Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Reflexões sobre mobilidade e liquidez

Vivemos em constantes mudanças e uma delas foi a inserção dos dispositivos móveis e da internet no nosso cotidiano. O que era ausente e distante ficou mais perto, presente e real. Na era da mobilidade, em se tratando de jornalismo móvel, a mudança provocou novas formas de fazer jornalismo. Além de mudanças nos aspectos da rotina de produção e construção da notícia através de ambientes móveis, os dispositivos utilizados reconfiguraram as linguagens e os leitores.

O leitor imersivo, como denominou Maria Lúcia Santaella, navega por lugares desconhecidos e por vezes se perde do foco inicial. Ainda precisa se adaptar. A hipermídia permite a leitura em camadas a partir da estruturação do texto em forma de pirâmide deitada, como representou o pesquisador João Canavilhas. Na informação online, a leitura é feita de forma seletiva e não contínua e os conteúdos provavelmente não serão relidos ou reinterpretados como os textos dos séculos passados (LÈVY, 1993).

A notícia em tempo real condensa o tempo presente e nos permite o acesso imediato. Com o passar do tempo, ela se torna obsoleta devido ao fluxo de acontecimentos instantâneos. Quantas vezes apenas tomávamos conhecimento de uma notícia tempos depois da sua ocorrência? Hoje a instantaneidade nos deixa a todo tempo online nas diversas situações. Para se adaptar ao imediatismo e mobilidade do jornalismo, as empresas optam pela publicação das notícias em tempo real nas suas páginas online e nas redes sociais. Com um dispositivo móvel, um sistema operacional e algum aplicativo, temos acesso a qualquer informação. As visualizações são rápidas e o compartilhamento do que se leu ultrapassa a arquitetura desses ambientes. Contudo, esse fator nos faz questionar até que ponto o valor notícia é considerado. Mas deixemos essa questão para outro momento.

À mão

A comunicação volátil, híbrida e ubíqua nos permite também compreender o processo de convergência e a lógica da internet das coisas. Essa realidade já está intrínseca em nosso cotidiano e a todo momento nos deparamos com situações que ensejam a relação da tecnologia e nossas ações.

Estamos automatizados e híbridos. Dispositivos como tablets e smartphones são recursos emergentes na produção do jornalismo em multiplataforma. Essa rotina mutante do jornalismo carrega consigo a premissa de atualização constante e produção de conteúdos inéditos para publicação. Do contrário, a mobilidade perderia sua essência. Por fim, podemos afirmar que a mobilidade proporcionou maior interatividade e participação, seja na leitura e no compartilhamento de opiniões por parte do público, ou na produção da notícia pelos profissionais da mídia. As redações integradas representam bem um ambiente de interação e também de adequação aos diversos suportes.

Visualizamos assim um continuum midiático, cada vez mais indissociável e na palma da nossa mão.

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Mariana Pimentel é jornalista