Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘Time’ provoca polêmica ao sugerir que termo deveria ser banido

A revista Time publica, desde 2011, um questionário online perguntando aos leitores que palavra deveria ser “banida” do vocabulário no ano seguinte. A pesquisa é uma brincadeira, fazendo piada com termos usados em excesso na internet. Dentre os vencedores das edições anteriores figuraram “OMG” (acrônimo em inglês para a expressão “Ai, meu Deus”, muito usada por adolescentes); “YOLO” (acrônimo em inglês para a expressão “Só se vive uma vez”, normalmente usada pouco antes de comportamentos de risco); e “twerk”, o movimento dos quadris popularizado pela cantora Miley Cyrus.

A edição para banir a palavra de 2015, no entanto, trouxe uma polêmica infeliz. Em meio aos termos de sempre usados à exaustão na rede – como “literalmente” (normalmente empregado pelos jovens de maneira um tanto equivocada) ou “on nom nom” (onomatopeia muito adotada em legendas de fotos de um bichinho fofinho, por exemplo) – apareceu a palavra “feminista”.

A justificativa da Time foi a seguinte: “Nada contra o feminismo em si, mas quando é que ele se tornou algo sobre o qual todas as celebridades precisam se posicionar, como se fossem um político declarando o partido? Vamos nos ater às questões que importam e parar de usar este rótulo como se fosse papel picado num desfile de homenagem a Susan B. Anthony [feminista notória que atuou entre o fim do século XIX e o início do século XX]”.

A ousadia da Time, no entanto, causou controvérsia e obrigou a revista a se explicar em seu site. Em nota, a editora-chefe da revista, Nancy Gibbs, pediu desculpas e declarou que o termo nunca deveria ter sido incluído em uma lista de palavras dignas de proibição. “Embora houvesse a intenção de convidar ao debate sobre alguns aspectos em que a palavra foi usada este ano, tal nuance foi perdida, e lamentamos que sua inclusão tenha se tornado uma distração da importante discussão sobre igualdade e justiça”, concluiu Nancy.

Protestos

Escritores, jornalistas e blogueiros se manifestaram contra a postura da Time. A escritora Roxane Gay publicou um artigo no Washington Post questionando em qual universo seria ruim que figuras públicas se declarem feministas. Roxane disse que isto só seria permitido quando os problemas relacionados aos direitos das mulheres não existissem mais.

A blogueira americana Amanda Marcotte se manifestou no site Slate; classificou de “feia e maldosa” a sugestão de que mulheres devem se envergonhar de se identificar como feministas. Ela também foi um pouco mais agressiva e referiu-se à Time como “a revista lida por nossos avós”.

Berto Scalese, do BostonDotCom, comparou o banimento da palavra “feminista” aos episódios de queimas de livros da Santa Inquisição. Já Emma Gray, do Huffington Post, classificou a postura da revista como “incompreensível”.

Política do século

Em artigo publicado no próprio site da Time, Robin Morgan – escritora feminista e cofundadora da organização Women’s Media Center – disse compreender a tentativa dos editores da revista de fazer humor, mas afirmou que, mesmo assim, não se sentiu confortável com o questionário.

Robin reiterou que, em sua concepção, o feminismo significa algo mais profundo. “Significa libertar uma força política: o poder, a energia e a inteligência de metade da espécie humana até então ignorada ou silenciada. O feminismo, para mim, é a política do século”.

O resultado da votação seria divulgado na quarta-feira [19/11], mas até a manhã de quinta-feira [20/11] não podia ser encontrado no site da revista.