções do jornalismo investigativo nativo. Mas é imperioso discutir o papel de determinados veículos nesta luta de foice entre os grupos que disputam a hegemonia nos bastidores do poder. Se a imprensa é uma questão de interesse nacional, como foi repetido por altos figurões antes do Pró-Mídia, a movimentação de certos órgãos de imprensa não pode ficar sem os devidos reparos.

Neste quadro, indispensável identificar na presença do empresário Mario Garnero (Brasilinvest), hoje bastante próximo da Casa Civil, um dos pólos do embate palaciano. O empresário transita hoje com grande desembaraço e nenhuma discrição no processo decisório do semanário como também em outros veículos da imprensa vermelha ou seja, a imprensa tecnicamente quebrada, no vermelho.

Duelo de mandões

Nesta avaliação, convém debruçar-se com mais atenção sobre as denúncias veiculadas pela Folha de S.Paulo sobre a arapongagem da empresa Kroll Associates nos negócios & pendências da Brasil Telecom e verificar os seus alvos: o presidente do Banco do Brasil Cássio Casseb (área do ministro Palocci) e o ministro Luiz Gushiken (que opera em faixa própria).

O móvel da Folha evidentemente é diferente da IstoÉ – o jornalão opera em outro nível. Neste momento precisa mostrar que as suas velhas garras e o seu antigo poder de fogo não foram afetados pelo gigantesco corte de 40 jornalistas no seu quadro de funcionários.

Indispensável, igualmente, acompanhar a movimentação do Jornal do Brasil na cobertura de mais um escândalo envolvendo o banqueiro Daniel Dantas. O dono do Opportunity, apontado como mandante da espionagem, é inimigo figadal de Nelson Tanure, comandante efetivo do JB e com o qual o empresário Mário Garnero também tem vinculações.

Significa que a imprensa continua tirando vantagens e beliscando as sobras das brigas entre os grandes interesses e os interesses contrariados. Assim foi em todos os escândalos produzidos pelo ‘jornalismo fiteiro’ ocorridos a partir de 1988. No faroeste entre mandões e seus oponentes, a imprensa não chegou a desempenhar o papel de vilão – era apenas o ignóbil pau-mandado.

Informação acrítica

Em favor da instituição jornalística é preciso registrar um dado positivo: acabou o pool do escândalo, o barulho encomendado, a repercussão antecipada, a suíte do que ainda não aconteceu. Antes, todos entravam com o mesmo apetite, certos de que seriam aquinhoados na próxima distribuição de grampos e vídeos.

Até recentemente, as denúncias mais espetaculares eram distribuídas na íntegra, simultaneamente, aos principais veículos – mesmo concorrentes – e disponibilizadas na internet com bastante antecedência (em geral, nas quintas-feiras). Desta vez, o release investigativo distribuído pela IstoÉ produziu algum ruído apenas nos sites noticiosos da internet, obviamente sempre mais receptivos. Na chamada grande imprensa o ‘furo’ já estava desqualificado antes mesmo de a revista chegar à casa dos assinantes.

De qualquer forma, a imprensa continua desempenhando um papel pouco digno. Sobretudo porque trabalha com a informação de forma acrítica. Preocupa-se apenas com o conteúdo da ‘denúncia’ e menospreza algo tão importante quanto ele: o vazamento. Na ânsia de divulgar a acusação deixa de lado a forma com que o petardo foi armado e disparado.

Má consciência.