Em algum outro Estado do Brasil houve tanta contratação de institutos de pesquisas para fazer sondagens eleitorais como no Pará? Uma ligeira verificação chega a resultado negativo. O Pará bateu todos os recordes nesta dupla eleição. O espantoso não foi só a quantidade dos institutos, mas os desacertos, confusões e singularidades no pedido dos contratantes e na prestação do serviço.
O grupo Liberal tinha a exclusividade do Ibope, o mais antigo e o de maior credibilidade, por isso o mais caro. No entanto, recorreu a entidades sem essa expressão, como o Doxa, e ainda sonegou no jornal a divulgação dos resultados, quando eles desagradaram os Maiorana. Por imposição da Globo à sua afiliada, a TV Liberal teve que fazer a divulgação. Na adversidade da empresa, sem o destaque e a extensão que o fato merecia.
O grupo RBA podia ter recorrido ao outro instituto de importância nacional, o Datafolha, mas como o objetivo não era espelhar a realidade no momento da pesquisa, preferiu trabalhar como entidade local, sujeita, como no âmbito dos Maiorana, aos humores do contratante.
Como resultado dessa leviandade, o eleitor chegou confuso para votar. Se alguém lhe pedia a opinião sobre o resultado, ele, sinceramente, não sabia o que dizer. Muitos apenas expressavam o seu desejo, não o esforço reflexivo de análise. Estavam demonstrados o zigue-zague das pesquisas na imprensa desnorteou a quase todos, exceto os que manobravam os cordéis nos bastidores, com as pesquisas qualitativas privativas.
A eleição vai se tornando assim uma manobra eleitoral, em que têm maiores possibilidades de êxito aqueles que dispõem de mais dinheiro para contratar as pesquisas privê, as agências, os marqueteiros e de órgãos de imprensa atrelados aos seus interesses.
A situação se tornou caso de política e de justiça. O TRE não pode ser mais o destinatário inerte, que se limita às formalidades ao fazer o registro das pesquisas. Deve saber-lhe o primeiro teste sobre a consistência do trabalho antes de sacramentá-lo. A justiça eleitoral tem que dispor de estrutura técnica permanente para fazer essa checagem, prevenindo o uso desonesto de um instrumento que pode fraudar o desejo e a aspiração do eleitor, viciando o processo eleitoral e sangrando a democracia.
Se constatada a má fé da pesquisa, esse fato deve dar início imediato a um processo criminal contra os responsáveis pelo Ministério Público, também um observador passivo das fraudes mais escandalosas apontadas no curso da campanha eleitoral deste ano. Assim, fica-se sem saber se essas manobras influíram no resultado da votação e em que profundidade. O regime democrático não tolera essas dúvidas.
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Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)