É um motivo de orgulho para os americanos que suas publicações de alta cultura, crítica e jornalismo investigativo sejam tão sólidas, boas e longevas. Para lembrar apenas as mais famosas: The Atlantic tem 157 anos, The Nation aproxima-se dos 150, The New Republic vai fazer um século e The New Yorker chegou aos 89.
Prova da importância atribuída nos EUA a tais publicações é o fato de um dos principais cineastas do país, Martin Scorsese, ter-se dedicado a fazer um documentário em homenagem aos 50 anos do ótimo jornal quinzenal The New York Review of Books, completados em 2013.
The 50 Year Argument, codirigido por David Tedeschi, atém-se a três argumentos: a importância do intelectual para a vida pública, a perseverança do Review em aproximar a intelligentsia da sociedade e a utilidade para a democracia de uma crítica e de um jornalismo independentes, aprofundados e bem escritos. Numa forma um tanto convencional, mas nunca tediosa, o filme demonstra que o Review nunca foi uma torre de marfim. Ao contrário, procurou sempre engajar seus colaboradores – em grande parte acadêmicos e escritores – com as questões centrais de seu tempo.
Há no documentário vários exemplos dessa atitude editorial, como a publicação do polêmico relato da escritora Mary McCarthy sobre a Guerra do Vietnã, feito in loco. A nata da intelligentsia dos EUA desfila em The 50 Year Argument: de Susan Sontag a Stephen Jay Gould; de Isaiah Berlin a Noam Chomsky; de Robert Lowell a Norman Mailer. No centro da cena está Robert Silvers, 84, que comanda o jornal desde 1963. Notável editor, sereno e arguto, atento e exigente, foi graças a ele que o Review pode cumprir a exigência de T.S. Eliot (citada no filme): “A função da crítica é ser o mais inteligente possível”.
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Alcino Leite Neto é articulista da Folha de S.Paulo