Imaginem a seguinte situação:
O PSDB faz uma descoberta impactante, na arena internacional.
Autoridades federais fazem uso da descoberta do PSDB para iniciar uma investigação geopolítica. Citam o PSDB como o herói descobridor da mutreta.
O PT pega o documento do PSDB, arranca dele o nome dos tucanos. E publica na revista do partido a história como tendo sido denunciada, em primeira mão, pelo PT.
Qual seria a manchete da revista Veja?
Seria uma capa acusando o PT de estelionato, roubo, má-fé, adulteração de documento público, e mais o escambau a quatro.
Pois bem: a revista Veja desta semana fez tudo isso comigo. Vou dar os detalhes em seguida.
Antes um disclaimer: nada tenho contra a Veja. Iniciei minha carreira de repórter ali, nos anos 80. E, no ano passado, convenci meu velho amigo Romeu Tuma Jr. a que dessa a Veja a exclusividade de nosso livro “Assassinato de Reputações: um crime de estado”.
Lançado pela editora Topbooks, em 11/12/13, nosso livro vendeu 140 mil cópias. E ficou por 17 semanas em primeiro lugar na lista dos mais vendidos de… Veja!
Tuma Jr. e eu escolhemos Veja porque, com todos os graus de octanagem contidos na obra, a revista seria a única a dar o destaque merecido a um livro que reduz o PT a pó de traque. A revista tem um pedigri de “cojones”, não?
Mas quando se tratou de enaltecer “los cojones” alheios, a revista agiu como o mais sórdido petismo: que é a chamada tática da pernada de anão.
Vamos aos fatos.
Sem crédito
Este blog teve seu início a 14 de abril passado. Já nasceu com um rombaço: acusações da família Maksoud de que o patriarca era mantido em cárcere privado pela companheira, uma manicure. Dois dias após a publicação, Henry Maksoud morreu.
https://br.noticias.yahoo.com/blogs/claudio-tognolli/batalha-da-cut%C3%ADcula-214524192.html
O caso ribombou em todas as mídia, da Veja ao Fantástico, Globo, Estadão etc. Uma colunista da Folha de S.Paulo chegou a me telefonar algumas vezes em busca de dados: para no outro dia publicar o caso como se fosse furo… dela!!!
Normal: jornalismo é a lei da mão gorda. Um dos raros axiomas respeitado por nossos jornalistas, em geral, é o de que, em redação, jamais se entrega o leite ao concorrente…
Vamos agora ao dia em que a Veja virou PT…
Este blog há uma semana noticiou com exclusividade que Elías Jaua, vice-presidente setorial do Desenvolvimento do Socialismo Territorial da Venezuela e titular do Ministério das Comunas, esteve aqui para treinar os militantes do MST.
Trouxemos também a carta que ele foi obrigado a escrever, pedindo desculpas por ter plantado seu revólver em sua babá, para poder invadir o Brasil armado, e assim, quem sabe, dar aulas de tiro ao alvo para o MST.
A mídia reverbera nosso furo uma semana depois informando hoje que o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, chamou na quarta-feira passada o encarregado de negócios da Venezuela, Reinaldo Segóvia, para manifestar a insatisfação do governo brasileiro com as atividades do vice-presidente e ministro para o Poder Popular das Comunas e Desenvolvimento Social, Elías Jaua, no Brasil.
Na Veja dessa semana há várias páginas sobre o caso descoberto por esse blog.
Ótimo! Faz bem ao Brasil.
A revista Veja traz o documento do delegado federal Enio de Paula Salgado, pedindo que se investigue o caso.
Recebi quarto e-mails de jornalistas venezuelanos. Perguntaram-me, neste domingo, se o documento de Veja era falso.
Redargui, indignado:
– Como? A revista Veja tem total credibilidade, é a única mídia que faz oposição no Brasil…
Uma repórter venezuelana me devolve, seca e direta:
– Mas o teu furo do caso no Yahoo data de 29 de outubro passado. E o documento do delegado que a Veja publica este domingo data de 25 de novembro de 2010…
Consultei nesta segunda-feira [10/11] três fontes diferentes na PF: o documento que Veja publicou é verdadeiro. O computador do delegado errou a data. Só isso.
Telefono então para meus amigos venezuelanos. Que me mandam a íntegra do documento da PF. Leia com atenção: as investigações da PF, e do Itamaraty, só foram iniciadas por causa deste blog:
http://www.lapatilla.com/site/wp-content/uploads/2014/11/Jaua-ninera-5.jpg
Maldosamente, os editores de Veja alijaram o documento oficial para, como se diz, não “pagarem um pau” a um jornalista concorrente.
Alteraram um documento oficial, na base do recorte, para não dar crédito a outrem.
Sniff… Snifff… Snifff… Ó vida, ó dor!!!!
Tudo bem: os jornais da Venezuela publicaram o documento sem recortes…Viva los hermanos bolivaristas!!!!
Imaginem agora se o PT tivesse feito o mesmo contra o PDSB? Veja iria pedir uma CPI, não?
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Claudio Tognolli é jornalista